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Análise: WARSAW (PC) — uma tensa experiência de estratégia e RPG durante a Segunda Guerra

Controle os membros da Revolta de Varsóvia e tente sobreviver no meio de um dos maiores conflitos armados da história.


As Grandes Guerras Mundiais são constantemente exploradas no mundo dos jogos eletrônicos, normalmente em títulos de tiro em que controlamos soldados e heróis. No entanto, como é estar na pele do elo fraco dos conflitos? WARSAW, título de RPG e estratégia, usa fatos históricos para mostrar a difícil jornada de quem está no meio do fogo cruzado. Inspirado na Revolta de Varsóvia, o título consegue trazer toda a angústia, tensão e estresse de uma cidade em guerra na forma de uma campanha interessante e de dificuldade brutal.

Acompanhando um grupo de resistência durante um conflito armado

Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade de Varsóvia, na Polônia, foi tomada pelas forças da Alemanha nazista. Em 1º de agosto de 1944, teve início a Revolta de Varsóvia, um movimento liderado pelo Exército Clandestino Polaco que tinha como objetivo se opor aos invasores enquanto a ajuda soviética não chegava. O grupo era composto principalmente de civis sem muita experiência que, mesmo assim, conseguiu oferecer resistência contra o exército inimigo. A revolta durou 63 dias com muitas baixas para os dois lados, e no fim o Exército Clandestino Polaco se rendeu às forças alemãs. WARSAW se inspira fortemente nesses eventos na forma de uma experiência de estratégia e RPG.


No jogo, controlamos o grupo de resistência polaco e o objetivo é tentar sobreviver os 63 dias de conflito. Além de manter os membros vivos, precisamos também proteger os distritos da cidade de Varsóvia — eles são responsáveis por enviar recursos para os insurgentes. Para isso, precisamos realizar missões nos bairros a fim de diminuir a presença nazista. Nelas, temos que realizar alguma tarefa, como neutralizar forças inimigas, procurar recursos ou ajudar civis. Isso se passa em um mapa em que movimentamos o grupo em tempo real e interagimos com pontos de interesse. Às vezes precisamos reagir a algum evento fazendo decisões, outras vezes a solução é o combate.

Fora das incursões, há um aspecto de administração no jogo. Além de usar com cuidado os poucos recursos que temos, é necessário ficar atento às situações dos distritos de Varsóvia — a motivação de lutar vai caindo aos poucos e quando chega a zero o bairro desiste da luta, diminuindo bastante a quantidade de recursos que recebemos diariamente. Perder todos os distritos resulta em derrota para o grupo de resistência, o que significa recomeçar a campanha desde o início.


A batalha de WARSAW é por turnos e tem várias nuances. Os combates se passam em cenários divididos em espaços e o posicionamento dos combatentes é importante: certos ataques só podem ser executados de locais específicos, sendo que algumas técnicas permitem movimentar aliados e inimigos. Em cada rodada, temos um número determinado de ações e podemos utilizá-las livremente entre os heróis — um mesmo personagem pode ativar várias habilidades na mesma rodada ou podemos dividir os usos entre diferentes combatentes. Além disso, é importante ficar atento à quantidade de munição disponível, pois a maioria dos ataques consome esses escassos itens.

A ambientação do jogo é impecável e consegue transmitir os terrores de estar em uma situação desoladora. O visual é belo e apresenta ilustrações 2D que remetem às histórias em quadrinhos com seu traço marcante. A direção de arte é séria, retratada em cenários escuros e destruídos e cores sem muita saturação. Parece que realmente estamos no meio de um conflito complicado, e é interessante como as telas de carregamento mostram a deterioração de Varsóvia com ilustrações de construções que vão definhando aos poucos. Composições melancólicas no piano, faixas inspiradas em canções de rádio da década de 1940, e constantes sons de tiros e bombas explodindo complementam a atmosfera.


Um detalhe interessante é que os personagens e eventos do jogo foram inspirados em fatos reais, sendo que certos acontecimentos no título aparecem exatamente na mesma data original. Há, inclusive, um caderno com informações detalhadas sobre as pessoas notáveis, inimigos, locais e armas que aparecem pela campanha — isso traz um ar de autenticidade a WARSAW.

A sensação tensa de estar no meio de uma guerra difícil

WARSAW é um jogo bem difícil e para mim conseguiu passar as dificuldades de estar se rebelando durante uma guerra. Os recursos são bem escassos, os grupos de inimigos são grandes, as missões são tensas — a situação é desoladora. Para deixar as coisas mais complicadas, os personagens morrem definitivamente ao serem derrotados em combate. Além disso, os pontos de vida dos aliados não se recuperam ao voltar de uma missão, sendo necessário passar dias na enfermaria para recuperar a saúde, o que nos força alterar a configuração da equipe constantemente. É uma experiência bem complexa e é muito recompensador conseguir sobreviver.

É interessante navegar em tempo real pela cidade em guerra durante as missões de WARSAW. Temos que tomar muito cuidado com os inimigos, sendo possível avistá-los à distância, assim como sua área de alcance — alguns oponentes aparecem de surpresa, o que pode significar aniquilação do nosso time, pois eles atacam em grupos grandes e bem armados. O resultado é uma tensão palpável durante as incursões por causa dos perigos que podem estar na próxima virada de esquina, literalmente. Decisões complicadas aparecem constantemente: insisto mais um pouco em busca de recursos com o risco de ser atacado ou é melhor desistir da missão ao custo de perder parte da motivação do distrito?


