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Análise: Exit the Gungeon (Multi) traz uma fuga frenética na forma de plataforma 2D

O spin-off transforma a aventura do Balabirinto em um título de ação 2D intenso e com muitos tiros na tela.


Enter the Gungeon conquistou inúmeros jogadores com sua aventura de ação e dungeon crawling com aspectos de roguelike bem produzida, com muito humor e bastante conteúdo. Agora os exploradores precisam fugir do labirinto no spin-off Exit the Gungeon, que transforma as ideias e os conceitos do primeiro título em uma frenética experiência de ação 2D. O novo jogo conta com uma pegada mais arcade e partidas mais rápidas, mas sem deixar de lado a essência da série com o caos divertido e irreverência. Lançado inicialmente no serviço Apple Arcade, o título chega agora a mais plataformas.

Uma fuga complicada

Em Enter the Gungeon, quatro diferentes exploradores foram até o Balabirinto, um local que, segundo as lendas, guardava uma arma capaz de “matar o passado”. Os heróis enfrentaram os inúmeros perigos do calabouço, encontraram o tal artefato e conseguiram alterar seus passados. Mas essas ações criaram um paradoxo temporal que comprometeu as estruturas do Balabirinto, que agora está desmoronando. Sendo assim, agora os exploradores vão precisar fugir do labirinto e, naturalmente, muitos perigos os aguardam pelo caminho.


Exit the Gungeon abandona a exploração de calabouços do anterior em prol de uma experiência de ação e tiro 2D com pegada arcade. Na pele de um dos Balexploradores, o objetivo é fugir do labirinto por meio de elevadores. Cada trecho funciona como uma pequena arena, sendo necessário derrotar ondas de inimigos para prosseguir. Pelo caminho é possível encontrar itens com efeitos diversos e outros personagens que oferecem algum tipo de ajuda. E, como é de praxe, no fim de cada área há um chefe poderoso.

O twist deste spin-off é o seu sistema de armas, que é inspirado em uma mecânica do original. No começo de cada partida, a Sacerdotisa lança uma magia na arma do protagonista, o que faz com que o tipo de armamento mude automaticamente de tempos em tempos. Em um momento estamos com uma simples pistola, depois ela se transforma em um bloco que lança cascos de tartaruga, em seguida ela vira um laser congelante, e assim por diante. Um medidor de combo aumenta conforme derrotamos inimigos, e o valor influencia as transformações: um combo longo significa que uma arma poderosa pode aparecer. Destreza é essencial, pois basta levar dano uma única vez para zerar o combo.


Uma enxurrada de balas que tomam conta da tela é marca registrada da série, e isso também está presente em Exit the Gungeon. Inúmeros projéteis em configurações complicadas infestam os estágios do jogo, e o tamanho reduzido das fases deixam as coisas bem intensas. Para escapar, os heróis contam com uma cambalhota como movimento de esquiva, que os deixa completamente invencíveis durante sua execução. A novidade é que ela pode ser feito verticalmente na forma de saltos com a limitação de não poder atirar no meio do ar.

Desta vez, o caminho é predeterminado: salvo a primeira área, cada personagem conta com uma rota com estágios distintos. Mesmo assim, ainda existem elementos aleatórios, como os chefes e NPCs que aparecem pelo caminho, e o layout de algumas salas. Entre as tentativas é possível liberar armas e itens para as partidas futuras, assim como roupas e chapéus para os heróis.


Lutando freneticamente contra a aleatoriedade do Balabirinto

Tentar sobreviver a inúmeras fases de plataforma e tiro em Exit the Gungeon é bem divertido por causa da ação sempre frenética e a temática maluca. Cada estágio apresenta situações intensas com inúmeros inimigos, balas para todo o lado e complicações no cenário. No início tive dificuldade em entender o que estava acontecendo e logo morria, no entanto, com o passar do tempo, entendi como os padrões de ataques funcionam e dominei melhor a esquiva, o que me permitiu até mesmo terminar o jogo várias vezes.

