Project Scarlett: o que esperar?

Apesar de ter perdido a liderança, as recentes mudanças e esforços mostram que a Microsoft tem tudo para dominar a próxima geração


Apesar dos esforços do carismático Phill Spencer, da incontestável qualidade dos serviços prestados ao cliente, das constantes revisões de hardware que entregaram o que a concorrência não conseguiu; apesar do Game Pass e do serviço on-line superior – mesmo com todas essas inovações, a Microsoft parece ter ficado em distante terceiro lugar na corrida dos consoles desta geração.
Uma coisa é certa: a casa verde dos games está aprendendo com seus erros e correndo atrás do prejuízo. Se a turma do Phill mantiver a qualidade atual dos serviços e fizer a lição de casa, poderemos ter um novo campeão para a próxima geração..

Queimando a largada

A atual geração de consoles foi complicada em diversos aspectos. Primeiro, os consoles já chegaram com hardware defasado pela primeira vez. Os lançamentos ocorreram no momento da transição de tecnologia do Full HD para o 4K, e o Xbox One, particularmente, apenas conseguia entregar 900p. Por conta de todo o estardalhaço desse boom tecnológico, a mídia especializada começou a valorizar desempenho e resolução de jogos em seus reviews – foi a chegada dos 1080p e 60 fps como medidor de qualidade.


Outra grande mudança foi o fortalecimento das redes sociais e comunicação on-line, tirando o protagonismo anterior das mídias especializadas. Steve Jobs tinha inaugurado a tendência do CEO Showman, que apresentava seus produtos e sua empresa para o consumidor. Don Mattrick foi escalado para desempenhar esse papel na casa do Bill Gates, e acabou pisando na bola. Apesar de ser conhecimento geral que os atuais consoles necessitam de constante conexão com internet, por conta das jogatinas on-line, das atualizações de firmware e de jogos, assim como outros recursos, falar isso em 2013 não soou muito bem.

Outro problema foi polemizar a questão dizendo que os jogadores que não tivessem acesso à rede mundial de computadores deveriam adquirir o Xbox 360, videogame da geração passada. A Sony aproveitou a “mancada” e focou seu marketing em cima da ideia de liberdade de escolha do jogador. Não deu outra: o console da Sony já largou com ampla vantagem. O erro custou caro à Microsoft, e Don Mattrick foi substituído pela lendário Phill Spencer.


Outro calcanhar de Aquiles do console foi o hardware – por trazer a memória DDR3 contra a DDR4 do PS4, o aparelho apresentava desempenho inferior ao seu principal concorrente. Apesar dessa diferença não ser tão perceptível, principalmente depois de algum tempo de jogatina, a mídia especializada usou e abusou desse detalhe em constantes comparativos. Obviamente, a Sony aproveitou esse ambiente de competição para direcionar seu marketing, posicionando seu console como superior. Outros problemas como o design “duvidoso” do aparelho, e o Kinect no pacote, encarecendo o produto, só atrapalhavam a vida do Xbox.

Aprendendo com os erros

A Microsoft, diferente de todas as outras empresas de games, soube correr atrás do prejuízo e modificou totalmente as bases com que o ecossistema Xbox One foi fundado. Primeiro, tivemos a mudanças de CEO, algo que mudaria a cara do Xbox para sempre. Não existe porta voz mais carismático e empenhado que Phill Spencer no mundo dos games. Outra grande mudança foi o lançamento do Xbox One S, console totalmente remodelado, que, dessa vez, entregou um aparelho com design lindíssimo, compacto e eficiente – apensar de não ter apresentado grandes mudanças de desempenho.


Com o recente upgrade para versões de consoles premium, maneira encontrada pelas empresas para se adequar à novas TVs de 4k que vem se popularizando, a Microsoft mostrou para o mercado que possui condições de entregar um hardware superior aos concorrentes, acabando de vez com o mito de que a empresa do tio Phill sempre estaria atrás da Sony em questão de tecnologia. O Xbox One X é uma maravilha da engenheira nunca vista antes, tornando-se atualmente o console mais poderoso existente no mercado.

Ok, os PCs High End entregam mais qualidade que o console premium da Microsoft, mas compare o tamanho de um PC de ponta e seu preço com o Xbox One X para você perceber como os engenheiros de Phill conseguiram tirar água de pedra. O videogame é praticamente menor do que seu irmão mais velho, e menor até que o PS4. Não faz nenhum barulho, e, apesar de sua GPU chegar a 90 graus de temperatura, o sistema de resfriamento evita que o aparelho aqueça. É quase uma bruxaria.

E não podemos deixar de falar da cereja do bolo do sistema de serviços da MS – o Game Pass! Sim, praticamente todo dono de um Xbox hoje é assinante da Game Pass. Para quem não sabe, o serviço disponibiliza acesso a jogos de um catálogo de mais ou menos 100 títulos, por tempo ilimitado (enquanto for assinante, claro). Por R$ 30 mensais o dono de um console Microsoft pode baixar e jogar qualquer um dos títulos listados no programa.

Apesar de não ser uma ideia tão inovadora assim, pois a EA Access já trabalha com esse sistema a um bom tempo, é um serviço bem interessante e bem-vindo ao mundo dos games. Mesmo por que, todos os exclusivos da Microsoft estão disponíveis no serviço, inclusive os lançamentos. Gear 5 chegará aos assinantes do serviço totalmente fresquinho, esperando apenas que você baixe o título e parta para a jogatina.


