Análise: Octopath Traveler (PC) traz modernidade aos JRPGs clássicos

O RPG de turnos da Square Enix chega ao Steam apostando em gráficos nostálgicos e mecânicas criativas.

em 04/07/2019
Desenvolvido pela mesma equipe de Bravely Default (3DS), Octopath Traveler é uma grande homenagem aos jogos de Final Fantasy da era do Super Nintendo. Todos os elementos da aventura foram feitos para evocar o sentimento de nostalgia daquela época gloriosa para os RPGs japoneses.

Desde os expressivos sprites em 2D, até a icônica forma de contar a história do mundo por pontos de vista de diferentes personagens. Tudo isso está aqui e, dessa vez, com gráficos e mecânicas atualizadas para fazer jus a tecnologia dos dias atuais.

Antes exclusivo do Switch, Octopath Traveler chegou aos PCs por meio do Steam como um dos lançamentos mais aguardados do ano pelos jogadores “Master Race”. Elogiadíssimo em seu lançamento original no console da Nintendo, resta saber se a aventura manteve a sua qualidade no port para a plataforma da Valve.

Oito lados de uma só moeda

Octopath Traveler é um jogo sobre oito personagens e suas distintas histórias. Cada um dos protagonistas passa por uma campanha “individual” desenvolvida em 4 capítulos. O jogador não é obrigado a seguir qualquer ordem nos capítulos ou a recrutar mais personagens além daquele que escolheu começar a aventura.

O game se passa em Orsterra, um reino medieval recheado de povos com culturas únicas e diferentes. A variedade na narrativa e nas habilidades dos oito protagonistas são uma ótima representação disso. Mesmo com certos clichês em suas personalidades, a premissa do arco de cada um é tão charmosa que poderia facilmente ser a trama de um jogo inteiro.

Apesar da clara inspiração na narrativa de Final Fantasy VI (SNES), a fórmula de Octopath se assemelha bastante com a liberdade de Zelda: Breath of the Wild (Wii U/Switch) e, com isso, carrega alguns de seus problemas consigo. A liberdade na hora de escolher a rota é uma ideia que precisa sacrificar a interação entre as histórias e os protagonistas para funcionar direito.

É uma pena, pois um dos elementos mais divertidos dos JRPGs clássicos da Square sempre foi a interação e as conversas casuais realizadas entre o grupo de personagens principais. É uma característica que sempre tornava a party muito mais “humana” na mente dos jogadores. A escassez de “cruzamentos” entre as histórias dos protagonistas também é bem desagradável, mas pelo menos existe uma grande missão que junta todos eles para compensar isso.

Criatividade e repetição

Cada protagonista apresenta uma “Path Action”, basicamente uma habilidade única que só pode ser utilizada em NPCs no overworld.

O ladrão Therion pode roubar itens, a caçadora H’annit pode desafiar pessoas para uma luta contra os monstros que ela capturou, a mercadora Tressa pode comprar itens com desconto dos moradores, a dançarina Primrose pode seduzir pessoas a ajudá-la durante os combates, o acadêmico estudioso Cyrus pode pesquisar informações sobre os NPCs, a clériga Ophilia pode guiar a população para lutar por ela, o médico alquimista Alfyn consegue questionar NPCs para obter informações e o cavaleiro Olberic pode desafiar indivíduos para uma luta mano a mano.

O uso das Path Actions é surpreendentemente criativo ao ponto de conseguir transformar cada NPC em um indivíduo único com backstories, pertences, habilidades e níveis de força totalmente diferentes. No geral a mecânica é muito divertida, porém o uso excessivo dela nos capítulos e Side Quests acabam enjoando o jogador pela repetição constante.

A repetição também é um problema em comum com o desenvolvimento dos capítulos. Com poucas exceções, os capítulos seguem uma estrutura bem simples que acaba se tornando chata pela falta de variedade. O jogo sempre te pede para procurar informações, usar as traits para resolver pequenos puzzles, conversar com certas pessoas e no final ir para uma dungeon com um chefão no final. É algo tão repetitivo que iniciar um capítulo se torna uma “obrigação” ao invés de proporcionar diversão.

Além disso, falta um espaço maior para desenvolver melhor as histórias. Quatro capítulos com uma hora em média é um tempo apertado demais para desenvolver a trama “completa” de um personagem. Octopath Traveler ainda faz um ótimo trabalho em desenvolver ótimas narrativas e personagens em tão pouco tempo, mas em algumas histórias, como a do Therion, fica bem claro que o resultado poderia ser bem melhor com mais tempo para desenvolver.

Lutando pelos seus ideais

O combate de Octopath Traveler é um dos maiores triunfos do jogo. Seguindo os passos de Persona 5 (PS3/PS4), o título da Square consegue provar mais uma vez ao mundo que ainda há espaço para o gênero de RPGs de turno na indústria contemporânea. Dinâmicas e criativas, as lutas seguem o modelo clássico de turnos da série Final Fantasy, porém com algumas diferenças muito bem-vindas.

