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Análise: Bug Fables: The Everlasting Sapling (PC) é um cativante RPG em um mundo de insetos

Fortemente inspirado nos primeiros Paper Mario, esse título indie oferece uma aventura nostálgica e com muito conteúdo.


Um grupo de três insetos exploradores que procura uma planta capaz de tornar qualquer um imortal é o centro de Bug Fables: The Everlasting Sapling, RPG produzido pelo estúdio independente panamense Moonsprout Games. O jogo é inspirado nos primeiros Paper Mario e apresenta muitas ideias parecidas, como trechos de plataforma e elementos de ação no combate, contudo ele consegue ter personalidade própria ao expandir e introduzir conceitos inéditos. O resultado é um RPG nostálgico, ímpar e muito divertido.

Uma jornada em busca da planta da vida eterna

Bugaria é um reino que atrai insetos de todo o mundo em busca de glória e riqueza, pois inúmeros artefatos repousam em suas terras. O mais famoso desses objetos é a lendária Everlast Sapling, uma muda de árvore cujas folhas é capaz de prover a imortalidade. Anos se passaram e pouco foi descoberto sobre a localização da tal planta (se é que ela existe), mesmo com investigação constante de diferentes indivíduos. É nesse universo que acompanhamos um curioso grupo de exploradores que também procuram o artefato: o simpático besouro Kabbu, a desbocada abelha Vi e a misteriosa mariposa Leif.


A trama se desenrola em capítulos e, como é de praxe, existem várias complicações pelo caminho. A história em si não é nada especial, mas o charme está nos personagens: eles são bem construídos e seus diálogos são muito divertidos. O trio principal é muito cativante com suas personalidades distintas. Kabbu é estoico e quer ajudar todo mundo que aparece pelo caminho, mesmo que isso atrapalhe sua própria jornada; Vi está mais interessada no dinheiro e fama, mas aos poucos amadurece e passa a dar valor a seus companheiros; Leif procura suas origens enquanto tenta entender a si mesmo e seus estranhos poderes. Pelo caminho, o grupo encontra todo tipo de inseto, alguns bem sérios, outros bem malucos e caricatos. O tom geral é bem humorado com texto com trocadilhos (como “beemerang” e “unbeelivable”) e situações que quase quebram a quarta parede.


Visitando ruínas, resolvendo puzzles e enfrentando criaturas hostis

O andamento de Bug Fables é tradicional e se divide em momentos de exploração e combate. No controle do trio de heróis, visitamos inúmeras localidades, como cidades, cavernas, templos e mais, sendo que a exploração tem foco em trechos de plataforma com eventuais puzzles de navegação. Em muitos momentos, para superar os obstáculos, precisamos utilizar as habilidades dos protagonistas. Kabbu usa seu chifre para quebrar objetos e mover blocos, o bumerangue de Vi acerta coisas distantes (como botões), já Leif usa um feitiço de gelo para congelar água e inimigos. Com o avançar da jornada, os heróis adquirem novas habilidades, o que os permite alcançar novos locais.


O combate acontece ao tocar em algum dos inimigos do mapa. O sistema de batalha é por turnos, porém ataques e técnicas exigem comandos diversos para serem desferidos com sucesso. Para acertar o bumerangue de Vi, por exemplo, é necessário apertar um botão quando o marcador passa em um ponto específico de uma barra. O ataque básico de Kabbu exige segurar para baixo e soltar na hora certa. Já um feitiço congelante de Leif só é efetivo quando dois alvos se alinham em cima do inimigo. Assim como em Paper Mario, também é possível reduzir o dano ao defender na hora certa.

A complexidade das batalhas vem de inimigos diferentes exigem estratégias distintas: somente o bumerangue de Vi acerta (e derruba) criaturas voadoras; Kabbu consegue virar de cabeça para baixo alguns oponentes, que ficam completamente indefesos; plantas se transformam em blocos de gelo com os feitiços de Leif, e assim por diante. Há um pequeno aspecto de puzzle na forma de executar os ataques na sequência mais eficiente, e cada monstro tem uma fraqueza diferente. O jogo oferece alguns recursos para controlar a ordem das ações, como alterar a sequência de ação dos heróis ou até mesmo passar um turno para um personagem (ao custo de menor poder de ataque), o que permite diferentes abordagens durante os embates.


O grupo ganha experiência ao vencer os combates, e atributos como vida e pontos de técnica podem ser aumentados ao subir de nível. Além disso, existem inúmeras medalhas de efeitos diversos para customizar os heróis. Algumas delas são bem básicas, como aumentar a vida ou defesa; já outras liberam técnicas especiais ou apresentam efeitos elaborados, como aumentar a força de um personagem quando ele é envenenado. Com um pouco de esforço, é possível montar combinações poderosas de medalhas.

