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Análise: Mega Man X Legacy Collection 2 (Multi) é uma bagunça, mas feita com amor

Esteja avisado que nenhum jogo nessa coleção é realmente bom, mas vale o esforço.


Mega Man X Legacy Collection 1 (Multi) cria um momentum incrível para qualquer fã de Mega Man. Depois de jogar os quatro primeiros games, você fica sedento por mais e é natural que decida partir para Mega Man X Legacy Collection 2 (Multi) para ver o que mais essa franquia tem para lhe oferecer. Péssima decisão, meu amigo! Apesar de ter tido um cuidado especial da parte da Capcom, a falta de qualidade nos jogos torna difícil recomendar essa coletânea para qualquer um.


O X da questão

Mega Man X Legacy Collection 2 reúne em um só pacote Mega Man X5 (PS1), Mega Man X6 (PS1), o infame Mega Man X7 (PS2) e Mega Man X8 (PS2). Diferente da primeira coletânea, todos receberam pequenos ajustes para esse relançamento. A mudança mais perceptível acontece logo no primeiro jogo. Os oito chefes principais de Mega man X5 tinham nomes cômicos que não encaixavam nem um pouco com as convenções da franquia, logo foram alterados nesta nova versão.

Já Mega Man X6 contava com algumas músicas cantadas em japonês que tiveram que ser trocadas por novas composições, devido a problemas com direitos autorais. Os outros dois jogos sofreram menos alterações, mas receberam um tratamento HD que deixou os jogos bem mais bonitos nos televisores modernos.


Em sua maioria, os títulos dessa coletânea são até minimamente decentes, mas não chegam perto da genialidade de seus antecessores. Essa segunda metade da franquia não entende muito bem o que fez os outros jogos darem certo e implementam diversas decisões de design que vão aos poucos matando a série. O motivo para esses games serem tão fracos é bem simples: ganância.

Desde o começo, Keiji Inafune, cocriador de Mega Man e Mega Man X, planejava encerrar a série em Mega Man X5. A história do jogo conclui muito bem o arco da saga de X e Zero até então e ainda prepara terreno para seu sucessor: a série Mega Man Zero no Game Boy Advance. Infelizmente, a Capcom tinha outros planos para o robozinho azul e prosseguiu sem Inafune e sem ideia nenhuma do que fazer com os games.
Inafune deixou a franquia depois de X5 para focar em Mega Man Zero

O melhor dos piores 

O resultado é bem evidente e difícil de mascarar. O próprio Mega Man X5 já é mediano, tentando com todas as suas forças emular o sucesso de Mega Man X4. A história que o jogo quer contar é uma das melhores da saga, mas infelizmente os produtores não souberam como contar. A escrita é completamente desinteressante e os novos personagens não têm o menor carisma, mostrando uma completa ausência de emoção, tão presente em seu antecessor.

O level design é de longe sua pior fraqueza. X e Zero estão de volta com a maioria de suas habilidades, além de uma nova mecânica que permite que os heróis se pendurem em cordas. A adição não é explorada neste jogo, mostrando verdadeiramente seu potencial em uma única fase. O estilo das fases é bem diferente dos jogos anteriores, voltado mais para ação e menos exploração. O problema é que por algum motivo eles tentam reutilizar estrutura de fases populares de outros games, resultando num completo caos.


Vale ressaltar a adição da Alia entre os novos personagens, uma “ajudante” que te para o tempo todo para dizer coisas óbvias. Comparando com o primeiro Mega Man X, no qual os jogadores aprendiam os comandos do jogo enquanto jogavam a primeira fase de maneira orgânica, fica evidente que esta personagem sozinha vai contra toda a proposta da série, tirando completamente a independência do jogador.

Se antes você descobria novas rotas, como usar seus poderes, ou naturalmente tudo que precisava sozinho e sem problemas, agora é forçado a passar por uma infinidade de caixas de diálogo expositivo que explicam as coisas mais óbvias, como carregar o tiro e caminhos alternativos. É extremamente condescendente e não funciona em uma série que se vende como madura. Acaba sendo só mais um exemplo de como os desenvolvedores não entendiam a essência por trás de um bom Mega Man X.