A maior responsável pela diversão durante as batalhas talvez seja a mecânica de "Break" dos inimigos. Você pode quebrar a “proteção” do adversário atacando-o com suas fraquezas por um determinado número de vezes. Nesse estado de “Break”, o inimigo se torna imóvel por 2 turnos e recebe o dobro de dano da sua party. Por causa disso, dar Break sempre que puder é a maneira mais fácil de superar qualquer desafio.

Focar em diferentes estratégias e ataques dependendo do inimigo torna tudo muito mais dinâmico e induz o jogador a pensar durante todas as batalhas, ao invés de simplesmente selecionar o golpe mais forte possível como é comum em muitos jogos do gênero. Descobrir a fraqueza de cada monstro na tentativa e erro também funciona para deixar os confrontos bem mais divertidos.

Para promover o uso inventivo de estratégias e builds, é possível customizar os protagonistas com Jobs secundários, assim como todas as Skills e Support Skills exclusivas daquela determinada classe. Explorar as possibilidades oferecidas com essa mecânica se torna um dos elementos mais interessantes do jogo inteiro. Tanto que é normal passar horas testando e pensando nas builds mais fortes para equipar na party.
Se existe algum momento que demonstra perfeitamente o nível de qualidade das mecânicas de combate em Octopath Traveler, então com certeza ele acontece durante as Boss Battles. Os confrontos contra chefes são difíceis, empolgantes e não abusam de elementos artificiais para aumentar a dificuldade. Todos eles sempre contam com pequenas mecânicas que estimulam o jogador a pensar na melhor estratégia e build para enfrentá-lo. Certas horas, o fator emocional da história ainda contribui para tornar tudo mais épico.

O único grande problema dentro das batalhas de Octopath Traveler ocorre pela ausência de uma opção de combate automático. Cruzar uma área com inimigos de level baixo muitas vezes acaba se tornando um estorvo justamente pela falta de uma maneira de acabar com os combates rapidamente. As lutas aleatórias se arrastam mais do que o necessário por causa disso.

A arte de Orsterra

O conceito genial de misturar sprites em 2D com cenários e gráficos realistas em um RPG é o aspecto mais atraente e inovador de Octopath Traveler. Os efeitos visuais dos cenários são simplesmente estupefantes de se olhar. Passando pelo efeito do Sol em campos esverdeantes, até a poeira desoladora das catacumbas sombrias. Deixando de lado a presença de alguns sprites estourados, os gráficos são literalmente colírios para os olhos de qualquer jogador.


A trilha sonora de Octopath Traveler é uma obra prima à parte que captura com perfeição a essência da era de ouro de RPGs da Square. As faixas são inteiramente orquestradas e apresentam melodias com uma qualidade musical que raramente seriam encontradas por aí em um jogo qualquer.

Além de tudo isso, os diálogos também cumprem um excelente trabalho no desenvolvimento da ambientação e da personalidade do mundo de Orsterra. Todos os NPCs conseguem ser expressivos e ainda adicionam uma camada extra de charme para a “vida” e a diversidade de cada cidade do jogo.

A soma de todos esses elementos artísticos resultam em um charmoso mundo recheado de personagens simpáticos que funcionam em perfeita sincronia para proporcionar uma das experiências mais únicas da história dos RPGs.

Oito caminhos e uma conclusão



Pela primeira vez fora do Nintendo Switch, Octopath Traveler chega no Steam para provar que a antiga fórmula dos RPGs de turno ainda pode ser efetiva nos dias atuais. Alguns pequenos problemas na estrutura narrativa do jogo atrapalham, mas não é nada que realmente impeça o jogador de ser capturado pelo charme da aventura.

Mais do que uma carta de amor ao passado, Octopath Traveler apresenta um estilo artístico impressionante, uma trilha sonora de dar inveja a Nobuo Uematsu e um sistema de combate quase tão dinâmico quanto o de Persona 5 (PS3/PS4). É definitivamente uma compra mais do que obrigatória para os fãs do gênero de RPGs japoneses.

Prós:

  • Ambientação sensacional
  • Ótima trilha sonora
  • Visual deslumbrante;
  • Batalhas variadas e dinâmicas;
  • Boss Battles empolgantes;
  • Charme único.

Contras:

  • Escassez de interação entre protagonistas;
  • Sem função de luta automática;
  • Pouco tempo para desenvolver personagens;
  • Uso enjoativo dos character traits.
Octopath Traveler - Switch/PC - Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisor: Raphael Barbosa

Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix
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Estudante de jornalismo que não vê a hora de achar um estágio. Apaixonado por videogames e esperando o fim de Hunter x Hunter e Berserk desde que me entendo por gente.
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