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Análise: The Surge 2 (Multi): diversão e desmembramentos no melhor estilo soulslike

Trazendo um combate melhorado, mais opções de equipamentos e muitas missões secundárias, o jogo deixa as dependências da CREO do primeiro jogo e nos leva para a vasta cidade de Jericho.


Desenvolvido pela Deck 13 e publicado pela Focus Home Interative, seu mais recente título nos traz de volta para a cidade de Jericho em um cenário apocalíptico com a temática futurista. Prepare-se para um mapa ainda maior, com diversos caminhos paralelos, chefes gigantescos e muitos equipamentos para coletar em The Surge 2 (Multi).


Em meu primeiro contato com o primeiro jogo, já percebi o quanto a temática poderia ser promissora. Apesar da primeira tentativa da desenvolvedora em The Surge (Multi) ter sofrido em parte com críticas por utilizar o mesmo sistema da série Souls, considero injusto diminuir o potencial que o título já apresentava na época. A desenvolvedora absorveu o feedback e soube entregar uma experiência ainda melhor.

Cidade regida pelo caos

Entrando com uma continuação direto de seu antecessor, a trama se inicia exatamente no momento em que a ameaça dos nanorobôs atinge seu ápice, com o lançamento do foguete Utopia que liberou o vírus Dfrag por toda a cidade de Jericho. É nesse momento que somos pegos durante um voo que se aproximava do local, sofrendo uma pane em decorrência do vírus.
Já na abertura já notamos que o trabalho com cut-scenes continua excelente


Misteriosamente, nosso protagonista sobrevive ao acidente enquanto tem sua mente tomada por flashes de uma garota que estava no mesmo voo sendo perseguida por soldados. Na medida que o sonho se encerra, o pedido de socorro da criança de nome Athena ecoa em nossa memória. Ao acordar, descobrimos que estamos contidos em uma prisão tomada por uma rebelião dos prisioneiros que souberam aproveitar o caos instaurado na cidade pelo vírus e pela presença de uma imensa criatura que parece prestes a destruir todo o prédio inteiro. Motivado pela experiência estranha vivenciada com Athena, partimos atrás do paradeiro da menina em busca de mais respostas sobre o que está acontecendo com o protagonista e a estranha fissura que apareceu no céu.



Quem teve a oportunidade de jogar o primeiro The Surge vai lembrar bem da música que tocava nos medcentros. A música The Prisioner composta por Stamful tem uma letra que parece ter sido escrita para a franquia por combinar tão bem com seu enredo, ainda mais com o do segundo jogo. Ela não toca com a mesma frequência que aparecia no primeiro título (para deleite dos que reclamavam da repetição da música em todo o medcentro encontrado), mas conta com uma aparição honrosa em um momento específico da campanha. Fica aqui a recomendação enquanto conferem o restante da análise: https://www.youtube.com/watch?v=lzHlF2dmddc

“O meu guerreiro está chegando”

Diferente de seu antecessor, em que somos apresentados a um protagonista fixo, aqui temos a opção de criar nosso personagem. Trata-se da clássica tela de criação onde podemos escolher sua aparência e um breve background contando um pouco do passado próximo antes do início do enredo. As opções são modestas, mas acima da média se compararmos com as franquias da From Software.


O progresso do personagem é feito de forma simples. Primeiro coletamos sucata, que pode ser obtida ao derrotar inimigos ou ao utilizar itens específicos. Em seguida, precisamos acessar uma estação medcentro para fortalecer o herói — esses locais funcionam como checkpoints, e quando são ativados todos os inimigos reaparecem, de forma semelhante à fogueira de Dark Souls III (Multi) (inserir link). A cada upgrade, ganhamos dois pontos para distribuir entre três atributos:
  • Saúde: melhora nossa resistência ao dano e aumenta os pontos de vida;
  • Vigor: aumenta a quantidade de movimentos que podem ser executados, como ataques, esquiva, corrida e bloqueio;
  • Bateria: trata-se de uma terceira barra que sobe enquanto atacamos inimigos. É com ela que armazenamos recargas de injetáveis utilizados para curar ou melhorar o status do personagem.
O principal fator multiplicador da quantidade e tipo de dano fica a cargo das armas, bem como a defesa e mobilidade estão atreladas ao traje escolhido.

