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Análise: Dead or School (Multi) mistura ingenuidade e ação frenética em um mundo apocalíptico

Prepare-se para enfrentar hordas de infectados na base de muito tiroteio e pancadaria no melhor estilo anime.


Dead or School lembra o clássico gênero shonen (publicações voltadas para os jovens) dos mangás e animes. Ele traz elementos de personagens característicos desse estilo: um protagonista ingênuo, um grande objetivo em sua jornada e uma série de embates no meio desse caminho. Aqui representado por Hisako, acompanhamos sua luta constante para retomar o controle da superfície, atualmente devastada por uma guerra entre a raça humana e um exército de mutantes. Confira o resultado dessa experiência logo abaixo.

Tóquio devastada

A história do jogo retrata o surgimento de infectados chamados de mutantes. São criaturas que, em sua forma mais básica, lembram os famigerados zumbis dos filmes e jogos de terror. Esses seres chegaram de locais subterrâneos na região do Japão, decididos a se alimentar e contagiar o máximo de pessoas. Uma guerra foi travada por sobrevivência e os seres humanos acabaram levando a pior na disputa.



Esse desfecho obrigou os papéis a se inverterem: os poucos sobreviventes tiveram que se abrigar na parte subterrânea da cidade, principalmente no emaranhado de túneis das principais estações de metrô, enquanto os mutantes dominavam e se proliferavam cada vez mais pela superfície de forma absoluta.



Esse período perdurou por muitos e longos anos, criando três gerações de descendentes da raça humana:
  • A primeira geração, representada por aqueles que vivenciaram o pior momento do terror durante o início e o término da grande guerra dos infectados. Esses sobreviventes não foram só derrotados, mas perderam direito a tudo na vida, desde seus pertences a questões básicas como andar livremente ou simplesmente ver a luz do sol, abdicando de tudo o que lhe era comum e precioso para se adaptar a uma nova vida na escuridão do subsolo.
  • A segunda geração é composta pelos filhos desses sobreviventes da grande guerra. São pessoas que, na sua grande maioria, não sabem o que era viver normalmente no mundo que conhecemos. Embora alguns tenham experimentado um pouco dessa sensação quando ainda eram crianças, a busca urgente por estruturar uma nova civilização em um novo ambiente os levou a ignorar completamente essa antiga realidade, deixando-a de vez no passado.
  • A terceira geração são os netos daqueles que perderam a guerra. São jovens que conhecem apenas a vida como ela é nos túneis e estações de metrô. A realidade de antigamente é narrada apenas em forma de contos pelos mais antigos. Entretanto, uma inquietude resultante da curiosidade em redescobrir o mundo da superfície gera um ar de coragem e esperança em explorar novos locais.




O terror dos infectados

É justamente na terceira geração que se encaixa nossa protagonista. A jovem Hisako é apenas uma pré-adolescente de longos cabelos ruivos, filha da líder de um dos grupos de sobreviventes. Misteriosamente, ela demonstra grande proficiência em combate armado, surpreendendo até mesmo sua mãe e avó. Esse talento é descoberto em meio a uma situação crítica, quando Hisako se depara com duas jovens tentando se aventurar em um antigo elevador que levava para um local próximo da superfície.



Indecisa sobre dedurar suas amigas ou simplesmente ignorar a situação, Hisako parte para resgatá-las, ciente do perigo eminente que corriam. A chacina de zumbis tem início no momento crítico da situação, quando as jovens estavam prestes a ser devoradas e toda a ação é presenciada por seus familiares. Mesmo sabendo dos perigos da superfície, a ruiva não deixa de manter a curiosidade sobre esse “novo mundo”. Sua avó, uma das poucas sobreviventes da primeira geração, decide contar à menina um pouco da sua rotina, mais precisamente de um local conhecido como escola, onde diversas crianças se juntavam, tornavam-se amigas e aprendiam juntas.