Claro que lançamentos AAA de outras empresas não estão presentes, e a maioria dos jogos do catálogo são compostos por títulos já antigos – contudo, não deixa de ser uma ótima opção, principalmente para quem não quer desembolsar R$ 200 todo mês para adquirir lançamentos que podem chegar a R$ 60 daqui a três meses. Além disso, o serviço acaba amarrando o consumidor ao ecossistema Xbox, inclusive com o recente upgrade Game Pass Ultimate que, por R$ 40, oferece a Gold (jogatina online), o Game Pass e o acesso aos mesmos jogos e serviços em um PC.

E o que o futuro nos reserva?  

O Xbox Scarllet foi anunciado na última E3, e deve chegar junto com o Halo Infinity, lá para o final de 2020. Os detalhes técnicos estão vazando aos poucos, sendo que não temos acesso oficial ainda às especificações do aparelho. Porém, a retrocompatibilidade nativa a jogos de Xbox One, o uso de SSD e arquitetura Navi de processamento, junto com a tecnologia Ray Tracing, indicam que coisa muito boa está por vir.


Apenas com essas informações já dá para perceber que, pela primeira vez, os novos consoles virão com tecnologia equivalente aos PCs de ponta, amenizando as diferenças entre os PCs Master Race e os consoles. A má notícia é que isso vai impactar no preço- muito provavelmente os consoles da nova geração vão chegar ao solo tupiniquim com média em torno dos R$ 5000.

E pelas informações que já temos sobre a nova geração, é bem provável que não exista muita diferença de hardware entre o console da Sony e o da Microsoft, como aconteceu nesta geração. Isso é um ponto positivo para a MS, já que não haverá desculpas de inferioridade tecnológica desta vez.


Colocando nesse pacote todos os recentes acertos da empresa, junto com o esforço e competência do tio Phill, é muito provável que o novo console da Microsoft recupere a liderança na próxima geração.

Porém, existe um detalhe primordial que vai fazer toda a diferença: os exclusivos. Sim, os exclusivos. Sempre quando algum analista de mercado é questionado sobre as razões das baixas vendas dos consoles da Microsoft, mesmo com as revisões de hardware e os serviços excepcionais, a resposta é sempre a mesma. Phill Spencer já deu diversas declarações afirmando que a empresa precisa investir mais em exclusivos.


Não dá para saber o que vem pela frente, já que o tempo de desenvolvimento de um jogo AAA pode demorar até 5 anos, porém a Microsoft nunca perde a oportunidade de deixar claro que está investindo pesado em estúdios para desenvolver exclusivos. Nos últimos dois anos, por exemplo, o investimento da empresa em aquisição de estúdios aumentou quase que 200% em relação ao início da geração.


A E3 de 2018 foi palco para noticiar os grandes estúdios que estavam fazendo parte do time da Microsoft, além da aquisição de dissidentes da Sony. Porém, como os projetos são guardados à sete chaves, não dá para ter uma ideia do que vem por aí, nem da quantidade do que vem por aí. Porém, se a Microsoft realmente aprendeu a lição de casa, como mostra o lançamento do Xbox One X e da Game Pass, teremos sim exclusivos de peso para a próxima geração.

O jogo pode virar

Quem estuda história dos videogames a fundo sabe que a pretensão da empresa de Bill Gates para o mundo dos videogames vem de longa data. Ele até tentou uma parceria com a Nintendo, empresa que o tio Bill admirava, e foi falar diretamente com Hiroshi Yamauchi, mas foi veementemente rechaçado. Ele então resolveu entrar por conta própria no mercado dominado praticamente por empresas orientais, e mudou para sempre o que conhecemos como videogame.


Empresas como Bethesda, BioWare e Ubisoft cresceram e tomaram protagonismo justamente na época do Xbox 360, que investiu em parceria com essas empresas e focou seu marketing em seus lançamentos. A Sony copiou tudo o que o Xbox 360 fez, e hoje parece muito mais ocidental do que era nas épocas de outro do Playstation 1 e 2. O console da Microsoft alcançou tanta popularidade na geração passada, que nos EUA a palavra Xbox era utilizada para generalizar videogames (como Nintendo foi nos anos 80).

Porém, por algum motivo, a empresa perdeu o rumo nessa geração. Mas como podemos observar, tudo no mercado é cíclico. As empresas acertam agora, erram no passado, podem acertar ou errar de novo no futuro. O Playstation 3 quase perdeu a geração passada por ter sido lançado com preço exorbitante e possuir uma arquitetura difícil para os desenvolvedores. A Nintendo comeu poeira com seu Nintendo Wii U e agora está na crista da onda com o Switch.


Pode ser que o ciclo de liderança da Sony esteja se esgotando. Apesar de possuir ótimos exclusivos, as temáticas dos jogos são repetitivas. Além do mais, a Sony ainda possuí características orientais em sua administração, e a maior delas é não ser muito amigável aos consumidores (o que dizer da Nintendo, então). Em uma época em que as pessoas se associam emocionalmente com suas marcas favoritas, retribuir esse amor é fundamental para o sucesso no mercado.

 
Assim, se a Microsoft continuar com o bom trabalho que vem fazendo e conseguir entregar um console de ponta com ótimos exclusivos, usando a figura de seu carismático showman, é muito provável que a empresa do Bill Gates chegue extremamente competitiva para a próxima geração, podendo brigar, inclusive, pelo primeiro lugar. Todos os indicadores levam a essa conclusão. A não ser que algo de muito errado aconteça no meio do caminho, a marca Xbox voltará a ter a mesma glória dos tempos do 360. Resta apenas a nós torcermos pelo ressurgimento do gigante verde. Independentemente de sua marca preferida, todos iremos ganhar com a relevância da Microsoft no mundo dos games.

Revisão: Raphael Barbosa

Apaixonado por JRPG, fanboy de Final Fantasy, gosta de um bom papo de boteco com cerveja e Rock'n Roll. Escreve para a Game Blast pois sonha em ser escritor.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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