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Análise: Pikuniku (PC/Switch) — puzzles e muito humor em um mundo carismático

Em um local dominado por uma empresa totalitária, uma simpática criatura tenta ajudar todo mundo em um jogo leve e divertido.


Receber dinheiro grátis, sem muito esforço, parece um ótimo negócio — quem não gostaria de comprar o que quiser facilmente? E é justamente isso o que acontece no mundo de Pikuniku, inusitado jogo de exploração e puzzle. Controlando um monstrinho vermelho, precisamos superar desafios de plataforma e ajudar criaturas inusitadas em uma ilha vibrante e repleta de segredos. E, claro, aos poucos descobrimos que dinheiro grátis não necessariamente é bom para todo mundo.

A saga de um monstro desajeitado

O protagonista Piku é um monstro vermelho temido por todos, pois as lendas dizem que ele é uma criatura maligna feita de puro caos. Na verdade, ele é bem inofensivo e só quer fazer amigos, por mais que seu jeitão desajeitado cause problemas: nas suas andanças, ele quebra coisas e atrapalha, sem querer, as outras criaturas. Mesmo assim, ele vai fazer o possível para ajudar todo mundo.

Em sua essência, Pikuniku é um jogo de plataforma e exploração. No controle do monstrinho vermelho, desbravamos um mundo colorido resolvendo missões e puzzles. Alguns desses desafios são de plataforma e exigem que Piku pule e use suas habilidades de navegação para chegar em algum lugar de difícil acesso. Já outros momentos exigem interagir com personagens e resolver tarefas, como encontrar itens ou acessar algum lugar específico. Há também minigames, áreas de desafio e mais — variedade é uma constante na aventura de Piku.


O mundo do jogo tem muitas possibilidades de exploração fora da linha principal da história, que é bem compacta e bem amarrada. Pelo caminho, é comum encontrar locais inacessíveis ou criaturas que pedem favores impossíveis de serem feitos naquele momento. Aos poucos, as possibilidades abrem ao adquirir novos itens, principalmente chapéus especiais. As vestimentas mudam a aparência do herói de maneiras divertidas e também dão acesso a habilidades: uma fantasia de lápis permite desenhar em locais específicos, é possível criar plataformas ao molhar plantas com um chapéu de regador, uma máscara de monstro é perfeita para espantar outras criaturas e assim por diante. Há, também, colecionáveis e muitas áreas opcionais escondidos pelo mundo.

Um dos aspectos mais curiosos de Pikuniku é a movimentação do personagem. Piku é, basicamente, uma esfera com pernas longas que se move muito desajeitadamente: seus membros sempre estão inclinados para trás, resultando em um caminhar bem curioso. O pulo também é desengonçado, com um movimento de rotação levemente descontrolado. Sendo assim, parte do desafio é justamente controlar o protagonista, já que seus movimentos não são tão precisos. Essa característica é inofensiva na maior parte do tempo, porém atrapalha um pouco em alguns puzzles que exigem precisão: tive dificuldades em momentos em que eu precisava executar uma série de saltos rapidamente ou então mover algum item por meio de chutes.


Fora da aventura principal, há um modo cooperativo para dois jogadores. Nele, uma dupla de Pikus precisa trabalhar em conjunto para chegar no fim de vários estágios com puzzles e desafios de plataforma. Essa modalidade apresenta uma série de ideias criativas e interessantes não presentes no modo principal, sempre se aproveitando da presença de dois heróis. É uma experiência bem distinta e divertida, recomendo bastante convidar um amigo para resolver esses desafios.

Humor e questões sérias em um mundo cartunesco

O meu aspecto preferido em Pikuniku foi sua ambientação. O jogo usa cores chapadas e vibrantes para criar um mundo que parece um desenho animado. Os cenários e personagens são construídos com formas geométricas simples, no entanto não deixam de ter personalidade, principalmente por causa da movimentação inusitada das criaturas. E os habitantes do mundo são no mínimo curiosos: uma pedra louca por chá, uma mamãe pássaro gigante bem ríspida, uma torrada mágica maligna, folhas que andam (mas que ficam presas sem querer em árvores), robôs insatisfeitos com o salário, e mais.


O humor é uma constante em Pikuniku por meio de situações e diálogos bem humorados. O monstrinho tem boas intenções, mas nem sempre é bem compreendido, resultando em situações divertidos. Em um momento, por exemplo, Piku precisa entrar em uma boate. No entanto, o robô segurança só deixa entrar quem estiver vestido "com estilo". Fui na lojinha, comprei um par de óculos escuros (pois os habitantes da cidade disseram que este era um acessório "estiloso") e voltei no segurança. Ele achou o visual legal e me deixou passar, mas logo em seguida disse "óculos escuros como estilo é algo muito brega, eu só te deixei passar por ver que você está desesperado". É esse tipo de humor bobo e divertido que permeia Pikuniku.

O mais curioso é que por trás de tanta cor e humor o jogo aborda temas mais sérios. No mundo de Pikuniku, uma empresa chamada Radiante Ltda distribui dinheiro de graça em troca de “lixo”, como pedras, milho, madeira e água. Os habitantes do local já se acostumaram com a riqueza fácil e não questionam as ações da empresa — que, inclusive, vigia todos os cantos com câmeras escondidas. É óbvio que a empresa tem intenções nefastas e controla o povo com dinheiro (alguns até se questionam o que fazer com tanto dinheiro). Em meio a isso, Piku acaba se envolvendo em uma espécie de revolução, enfrentando a empresa Radiante Ltda no decorrer da aventura, e acaba instigando as criaturas pelo caminho. De maneira sutil e natural, o jogo levanta questões sobre privacidade, a apatia das pessoas e domínio da massa por grandes empresas.


Vale a pena acompanhar um monstrinho cativante

O charme de Pikuniku está em sua estranheza, representada por um mundo colorido e cheio de personagens e situações inusitadas. A aventura de Piku é repleta de puzzles simples, porém divertidos, que exploram a movimentação marcante do personagem, além de vários incentivos para vasculhar todos os cantos. Outro ponto muito legal é o tom bem humorado dos diálogos e situações, que consegue abordar com leveza alguns temas sérios. Breve e bem amarrado, Pikuniku é uma experiência prazerosa e única.

Prós

  • Atmosfera bem humorada e com situações divertidas;
  • Boa mistura entre puzzles de plataforma e exploração;
  • Visual colorido e personagens carismáticos;
  • Aventura compacta, mas com muito conteúdo opcional.

Contras

  • Física problemática em alguns momentos.
Pikuniku — PC/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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