A imprevisibilidade das missões cria situações de apreensão, mas também de frustração. Durante as tarefas, é frequente ser surpreendido do nada por um inimigo em uma área aparentemente segura, o que resulta automaticamente em combate, já que não há tempo hábil para evitá-lo. Há um item que ajuda a revelar os eventos próximos, mas nem sempre ele é suficiente para revelar informações relevantes. Eu entendo que é a intenção do jogo retratar as nuances e complicações de um conflito armado, no entanto acredito que seria interessante ter mais ferramentas à nossa disposição. Inclusive a desenvolvedora está ciente disso e prometeu incluir um recurso de movimento furtivo no futuro.

Por fim, senti falta de variedade no andamento das missões. Elas apresentam tarefas distintas, como patrulhar um conjunto de áreas, derrotar um pelotão inimigo poderoso, procurar recursos e mais. No entanto, na prática, elas se desenrolam da mesma maneira: mova o marcador do seu time em direção às setas amarelas até encontrar o objetivo, em seguida interaja com o símbolo ou derrote o inimigo. Depois de um tempo, elas ficam cansativas e repetitivas.


Entre a vida e a morte no combate

Assim como as missões, o combate de WARSAW também traz uma atmosfera angustiante com seus confrontos complicados. Os embates são difíceis, pois normalmente o grupo inimigo é maior e tem armas mais poderosas, fazendo com que a morte sempre esteja próxima, principalmente nas missões mais longas. Mesmo assim, o jogo oferece muitas opções de estratégia.

A variedade de classes de personagens é boa e podemos montar um grupo de até quatro insurgentes para participar dos combates. Alguns heróis são básicos, como Krzysztof e Kazimierz, que focam somente em ataques simples. Já a enfermeira Jadwiga se especializa em primeiros socorros, usando sua pistola quando necessário. Marian tem muita resistência e habilidades para chamar a atenção dos inimigos, o que o torna uma boa opção para ficar na frente a fim de absorver investidas dos oponentes. A engenheira Wanda é capaz de criar barricadas, além de usar uma bazuca para acertar inimigos distantes. Os personagens têm inúmeras habilidades de suporte, e novas técnicas podem ser aprendidas ao subir de nível. Há também combatentes genéricos que não são inspirados em pessoas reais, contudo eles são mais fracos, não sobem de nível e só têm à disposição duas técnicas aleatórias ao invés de quatro.


A batalha é focada em armas de fogo, e os ataques consomem diferentes tipos de munição de acordo com o armamento. Isso traz mais um recurso a ser considerado durante as missões, pois precisamos levar projéteis suficientes para conseguir enfrentar os nazistas — algumas vezes fui forçado a abandonar uma missão por não ter como atacar quando a minha munição acabou. É interessante o foco em armas de fogo, no entanto é possível acabar em uma situação impossível de superar por não ter mais munição ou então ter um inimigo em uma posição na qual as técnicas dos heróis não conseguem acertar. Por sorte os desenvolvedores prometem adicionar outras alternativas no futuro, como a opção de ataques corpo a corpo sem custo de munição.

Por fim, senti que alguns aspectos do combate carecem de balanceamento: perdi as contas das vezes em que meus personagens erraram ataques em sequência enquanto o inimigo dava dano crítico. A frequência de tiros que não acertam é grande e isso faz com que as batalhas se arrastem por mais turnos do que deveriam, o que deixa esses confrontos um pouco cansativos. Já os personagens genéricos, por causa de suas limitações, não são tão interessantes de usar. Para piorar, é muito comum ter que usar um grupo machucado em uma missão, pois os personagens não tiveram tempo de se recuperar, aumentando a possibilidade deles morrerem em combate.


A soma de tantos detalhes torna a experiência brutal e até mesmo frustrante, pois basta um deslize para perder tudo. No entanto, a sensação de triunfo ao sair vitorioso de uma missão complicada é forte, ainda mais por causa da presença de tantas adversidades. De qualquer maneira, a desenvolvedora promete melhorar o balanceamento desses aspectos nas atualizações futuras.

Uma revolta instigante e brutal

WARSAW consegue transformar as complicações da guerra em um bom RPG. Controlar um grupo de insurgentes por uma Varsóvia em conflito é tenso e difícil, sendo forte a sensação de triunfo quando temos sucesso nas missões. O jogo apresenta boas mecânicas na forma de exploração em tempo real, batalhas estratégicas por turnos e administração de recursos. Além disso, a ambientação é certeira ao usar fatos históricos como inspiração para os personagens e eventos da campanha, sendo que o clima apoiado por ótimo visual e música. Faz sentido a experiência ser intensa por causa de se passar em uma situação de guerra complexa, contudo, algumas vezes, o jogo traz frustração com seus picos de dificuldade imprevisíveis ou elementos repetitivos — ajustes futuros devem amenizar esses problemas. No fim, WARSAW é uma experiência brutal capaz de evocar diferentes sentimentos e é recomendado para aqueles que procuram alto desafio.

Prós

  • Atmosfera tensa e sufocante consegue trazer a sensação de estar no centro de um conflito complicado;
  • Sistemas de jogo focados em administração de poucos recursos demanda atenção e cuidado;
  • Sistema de batalha bem pensado e com boa variedade de estratégias;
  • Ótimo visual com gráficos desenhados à mão;
  • Trilha sonora simples e melancólica que combina perfeitamente com a situação inquietante do conflito.

Contras

  • O andamento das missões é muito similar, o que pode trazer uma sensação de repetição;
  • Alguns problemas de balanceamento que podem resultar em situações impossíveis de serem superadas ou picos de dificuldade;
  • Algumas batalhas têm ritmo lento e se arrastam.
WARSAW — PC — Nota: 7.5
Revisão: Mariana Mussi S. Infanti
Análise produzida com cópia digital cedida pela Gaming Company


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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