Os terrores do primeiro emprego
Brian Pasternack é um jovem inexperiente que um dia recebe uma misteriosa carta convidando-o a trabalhar em uma das empresas mais importantes do ramo de tecnologia, a Sintracorp. De origem humilde, o rapaz tem no emprego uma oportunidade de ouro para crescer profissionalmente. No entanto, um pequeno detalhe faltava no seu convite à empresa: qual seria o cargo de Brian dentro da Sintracorp?
Em pouco tempo, o personagem se vê em meio a eventos misteriosos e macabros. A grande corporação é claramente um lugar perigoso, e algo muito sombrio está acontecendo por lá. Lendas locais dizem de uma bruxa que corrompe as almas dos empregados e transformam o ambiente de trabalho em algo literalmente nocivo e tóxico. Todas as pessoas que trabalham no prédio são, de uma forma ou de outra, influenciadas por essa presença.
Cabe ao jovem, então, realizar uma série de tarefas que envolvem explorar o prédio, conhecer novas pessoas e sobreviver aos perigos que rondam os corredores, muitas vezes escuros, da Sintracorp. Até mesmo alguns dos outros funcionários podem atacar o protagonista em uma crise de estresse.
Nesse sentido, é interessante reparar no trabalho de ambientação do jogo. Mesmo contendo elementos sobrenaturais, o inventário do protagonista conta com itens relacionados ao trabalho (lápis, papeis, caixas de papelão) cuja utilidade é ressignificada para o contexto estranho que Brian precisa enfrentar. Também é curioso, por exemplo, que outros funcionários possam atacar Brian devido a seus altos níveis de estresse.
A escolha de adaptar para o terror pequenos elementos de trabalhos de escritório é muito bem colocada, criando um tipo de horror que é bastante peculiar e único. Em particular, destaco um certo chefe que Brian precisa enfrentar que em muito me lembra piadas de quando eu trabalhava em um laboratório. O objeto que foi utilizado como inspiração para a criatura era conhecido por funcionar de forma errática e isso me fez apreciar bastante a inclusão desse inimigo.
Em termos de história, existe um bom equilíbrio entre humor e terror. Boa parte dos diálogos refletem uma visão caricata das corporações e dos comportamentos dos funcionários, utilizando o humor como forma de facilitar a imersão do jogador. No entanto, a tensão está sempre presente e a progressão no jogo também implica em ter mais e mais contato com seus elementos aterrorizantes.
Sobreviver não é tão simples
Apesar da escolha atípica de ambientação, Yuppie Psycho é um survival horror tradicional. Ou seja, o jogador está constantemente tenso em manter seus recursos e utilizá-los nos momentos mais adequados. Até mesmo salvar o jogo demanda o uso de itens (um papel de bruxa e, em alguns casos, cartuchos de tinta para consertar as impressoras), algo que pode muitas vezes ser frustrante por forçar o jogador a refazer trechos extensos de gameplay em prol de manter um estoque desse item.
Por um lado, no caso de alguns inimigos o jogador tem formas de retaliar. Por exemplo, as criaturas que se assemelham a minas podem ser mortas utilizando um lápis (outro recurso consumível) e um dos chefes pode ser derrotado com elementos do cenário. Por outro, há também aqueles contra os quais Brian nada pode fazer e, por isso, precisa se esconder, correr ou encontrar outra forma de fugir. Esse segundo caso é muito mais comum do que o primeiro, deixando o jogador em uma posição de vulnerabilidade ideal para valorizar o horror.
Outro tipo de item importante são as comidas e bebidas, que restauram a vida de Brian. Podemos conseguir café, barra de chocolate, água, sanduíche, macarrão instantâneo, entre outros. Pela natureza do jogo, é natural evitar usá-los até que não seja mais conveniente. Ao tomar muito dano e estar próximo de morrer, Brian começa a ficar ofegante, sua visão fica manchada de sangue, sua movimentação mais lenta e ele não consegue mais correr. Evitar essa situação é fundamental para sobreviver.
Ainda no aspecto do inventário, existe uma interessante escolha de apresentar dois itens de iluminação diferentes: uma lanterna, que custa baterias e ilumina apenas a área à frente do jogador; e uma outra fonte de iluminação que projeta um círculo de luz em torno do jogador e pode ser colocada no chão para iluminar mais os ambientes. Infelizmente, apesar de existirem muitos locais escuros no jogo, a diferença entre esses dois itens não é muito explorada e, durante meu tempo com o jogo, curiosamente nunca precisei economizar as baterias da lanterna.
Em termos de terror, além da ambientação escura, existe um bom uso de efeitos sonoros. Por exemplo, um dos chefes que muito se parece uma aranha em um de seus ataques deposita uma mina no chão e o som disso acontecendo é horripilante e um bom indicativo para o jogador (já que isso é importante para derrotar o inimigo). Também existe um bom uso de silêncio e sons que fortalecem a sensação de ambiente vazio, fortalecendo o isolamento do jogador e a sensação de vulnerabilidade.
De forma geral, Yuppie Psycho é uma interessante adição aos jogos de survival horror, apresentando uma escolha inusitada de ambientação corporativa. Mais do que isso, utilizando-se de características clássicas do gênero e de uma boa imaginação que transforma elementos típicos de escritório em itens e inimigos, o jogo consegue apresentar uma aterrorizante experiência de primeiro emprego.
Prós
- Premissa inusitada é bem utilizada nos vários elementos de terror do jogo;
- Narrativa combina bem humor e terror;
- Características clássicas de survival horror são, no geral, bem empregadas;
- Bom uso de efeitos sonoros.
Contras
- Apesar de ser uma característica clássica do gênero, gastar itens para salvar é potencialmente frustrante.
Yuppie Psycho - PC - Nota: 8.5
Revisão: Renata Bottiglia
Análise produzida com cópia digital cedida pela Another Indie