É nesse momento que a anciã decide presentear sua neta com seu antigo uniforme escolar, um tesouro que remete a momentos felizes que morreram na guerra. Inspirada pelos relatos e na expectativa de encontrar um lugar tão divertido quanto a tal escola, ela decide vestir o uniforme de sua avó, simbolizando a promessa de extinguir os mutantes de todo o lugar e encontrar o tão sonhado colégio. A contragosto de sua mãe e líder do grupo, nossa jornada no controle da heroína de cabelos ruivos tem início.



Ingenuidade, pureza e altas doses de violência

Iniciamos na estação de Shinjuku, nos deslocando através de um trem customizado pelos sobreviventes, e é nessa estação que conhecemos a primeira pessoa fora do bando. Yuriko faz parte de um grupo chamado de Investigadores da Civilização, que na prática funciona como historiadores responsáveis por resguardar os registros da vida na superfície. A mulher de aparência adulta é salva por nós quando estava prestes a ser comida por algumas criaturas. Surpresa com o potencial de Hisako e animada com a ideia de conhecer novos lugares, ela decide nos acompanhar. A partir daí, viajamos por outras estações reais na região japonesa.

É nesse princípio que o jogo se baseia. Percorremos diversas estações do Japão, enfrentando novas ameaças, resgatando novos sobreviventes para se juntar ao nosso grupo e encontrando relíquias de gerações passadas. Os mapas de cada estação são vastos e repletos de pessoas e itens a serem localizados, em um estilo que lembra jogos como Castlevania: Symphony of the Night e Super Metroid.

O visual mistura elementos 3D e 2D, mas as cutscenes em CG têm uma qualidade baixa, que lembra jogos do PlayStation. O título baseia a arte de seus personagens nas animações orientais. Muitas vezes, ocorre até um certo apelo visual à sensualidade da protagonista e de outras figurantes, muito comum nesses tipos de animação.



Achei que o jogo teria cenários repetitivos por se basear nas estações de metrô, mas elas até que apresentam uma boa diversidade por ser tratar de uma via de transporte vital no Japão. Passamos por algumas delas interligadas a grandes shoppings, instalações militares, entre outras localidades. A tarefa de exploração me agradou bastante. Os itens ficam todos marcados pelo mapa, algo que diminuiu um pouco o desafio, mas que é rapidamente compensado com as hordas de monstros prestes a te atacar.



E por falar nesses seres grotescos, eles possuem uma grande variedade. Dos lerdos e numerosos zumbis, passamos por criaturas voadoras, brutamontes que parecem verdadeiros tanques ambulantes e gigantes que lembram os Hollows da série animada Bleach. Alguns deles se repetem em cores que representam seu nível de poder, mas ainda assim o jogo permanece na média de reciclagem de inimigos, se compararmos a outros títulos.



O roteiro pode parecer fútil e improvável, mas se olharmos algumas obras animadas, percebemos que o enredo está longe de ser algo absurdo. Pelo contrário, o contexto histórico que antecede o início da jogatina é impressionante e foi bem detalhado através dos muitos diálogos durante o jogo.

É aqui que a protagonista tem seu destaque: em um cenário onde as pessoas conhecem apenas crueldade, medo e pobreza, é na ingenuidade e esperança indomada de Hisako que reside a saída dessa situação caótica. É interessante ver sua postura em meio a situações difíceis, surpreendendo até seus companheiros.

Os desenvolvedores poderiam evitar o impacto negativo da qualidade do 3D ao apostar mais no estilo das animações japonesas.


Guerreira escarlate

Hisako é uma combatente muito versátil e habilidosa. Durante as contendas, a jovem leva consigo armamentos para o combate corpo-a-corpo como espadas e machados,  e armas de fogo, como pistolas, rifles, metralhadoras, entre outras. O terceiro equipamento envolve itens de grande poder destrutivo: bazucas, lança-granadas, canhões acoplados no braço, e muito mais.

