Análise: Giga Wrecker Alt. (Multi) é uma hipotética criança bastarda do estúdio Trigger com Mega Man

Desenvolvido pela Game Freak, mundialmente conhecida por Pokémon, o título entretém por sua mecânica central, mas acaba sendo muito prejudicado pela física pouco precisa.

em 15/05/2019
A Game Freak é conhecida primariamente por conta de seu sucesso de proporção mundial: Pokémon. De fato, estamos nos referindo a uma das franquias mais lucrativas e jogadas da história, com lançamentos recorrentes que tomam a maior parte do tempo da desenvolvedora. Entretanto, algo importante a se ressaltar é que, embora seja uma das principais detentoras da marca Pokémon, ela não é diretamente submissa à Nintendo. Isso permite que ela, ocasionalmente, acabe por desenvolver e lançar títulos não relacionados à série dos monstrinhos de bolso e fora de um console pertencente à gigante japonesa.


Giga Wrecker (PC) é um dos exemplos interessantes que acabaram surgindo dentre um Pokémon e outro, ao lado de Drill Dozer (GBA), HarmoKnight (3DS) e Tembo The Badass Elephant (Multi). Esses dois últimos, inclusive, assim como Giga Wrecker, são projetos tocados por funcionários após a Game Freak ter mudado sua política de desenvolvimento, reestruturando-se de uma forma a conseguir produzir outras propriedades intelectuais paralelamente ao seu carro-chefe.



Giga Wrecker Alt. (Multi), por sua vez, é sua versão portada para os consoles de mesa. Ele nos conta a respeito de Reika, nossa heroína resgatada por uma outra garota misteriosa, mas que eventualmente acaba perdendo o braço e é deixada para morrer em um universo futurista controlado  por robôs. A protagonista eventualmente acaba sendo salva por um cientista, que a confere com um braço mecânico que utiliza nanomáquinas capazes de controlar os detritos daquele universo marginal desbravado neste sidescroller 2D no formato metroidvania.

Isso acaba significando que o game todo se dava em um único grande mapa cujas partes iam sendo liberadas aos poucos, de acordo com os power ups adquiridos pelo jogador após muita exploração e chefes derrotados. Giga Wrecker Alt., por sua vez, nos faz explorar essa fortaleza robótica resolvendo uma série de quebra-cabeças cuja solução envolve a utilização inteligente do braço artificial de Eika, o BRAÇO (ARCHE, na versão original).



Dessa forma, ele é o principal responsável por recolher os restos de metal espalhados pelo mapa e moldá-los de diferentes formas — desde a mais simples, como a esfera de metal, até outras mais elaboradas, como uma lâmina, sempre se baseado nas físicas do jogo. Em determinado momento, é possível untar os nossos destroços com uma cola que torna nossa esfera uma bola de borracha com várias funções, como uma cama-elástica capaz de lançar a personagem na tela e fazê-la alcançar lugares mais altos, por exemplo.

A questão principal de um plataformer, especialmente no caso de Giga Wrecker, cujas principais mecânicas envolvem a utilização da física dos cenários, é que a otimização da precisão acaba se tornando crucial. Infelizmente, o jogo se prejudica muito nesse ponto por conta de certas plataformas em que a personagem acaba passando reto quando se posiciona para cair em cima delas, varando-as. A própria bola de borracha também acaba sofrendo pela imprecisão por conta de sua sensibilidade mal calibrada.

Esse tipo de coisa acaba se mostrando frustrante por tomar muito mais tempo do jogador do que o necessário, visto que ele pode até saber a solução exata de um quebra-cabeça, mas é impedido por não conseguir colocá-la efetivamente em prática por conta desses defeitos, fazendo-o repetir a mesma ação incontáveis vezes até acertá-la. Por sorte, o jogo nos dá todo o tempo do mundo, uma vez que há pontos que restauram completamente o ambiente próximo ao estado original, antes de ser parcialmente destruído durante o processo de resolução do enigma. A impressão é que o título tem noção de seus problemas e tenta compensar isso de alguma forma bem mais direta.


Em contraponto aos puzzles, há também os robôs inimigos espalhados pelo mapa e que precisam ser destruídos. Isso pode ser realizado de várias formas por conta dos poderes diversificados do BRAÇO de Reika. Dessa forma, é possível afirmar que a agilidade desses microcombates acaba se tornando um dos principais destaques do jogo, conferindo a Giga Wrecker Alt. um ritmo sólido da jogabilidade que soube ser capaz de cadenciar com sabedoria os dois momentos de forma alternada.



Adicionalmente, vale ressaltar que, apesar da arbitrariedade da física do jogo. elas dificilmente acaba sendo responsável por promover frustração. Isso acabou se mostrando excepcionalmente incomum por ser um game essencialmente focado nessas mecânicas que muito não funcionam de maneira constante. Muito disso acaba se dando, talvez, por conta da apaixonante direção de arte e apresentação de Giga Wrecker, que na prática acaba lembrando um pouco das produções do Studio Trigger, visto que tanto a estética quanto a própria história do game acaba lembrando algumas das obras clássicas do estúdio de animação em questão, como Kill la Kill ou Kiznaiver.

Também é possível enxergar alguns resquícios de Mega Man. Não apenas por conta da temática robótica, mas também na maneira como os chefões são dispostos ao longo do jogo, exigindo alguma atenção e a utilização pontual de certos esquemas em looping no intuito de garantir a vitória, visto que a fórmula para os derrotar é exageradamente simples, mas aplicá-la é proporcionalmente complicado por conta de uma dificuldade elevada.



Em tempo: essa versão Alt. especial para os consoles conta com alguns adicionais que envolvem um modo de dificuldade ainda maior — aplicado somente ao combate —, níveis extras e dicas que dão a solução final de certos quebra-cabeças, mas que funciona de uma forma similar às aulas de matemática da escola: não adianta nada ter a resposta do problema se você não tem noção de como é o processo para chegar lá.

No fim das contas, o principal mérito de Giga Wrecker Alt. é a versatilidade. Apesar de seus defeitos — típicos da Game Freak, vale ressaltar — há muito valor nessa dinâmica única trazida pelo game ao pegar uma história e cenário clichês e aplicá-los em level design exemplar potencializado por uma mecânica original intrigante (cujo maior revés é justamente a física aplicada do jogo).



Esse tipo de experimentação, ainda, talvez seja o que falta para o estúdio. Ele diversas vezes já mostrou ter potencial para se expandir e deixar para trás o estigma de só saberem fazer Pokémon, mas não o fazem porque, bem, você foca sua produção naquilo que rende mais.

Prós

  • História que usa clichês com sabedoria;
  • Apresentação carismática;
  • Interessante mecânica central que envolve utilizar os destroços robóticos;
  • Alternância entre os momentos de combate e puzzles bem cadenciada.

Contras

  • Física problemática (o que mesmo sozinho é um problema mais grave do que parece).

Giga Wrecker Alt. — Switch/PS4/XBO — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS4

Análise produzida com cópia digital cedida pela Rising Star Games.
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É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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