Há boa variedade de estágios nessa fuga do Balabirinto. Algumas arenas são simples elevadores, já outras contam com elementos elaborados interessantes. Um trecho consiste uma plataforma que pode ser controlada com botões no chão para escapar de perigos que vêm de cima. Já em outra rota, partes do chão são sustentadas por balões, que estouram e criam buracos. Há também partes de progressão lateral, como uma fase em que precisamos escapar de um grande monstro indo para a direita e outra que acontece em um trem em movimento.


A mecânica de armas escolhidas de forma aleatória forçam readaptação constante. Isso também traz variedade às partidas, pois é impossível saber o que vem pela frente. Achei divertido experimentar tantas armas malucas em um curto intervalo de tempo, e novos tipos de armamento são liberados constantemente, trazendo mais possibilidades. No entanto, há alguns problemas com essa abordagem sem controle. O balanceamento da aleatoriedade deixa a desejar e mesmo com um combo alto aparecem equipamentos medianos. As armas de carregar, em especial, não são muito boas por causa da sua lentidão, sendo inviáveis em fases que têm muitos inimigos. Com o tempo eu aprendi a lidar com a imprevisibilidade, mas às vezes o balanceamento mediano deixa as partidas desagradáveis.

O ritmo é ágil e perfeito para sessões rápidas, pois cada partida dura por volta de 20 minutos. Há boa quantidade de conteúdo para desbloquear e alguns segredos, por mais que aqui esteja presente somente uma pequena parcela das armas e equipamentos do Gungeon original. Senti que a seleção não é tão diversa: muitos itens têm efeitos simples, como aumentar a vida ou poder de ataque, sem as várias sinergias do original. No início isso traz uma sensação de repetição, mas conforme mais conteúdo é liberado as partidas ficam um pouco mais diversas e interessantes. A temática divertida se mantém, com armas malucas, personagens estranhos e diálogo bem humorado. Os visuais e a música são majoritariamente reaproveitados do anterior, mas há alguns inimigos e chefes novos bem interessantes.


Exit the Gungeon tem ideias simples e bem aplicadas, mas alguns detalhes atrapalham a experiência. Muitas vezes o visual fica confuso por causa da grande quantidade de elementos na tela e de inimigos que acabam não se destacando nos cenários, o que me fez receber dano ou morrer sem conseguir saber direito o motivo. Além disso, alguns estágios são punitivos demais: além de escapar de uma infinidade de balas em locais estreitos, precisamos simultaneamente manipular elementos do cenário ou desviar de obstáculos, e nem sempre os controles dão conta. Esses problemas, em conjunto com o desbalanceamento da seleção de armas, pode criar momentos frustrantes. A desenvolvedora está ciente das reclamações e tem feito alterações constantes, fazendo com o que o jogo, aos poucos, fique mais acessível.


Um eletrizante passeio de elevador

Exit the Gungeon mescla plataforma, ação e uma quantidade absurda de tiros na tela para criar uma experiência empolgante e intensa. Tentar fugir do Balarbirinto é uma tarefa difícil e imprevisível por causa da grande quantidade de perigos e da arma que muda a todo momento — parte da diversão é justamente conseguir se virar em situações complicadas com a arma atual. Ao contrário do anterior, este spin-off tem uma pegada mais arcade com partidas ágeis e foco em reação rápida, sem deixar de lado a atmosfera exótica e bem humorada da franquia. De negativo há a falta de profundidade, os momentos de confusão visual e aspectos desbalanceados, que podem incomodar nas partidas, principalmente quando todos eles aparecem ao mesmo tempo. No fim, Exit the Gungeon é um jogo de ação compacto e viciante, e mesmo morrendo muito continuo tentando escapar.

Prós

  • Boas mecânicas de tiro e plataforma aliadas a elementos de bullet hell;
  • Variedade de armas, rotas de fases e itens oferecem partidas distintas, com conteúdo desbloqueável;
  • Ambientação energética com personagens inusitados, texto bem humorado e temática maluca.

Contras

  • Confusão visual atrapalha em alguns momentos;
  • Mecânica de escolha aleatória de armas carece de melhor balanceamento;
  • Certas fases e situações podem ser punitivas demais.
Exit the Gungeon — PC/Switch/iOS — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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