Cada opção aqui tem seu charme, e cada jogador pode facilmente pender para uma das três. Pessoalmente, eu  foquei em me especializar nas armas brancas, mas isso não significa isenção da necessidade de recorrer às outras classes. O level design é variado, e serão muitas as situações em que vai ser favorável eliminar o alvo à distância ou limpar grupos de inimigos com um grande tiro explosivo.

Para tornar nossa protagonista ainda mais mortal, temos um esquema de RPG onde subimos de nível ao eliminar criaturas, aumentando nosso poder e garantindo um ponto para gastar nas três árvores de habilidades disponíveis (uma para cada tipo de armamento), que envolvem novos movimentos e melhora de atributos.

Novamente, você pode focar em sua preferida, mas eventualmente conseguirá aprender tudo de uma única vertente, já que completar tarefas secundárias, que envolvem eliminar alvos ou achar itens especiais, muitas vezes concede esses pontos como recompensa.



O jogo ainda traz um sistema de melhora das armas obtidas. Cada equipamento apresenta dois espaços, que podem ser preenchidos com itens especiais. Os efeitos variam entre cada item: de aumento dos atributos da personagem a condições especiais, que envolvem lançar granadas ao atacar ou invocar um robô que dispara projéteis durante as lutas.

As armas também possuem seus atributos básicos, que podem ser aprimorados até o nível 10 ao gastarmos engrenagens e dinheiro nas estações de salvamento ou dentro do trem. Ainda temos a opção de adicionar efeitos associados à arma, através do uso de engrenagens de modificação.



Hisako ainda conta com uma espécie de poder escondido: conforme sofre dano, seu uniforme escolar fica danificado. Quando a vida da personagem fica próxima do fim, uma pequena cena mostra seu uniforme despedaçando-se. Isso provoca um estado de fúria na jovem, que deixa todos os seus atributos elevados.



A movimentação pelo mapa e durante as lutas é bem acelerada podemos correr, usar pulos duplos e uma esquiva que, quando executada no momento certo, deixa todos os monstros da tela em câmera lenta e abertos para receber muitos ataques. Não pense que você pode agir de forma descontrolada, pois fazer uso dos recursos de movimentação consome sua barra de stamina. Deixar que ela esgote causa uma penalidade no seu tempo de recarga, o que pode representar um grande perigo, dependendo da situação.
As armas também sofrem desgaste conforme utilizamos e o reparo é feito automaticamente nos pontos de salvamento.


Serão diversas ocasiões em que estaremos em locais repletos de infectados. Algumas delas é possível ignorar, já outras formam uma espécie de bloqueio que te obriga a eliminar todos os alvos antes de continuar. A dificuldade dos inimigos é moderada, sendo essencial estudar seus movimentos para saber o momento certo de atacar. Além disso, cada oponente também carrega um nível de poder, e enfrentar alvos muito fortes é uma tarefa quase impossível. Caso o nível de dificuldade esteja muito elevado, é possível ajustar em três opções: fácil, normal e difícil.


Ir para a escola nunca foi tão divertido

Dead or School mistura elementos de hack and slash e exploração metroidvania, gêneros com um grande público cativo. Por isso, suas chances de agradar são altas. Os gráficos do jogo são simplórios, mas esse elemento virou um charme dos jogos indies. A única falha que tive durante minha experiência foi um travamento que me obrigou reiniciar a luta contra um chefe bem difícil, mas foi algo isolado e que não comprometeu minha diversão.



O título da Marvelous pode não ser sua primeira opção, mas certamente vale uma conferida por trazer um mundo apocalíptico diferenciado e a clássica protagonista super poderosa e inocente que, apesar do clichê, nunca cansamos de ver.

Prós

  • Ação empolgante e desafiadora;
  • Protagonista carismática;
  • Sistema de customização e aprimoramentos bem construído;
  • Exploração leve, mas que consegue manter o jogador engajado.

Contras

  • Cinemáticas de baixa qualidade;
  • Sem localização para o português.

Dead or School — PS4/Switch/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS4

Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Marvelous


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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