Armado e parapetado

Aqui entra o principal diferencial presente na franquia: a customização do personagem. Embora a parte estética seja bem simplória (curiosamente como todo o título desse gênero), equipar seu personagem ficou ainda mais interessante. Agora temos ainda mais opções de armas: espadas, lanças, martelos, luvas, etc. E o mais interessante é que boa parte deles são adaptações de ferramentas do cotidiano utilizada por operários. 

O mesmo vale para as armaduras que vão de grandes couraças militares a equipamentos de operários, e ao completar o setlist de uma vestimenta ganhamos bônus específicos que agregam valor para a construção do personagem, como regeneração de vida ao realizar execuções ou maior resistência elemental.



E para deixar esse processo ainda mais interessante e diversificado, os implantes estão de volta trazendo uma série de efeitos para o protagonista. Dos mais básicos, como a injeção de cura, até efeitos mais complexos, como aumento na velocidade do ataque enquanto tivermos pelo menos 3 medidores de energia. Eles variam entre níveis (identificado pela cor) e pelo custo do  núcleo (capacidade do personagem que aumenta com de acordo com o nível).



É possível encontrá-los em baús pelo mapa ou como recompensa ao derrotar inimigos poderosos. Já os equipamentos continuam sendo obtidos, principalmente, ao cortar os membros de seus oponentes. Bata excessivamente no membro que contém a parte de equipamento desejada  até enfraquecer o oponente e finalizá-lo com um golpe especial para desmembrá-lo e conseguir o diagrama do equipamento. 

Os desmembramentos continuam como ponto alto na ação do jogo


Como principal novidade, foi inserida a opção de bloqueio direcional que consiste em bloquear o golpe na direção correta — semelhante ao que vemos em jogos como For Honor (Multi) (inserir link) — para quebrar a estabilidade do inimigo e realizar um golpe crítico. Agora também temos a opção de utilizar drones para nos dar suporte durante as batalhas. São muitos modelos, cada um com sua utilidade — o modelo com pistola acoplada, por exemplo, é ótimo para incomodar inimigos que tentam atacar nosso guerreiro.. 



Por meio dos drones, os desenvolvedores inseriram um modelo que é, na verdade, um minigame  no jogo. O drone modelo bandeira coloca uma réplica do protagonista no cenário que ficará disponível para outros jogadores. Caso ninguém o encontre depois de um certo intervalo de tempo, você ganha uma pequena recompensa. O mesmo vale para a bandeira colocada pelos outros jogadores que podemos encontrá-la em nosso trajeto.

É divertido procurar lugares inusitados para esconder a bandeira


Presa ou predador?

Os inimigos em The Surge 2 estão ainda mais perigosos. Sejam em bando ou sozinhos, cada inimigo representa grande ameaça para os jogadores mais descuidados. Durante o percurso, encontraremos membros de gangues, fanáticos religiosos, caçadores, entre muitos outros, cada um com sua maneira de se portar em combate. Haja com cautela e estratégia, do contrário, a frase que mais vai encontrar é a de game over.

Os chefões estão presentes, e dessa vez são maiores e mais perigosos como a figura bizarra de Little Johnny com seus tentáculos robóticos ou a agilidade e furtividade do Capitão Cervantes. Cada um tem um design peculiar e que combina perfeitamente com o trecho da campanha em que estamos passando.   



Estude bem seus movimentos para encontrar brechas para ataque e evitar perder as suas sucatas, já que depois que morremos, temos apenas uma chance de recuperá-la. Cada um deles apresenta uma lista de movimentos que pode alterar em diversos estágios de acordo com seu nível de HP. Pessoalmente, achei incrível lutar com criaturas enormes. O jogo consegue passar bem a sensação de um pequeno humano enfrentando um temível gigante com golpes devastadores que varrem o cenário. Gerenciar a distância do inimigo para equilibrar ataques e esquivas, foi um desafio satisfatório de ser alcançado.

