Jogamos

Análise: London Detective Mysteria (PC/PS Vita): uma nobre detetive explora mistérios e romance em Londres

Visual novel otome que se passa na Era Vitoriana tem uma excelente tradução, mas peca por seus mistérios um pouco simples demais.

Desenvolvido pela Karin Entertainment, London Detective Mysteria é a primeira visual novel otome a ser traduzida pela XSEED Games. Com um roteiro que se passa na Era Vitoriana, o jogo apresenta uma série de mistérios para investigar junto com seus colegas de classe. Ao lado de parceiros como Herlock Holmes, Watson ou Akechi, a personagem irá mergulhar nos sinistros eventos que ameaçam a paz em Londres.

Uma nobre detetive

Londres, próximo do fim do século XIX. A jovem Miss Whiteley terá finalmente sua entrada na alta sociedade britânica depois de anos em uma vida rural repleta de liberdades após perder seus pais em um terrível evento. No entanto, com sua grande curiosidade, ela acaba se envolvendo em uma investigação sob ordens diretas de Sua Majestade, a Rainha Victoria.


Assim começa a vida de detetive da nobre garota, que é convidada a estudar na prestigiosa Academia Harrington, onde seus pais haviam se conhecido anteriormente. Nessa escola, ela terá que resolver vários casos e poderá formar amizades e até romances com seus colegas.


Entre os personagens relevantes que fazem parte dos pretendentes da personagem, o principal é Herlock Holmes. De cabelo preto e olhar cínico, o rapaz é filho do famoso Sherlock e possui uma mente inquisitiva e uma atenção a detalhes muito precisa. Suas habilidades sociais, no entanto, deixam a desejar.

Por outro lado, seu parceiro, William H. Watson, é o extremo oposto. Com seu cabelo longo, o rapaz é um galanteador e extremamente sociável. Já Jack prefere se isolar. Vindo do East End, uma região pobre da cidade, ele tem excelentes notas e conseguiu estudar em um colégio renomado por conta disso.

Outro personagem bastante dedicado é Akechi. Advindo do Japão junto com o esperto Kobayashi, o jovem de óculos tem um espírito bastante compenetrado e está sempre corrigindo os desleixos de seus colegas de classe. E mais desleixado não poderia ser o jovem Lupine, que está sempre perdendo seus óculos e causando algum tipo de confusão.


Além deles, é interessante a presença das garotas Marple e Hudson, que se tornam amigas da protagonista e que valorizam bastante os seus esforços. Temos também o sarcástico mordomo Pendleton, os policiais não tão competentes da Scotland Yard e os personagens relacionados aos casos.

Além da presença de personagens cujos nomes são facilmente reconhecíveis de obras literárias, como Sherlock Holmes ou Arsène Lupin, o clima da história também é bem trabalhado para evocar mistérios clássicos. E o principal fator para isso está claramente na tradução.

Uma ambientação clássica


Se tratando de uma visual novel, um dos aspectos mais importantes é obviamente o texto. Em London Detective Mysteria, por ser uma obra que se passa na Era Vitoriana, é perceptível o esforço da tradução em adaptar os diálogos e descrições de forma a melhor representar a ambientação.

Isso é perceptível na forma como o texto se aproxima um pouco do inglês arcaico. Alguns termos rebuscados ou o uso de grafias como “to-day” e “to-morrow” fortalecem essa percepção de que a obra está representando um outro período de tempo. Ao mesmo tempo, existe um compromisso claro em manter o jogo legível, evitando-se os excessos que às vezes acometem títulos com essa peculiaridade na escrita. Com exceção da verborragia, que em alguns raros momentos pode ser incômoda, especialmente em contextos de urgência onde a fala mais simples em japonês é claramente mais adequada.

Vale destacar também dois conceitos que fundamentalmente marcam a história. O primeiro deles é a noção de legado. Especialmente na história de Holmes, mas também um pouco para todos os outros personagens, a noção de herdar algo e precisar encontrar seu próprio caminho a partir disso é uma forte linha narrativa.


Já no aspecto mais sombrio, o preconceito também deixa marcas perceptíveis na história. Existem discussões leves sobre o assunto, tanto no aspecto sobre como estudar em uma escola não era algo esperado para mulheres quanto no âmbito da xenofobia contra os japoneses que chegavam a Londres.


A trilha sonora também é fundamental para a atmosfera apresentando algumas músicas clássicas ou que, mesmo pertencendo a outro gênero, se encaixariam perfeitamente em obras dramáticas de época. Todas elas são bem escolhidas para cada situação, variando entre trilhas que remetem facilmente aos bailes nobres do período e músicas cujo ritmo acentua o mistério ou drama.

Há também alguns elementos interessantes no aspecto visual. A primeira coisa que chama a atenção é o traço dos personagens e vestimentas que evocam bem um clima de shoujo (histórias de mangá e anime voltadas para o público feminino). Ao contrário de outros jogos do gênero lançados anteriormente no Ocidente, talvez devido a seu contexto britânico clássico, esse traço evoca a sensação de que é uma obra “para garotas” e não apenas uma obra de ação com rapazes esbeltos.


Além dos personagens, é perceptível também a representação do período na arquitetura dos ambientes e no design de objetos, como itens de casa feitos de porcelana ou jóias que realmente fizeram parte da coroa britânica. Também a culinária local, e ocasionalmente a japonesa, são elementos recorrentes na história.

Curiosamente, justamente no aspecto mistério, a história deixa um pouco a desejar. Apesar da atmosfera envolvente ser muito bem construída, a maior parte dos casos são rasos. Rapidamente resolvidos e fáceis de compreender, são totalmente quebrados assim que uma pista crucial aparece e a história segue essa linha de resolução de forma linear. Poucas são as reviravoltas ou ideias que efetivamente chamam a atenção nos mistérios.

Vale destacar também que os finais com cada um dos rapazes dão uma visão mais detalhada sobre um plano sinistro que está acontecendo em Londres. Com isso, além de aproveitar o romance, é possível aprender um pouco mais sobre o que está acontecendo nas sombras ao explorar as várias rotas.

Hora de viajar para Londres


Com um trabalho de tradução muito bem feito que evoca bem o período vitoriano, London Detective Mysteria é uma visual novel otome com uma atmosfera envolvente. Apesar de seus mistérios serem um pouco simples, esse fator é tão bem trabalhado que certamente a obra é um bom exemplar do gênero e deve ser apreciada.

Prós

  • Excelente trabalho de tradução, de forma geral;
  • Atmosfera envolvente da Inglaterra vitoriana;
  • Trilha sonora bem selecionada;

Contras

  • Mistérios simples;
  • Em raras ocasiões, a verborragia da tradução é inadequada.
London Detective Mysteria –  PC/PS Vita – Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Raphael Barbosa
Análise produzida com cópia digital cedida pela XSEED Games

é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google