Mergulhando em um incrível mundo de insetos

Bug Fables usa o passado e Paper Mario como inspiração, e isso fica bem claro com seus menus retrô, o visual que remete aos títulos do Nintendo 64 e a ausência de muitos sistemas facilitadores de jogos modernos. Nostalgia é a palavra que eu usaria para descrever o título, no entanto várias características o torna único e interessante.


O reino de Bugaria é extenso e há muito para ver e explorar. Nas minhas andanças por esse mundo de insetos, foram várias as vezes em que eu esbarrei em algum ponto que eu não podia acessar ainda ou então um caminho opcional — segredos instigantes estão espalhados por todos os cantos e constantemente retornei em locais em busca de itens ou desafios. Além disso, o reino é habitado por inúmeros personagens que esbanjam carisma e personalidade, o que o torna bem vivo. Inúmeras missões e atividades opcionais nos instigam constantemente a explorar todos os cantos, e fazer tudo pode dobrar o tempo de jogo.

Alguns problemas atrapalham a viagem do trio de protagonistas. O mundo é grande e complexo, e às vezes é fácil se perder ou saber com exatidão o local do próximo objetivo. Revisitar certas áreas é um pouco custoso, pois os pontos de viagem rápida são escassos e distantes entre si. Por fim, em alguns momentos, a posição da câmera atrapalha a navegação e a resolução de puzzles, o que resulta em fazer saltos cegos ou andar direto para cima de um inimigo — bastava afastar um pouco o ângulo para resolver esse detalhe. Felizmente essas questões acontecem com pouca frequência e incomodam muito pouco a experiência.


Já o combate me surpreendeu com sua variedade e complexidade. Controlamos o mesmo trio de heróis por todo o jogo, mas novas técnicas e diferentes tipos de inimigos impedem que as batalhas se tornem repetitivas. O ponto alto são os chefes, pois eles apresentam restrições únicas que nos forçam a repensar nossas estratégias — uma grande quantidade desses inimigos complexos estão espalhados pelo jogo, boa parte deles de forma opcional.

A dificuldade é moderada e é essencial saber usar os ataques corretos para sobreviver. Além disso, o inventário tem tamanho reduzido, o que significa escolher com sabedoria que itens carregar consigo. Ou seja, o desafio está em saber balancear os recursos e conhecer as habilidades de cada personagem. Há, inclusive, uma maneira de aumentar a dificuldade, com direito a recompensas ao derrotar inimigos nesse modo — ativei essa opção sempre que possível e gostei de ter que pensar melhor minhas estratégias.


Visualmente, Bug Fables é competente e apresenta gráficos simples e bem coloridos. Os inúmeros insetos de Bugaria lembram folhas de papel em movimento, já os cenários usam elementos do mundo real para criar construções: uma caneca serve como casa, palitos e folhas de papel viram tendas, lojas funcionam dentro de caixas de papelão, e assim por diante. O resultado é um mundo que podia muito bem estar ali em algum jardim. No entanto, em alguns pontos, o visual passa ar de amadorismo com a presença de modelos extremamente simples e texturas de baixíssima resolução. No fim o jogo funciona visualmente, mas sinto que poderia ser melhor em alguns aspectos.


Uma aventura cativante que vale a pena

Um mundo extenso e ótimos sistemas de jogo são bons motivos para conferir Bug Fables: The Everlasting Sapling. O RPG usa o passado e a nostalgia como inspiração, mas expande vários conceitos para criar uma experiência divertida e profunda. O reino de Bugaria apresenta inúmeros desafios de plataforma e puzzles, com localidades repletas de segredos e missões que incentivam vasculhar todos os cantos. Já o combate empolga ao mesclar turnos e ação, sendo que grande variedade de inimigos e mecânicas oferecem inúmeras opções estratégicas. A ambientação é acertada e explora um universo de insetos com texto bem humorado e localidades interessantes, por mais que às vezes a simplicidade do visual traga um ar de amadorismo ao jogo. No fim, Bug Fables: The Everlasting Sapling é um RPG repleto de personalidade e conteúdo, e fãs do gênero não podem deixar de conferi-lo.

Prós

  • Trio de protagonistas carismático e divertido;
  • Ótimo sistema de batalha que combina turnos e elementos em tempo real;
  • Muitas nuances e sistemas trazem muitas opções estratégicas à aventura;
  • Mundo extenso e bem construído;
  • Grande quantidade de conteúdo opcional.

Contras

  • Câmera problemática em alguns poucos momentos;
  • Certos elementos apresentam visuais amadores.
Bug Fables: The Everlasting Sapling — PC — Nota: 9.0
Análise produzida com cópia digital cedida pela Dangen Entertainment

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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