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Análise: Batman: The Enemy Within (Multi) encerra o arco do Homem-Morcego de forma envolvente e impactante

A temporada final da história contada pela falecida Telltale surpreende com uma trama inédita e muito bem arquitetada.




Com seu primeiro episódio lançado em três de outubro de 2017, Batman: The Enemy Within (em tradução livre "O Inimigo Interior") é o segundo jogo do herói desenvolvido pela Telltale Games e distribuído pela Warner Bros. Interactive Entertainment. O game finaliza a franquia do vigilante pelas mãos do estúdio, que encerrou suas atividades em 2018. Assim como a maioria os games da desenvolvedora, o título de aventura e narrativa interativa com point 'n click foi disponibilizado em cinco capítulos de forma periódica, com seu encerramento em 27 de março de 2018.

De volta à Gotham

Nessa nova aventura do Cavaleiro das Trevas, Bruce Wayne se depara com uma ameaça que já é uma velha conhecida de Gotham, dos tempos em que seu pai, Thomas Wayne, era uma das grandes influências na cidade. O herói conhece o Charada, um vilão que utiliza de truques e, obviamente, charadas para ameaçar e torturar suas vítimas,durante um ataque a um casino.

Com a fuga do Charada, Batman conhece Amanda Waller, da Agência, que chega em Gotham para prender o vilão. Pouco depois descobre que o Charada mantém uma gangue conhecida como O Pacto, que nos introduz alguns dos rivais mais famosos do Homem-Morcego, além do surgimento de um dos seus maiores inimigos.



Agora Bruce Wayne, ou Batman, precisa investigar o Pacto para descobrir seus planos e livrar Gotham da mais nova ameaça, enquanto trava uma batalha interna onde seu código e moral são colocados à prova.

Bruce Wayne ou Batman: qual máscara usar?

Em The Enemy Within acompanhamos um Bruce Wayne que mistura ainda mais suas duas personalidades, o playboy rico e o detetive da noite, no combate ao crime. Ao precisar se infiltrar nas forças inimigas, o protagonista passa a usar mais a máscara de Bruce Wayne do que a de Batman, o que o faz questionar sua própria conduta e o quão longe está disposto a ir, entre mentiras e persuadir os que estão ao seu redor, para derrubar o crime e conseguir o que almeja. Apesar de enfrentar diversas perigos, um dos maiores inimigos do Batman pode ser ele mesmo.

Apesar do título, o desenvolvimento proposto ao protagonista acontece de forma bastante sutil e por muitas vezes passa a ser esquecido. A evolução dos personagens secundários é o grande destaque dessa história inédita criada para o jogo. Todos os personagens centrais da trama tem um grande peso na narração e possuem bastante impacto nos poucos momentos de atenção ao drama do protagonista, do quanto suas relações com Bruce Wayne/Batman influenciam na batalha interna vivenciada pelo herói.



Os fãs mais fiéis do Homem-Morcego podem ficar incomodados com uma ou outra história de origem que teve algumas alterações em The Enemy Within, mas que podem ser relevadas com ótimas performances e fidelidade à personalidade de tais personagens.

O impacto de suas escolhas! Será mesmo?

Se você jogou a primeira temporada e possui o save em seu console ou PC, o jogo analisa o arquivo e considera o desfecho da aventura anterior, trazendo algumas consequências do antecessor ao novo título. Apesar de levar em consideração os resultados da primeira temporada, pouco da nova história é alterada pelas escolhas em Telltale Series, como visual de certos personagens que retornam e algumas opções de diálogos que citam momentos do antecessor. Como nos primeiros minutos é feito um resumo rápido (que é igual independentemente do final realizado), a primeira temporada não torna-se obrigatória para jogar The Enemy Within.