Bancando o bom samaritano 

Na busca pela misteriosa garota, exploraremos até as entranhas da cidade de Jericho. Diferente do primeiro que focava mais em cenários desérticos e interiores dos laboratórios da CREO, aqui visitaremos o centros urbanos, resorts, instalações militares, entre outros locais. 

Se locomover pela linha magnética ajuda a diminuir o peso da necessidade de revisitar certos locais


Em cada um deles encontraremos NPCs, alguns apenas para ilustrar o cenário, outros mais importantes que concedem missões secundárias. Algumas delas são tarefas simples, como resolver a dívida de uma pobre senhora, outras irão acompanhá-lo por boa parte da campanha. Essa foi uma adição mais do que bem-vinda, pois confere um motivo a mais para explorar os mapas, além de trazer informações extras sobre a lore do jogo. Em muitas delas teremos a oportunidade de tomar uma decisão — pense bastante em qual delas optar, pois algumas trazem efeitos colaterais irreversíveis para a missão.

Algumas pessoas irão te pedir ajuda e, dependendo da sua resposta, a recompensa será bem-vinda




Mundo novo, problemas antigos

The Surge 2 traz uma importante lição ao nos mostrar que todo o avanço tecnológico torna-se irrelevante quando sua sociedade não acompanha tal evolução. Em Jericho vemos o retrato de uma população bem sucedida ao agregar a praticidade da tecnologia em seu dia-a-dia, porém ela não teve maturidade o suficiente para fazer jus a esses avanços. De um lado temos organizações governamentais e militares que perderam o propósito de servir a sociedade e se afundaram em corrupções para benefício próprio. Já de outro temos fanatismo religioso no grupo Filhos da Centelha, que se postam como divindades radicais e não medem esforços para impor sua vontade ao povo.



Em meio a esse conflito de interesses, iremos traçar nosso caminho em busca de pistas que nos levem até a misteriosa Althena, que parece estar sendo perseguida por um grupo militar. Suas motivações e a razão do nosso vínculo com ela não são claras, o que pode levar a jogadores mais exigentes a ser perguntar o porquê de estar correndo atrás de uma desconhecida. No decorrer da campanha, respostas vão surgindo como também novos questionamentos.

Tecnológicamente avançado, visualmente ultrapassado

Durante meu gameplay não encontrei problemas técnicos que pudessem comprometer a experiência. O único fator negativo que chamou minha atenção ficou por conta da questão gráfica que se compararmos com seu título anterior não trouxe progressos significativos, com texturas mal renderizadas, principalmente nas roupas dos personagens. Em alguns momentos eu cheguei a me questionar se o primeiro título não teria um capricho maior nesse aspecto.



Outro ponto que me incomodou durante a jogatina foi a organização do inventário que filtra os itens apenas por ordem alfabética ou por ordem de chegada, principalmente nos diagramas coletados. Sem acessar um medcentro, fica difícil saber qual membro falta coletar para completar um conjunto de vestimenta, o que leva o jogador a perder tempo entre idas e vindas ao medcentro.

Além do souslike

The Surge 2 é uma pedida obrigatória para os mais fissurados por títulos com jogatina no estilo Souls. Ele é uma opção interessante para jogadores casuais que saibam balancear entre ação e cautela, e que gostem de uma boa exploração de cenário, ainda mais levando em consideração que ele oferece o famoso new game + que permite recomeçar a campanha carregando o progresso do personagem e com inimigos ainda mais fortes. Ele se torna ainda mais atrativo levando-se em consideração que temos duas opções de finais para o enredo. 



Embora seja impossível fugir da comparação com as famosas franquias da From Software, The Surge 2 representa uma excelente continuação para a franquia e um passo muito importante para Deck 13 que consegue estabelecer uma identidade própria para o gênero, fugindo do rótulo de cópia da série souls e caminhando a passos constantes para se tornar uma referência no estilo.

Prós

  • Combate empolgante e brutal;
  • Muitas opções de composição de personagem;
  • Maior longevidade com o NG+;
  • Legendas em português.

Contras

  • Problemas de renderização, comprometendo a nitidez gráfica;
  • Falta de filtros no gerenciamento de inventário.
The Surge 2 — PC/PS4/XBO — Nota: 8.5

Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Focus Home Interative

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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