Durante todo o jogo mantemos relações com personagens que podem ser melhoradas ou comprometidas dependendo dos diálogos escolhidos ou ações realizadas. Por exemplo, logo no início vemos que Amanda Waller e o Comissário Gordon não possuem uma boa relação, tanto que a líder da Agência tenta ao máximo afastar Gordon e a polícia de Gotham do caso do Charada. Dependendo das escolhas feitas nos diálogos, o jogador irá cooperar mais com Waller ou com Gordon, automaticamente atrapalhando o relacionamento com o outro, ajudando a moldar um dos finais do jogo.



Muitas vezes os diálogos e escolhas definem a situação de relacionamento com outros personagens mas que, na maioria das ocasiões, não tem real impacto nos momentos decisivos do jogo. São escolhas chaves que definirão como os últimos momentos da trama irão acontecer, o que não aborda tão bem a questão do Efeito Borboleta, teoria empregada nestes games de narrativa interativa, limitando o final a apenas duas opções com cada personagem central tendo, no máximo, dois destinos diferentes. Por ser a última temporada, a Telltale ousou um pouco mais ao colocar decisões e destinos finais muito impactantes ao jogador, agregando bastante valor à trama e a narração, o que no geral é um grande ponto positivo da empresa.

Isso sempre foi um "problema" nos títulos da Telltale, uma limitação de até onde suas escolhas tem real impacto. Se jogado duas vezes, percebemos que tanto Batman quanto os demais jogos da desenvolvedora nos disponibilizam quase sempre dois finais com dois ou três destinos para os personagens, nos dando uma falsa sensação de controle pelo jogo. Outras games do estilo, como Until Dawn (PS4) e Detroit: Become Human (PS4/PC), conseguem utilizar dessa forma de narrativa de forma mais eficiente e criativa, como, por exemplo, nas ações tomadas poderem definir diversos destinos aos personagens em diferentes momentos da trama, não apenas no final e de forma limitada.


Experiência melhorada, mas sem muitas novidades

The Enemy Within traz a clássica "receita de bolo" presente em, literalmente, todos os jogos da Telltale: exploração de cenários e interações inteiramente baseadas no point 'n click, opções de diálogo com personagens sempre dividido no padrão bom/neutro/ruim e sequências de ação em Quick Time Events, o clássico "aperte o botão certo na hora certa", presente na maioria dos jogos deste estilo, como da então concorrente Quantic Dream.

Apesar de trazer mais do mesmo, a desenvolvedora apostou em algumas novidades para o novo título do herói, porém pouquíssimo utilizadas. Opções de ações a tomar durante as lutas, como eletrocutar ou amarrar um inimigo, ou qual dos dois vilões atacar primeiro, fazem com que as lutas saiam um pouco do óbvio, mas que, a partir de certo ponto na história, passam a acontecer apenas em momentos estratégicos. A adição de combinações de botões durante as sequências de ação foi um bom incremento à mecânica do game, acrescentando um pouco mais de dificuldade às lutas.



O motor gráfico também é o mesmo utilizado em todos os jogos da Telltale mas com algumas melhorias no visual, o que já é de se esperar na evolução dos games de uma desenvolvedora. Os gráficos continuam com aquela aparência de quadrinhos e com contornos mais suaves e expressões faciais um pouco mais convincentes.

Vale a pena jogar?

Durante suas 9 horas de campanha, Batman: The Enemy Within traz mais uma grande história contata pela Telltale com algumas novidades na jogabilidade. Apesar do título remeter a embates internos de Bruce Wayne, a trama trabalha de forma discreta, e até esquecível, os dilemas do herói.

O destaque fica por conta da evolução dos personagens secundários que são extremamente importantes para o desenvolvimento da história. Para os amantes de narrativas interativas e do Homem-Morcego, o jogo é um prato cheio!




Prós

  • História inédita e envolvente
  • Ótimo desenvolvimento de personagens secundários
  • Novos comandos nos combates

Contras

  • Drama principal do protagonista mal desenvolvido 
  • Falsa sensação de controle pela história para uma narrativa interativa
  • Poucas opções de finais
Batman: The Enemy Within — PC/PS4/XBO/Switch/Android/iOS — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS4
Análise produzida com cópia adquirida pelo redator.
Revisão: Flávio Priori

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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