A pressa é inimiga da perfeição

Mega Man X6 foi feito às pressas para aproveitar o sucesso que a série estava fazendo e isso fica bem evidente. No ocidente, ele foi lançado no mesmo ano que X5, para você ter uma ideia. Esqueça level design, praticamente todas as fases dependem exclusivamente de algum truque patético que simula dificuldade. Engraçado que esses truques acabam tornando cada fase memorável, mas pelos motivos errados.

Uma fase é um compactador de lixo que te mata com facilidade, outra uma linha reta onde você é acertado por um robô gigante e temos também uma fase onde você deve enfrentar o mesmo miniboss sem graça uma dúzia de vezes. Para salvar, o jogo conta com uma das melhores trilhas sonoras da série. Toda fase tem uma música incrível que fica na cabeça por anos. De modo geral, Mega Man X6 é uma bagunça, mas ainda diverte.

Um desastre em forma de jogo

Mega Man X7, por outro lado, é de longe o jogo mais tedioso de todos. Se ele evoca algum sentimento, este é frustração e vergonha alheia. Com o salto para o PlayStation 2, a mudança para um jogo 3D era inevitável e não seguiu muito bem. As fases trazem um misto de ambientes 2D e 3D. Os ambientes 2D funcionam como deveriam, mas as fases 3D simplesmente não funcionam.

Não é possível mover a câmera, e a sua mira nesses segmentos é automática, logo com muitos inimigos as coisas ficam bastante confusas. Felizmente as fases não usam tanto esse recurso e o resultado são apenas estágios sem inspiração nenhuma. Os gráficos são horríveis até para os padrões do PS2, cheios de texturas borradas, e a dublagem é uma das coisas mais bizarras do jogo, com uma atuação tão ruim que virou motivo de piada entre os fãs da série.


Por fim, o novo protagonista Axl vem junto a um sistema que te permite trocar personagens quando quiser. Assim, é possível jogar a maior parte do jogo com Zero, para a alegria geral da nação. Por utilizar movimentos exclusivamente físicos, jogar com ele evita boa parte dos problemas que surgiram com o 3D. Em resumo, um jogo a ser evitado.

Redenção final

O último jogo da coletânea é Mega Man X8, que mesmo utilizando algumas bases de seu antecessor, o jogo é bastante sólido. Os gráficos continuam sendo tridimensionais, mas as fases são inteiramente em 2D. Sendo assim, pode esperar a jogabilidade clássica de volta com a adição da troca de personagens no meio da fase, muito mais orgânica e refinada.

Axl também surpreende aqui, funcionando como um especialista de armas da equipe com um arsenal de respeito e a habilidade de mirar livremente em 90º. O personagem traz um frescor ao combate que é muito bem-vindo e se mostra divertido de se jogar. A dublagem é excelente e a história entretém, deixando uma boa impressão final para quem ousar jogar toda a coletânea.

Cereja do bolo

Para fechar a coleção, a Capcom também trouxe alguns extras e dois novos modos. O extra mais interessante é a inclusão do curta The Day of Sigma, lançado originalmente com Maverick Hunter X (PSP), que funciona como uma prequel para o primeiro jogo. Infelizmente, há algumas contradições com os acontecimentos de alguns jogos, então não dá para ser considerado oficial. Ainda assim, dá uma boa ideia de como seria incrível um anime da série.

Temos também uma robusta galeria com artes conceituais dos quatro jogos, além de algumas informações adicionais, conquistas, uma coletânea com as músicas da franquia, entre outros bônus que agregam um valor sentimental ao jogo. Já entre os modos, a Capcom decidiu agradar a gregos e troianos. Para os novatos, temos o Rookie Hunter Mode — uma opção para facilitar os jogos da coletânea que pode ser ativada a qualquer momento. O modo é uma ótima opção para enfrentar os jogos mais desagradáveis da série, caso esteja apenas curioso para ver como eles funcionam.


Agora se o seu lance é um bom desafio, o X Challenge Vol. 2 foi feito para você. Este modo é basicamente um boss rush com chefes de todos os jogos da franquia, antes da era PlayStation 2. Controlando X em uma armadura inédita, você deve enfrentar pares de chefes de jogos diferentes em sequência. Os dois chefes têm habilidades que se complementam, tornando cada batalha bastante icônica e um verdadeiro sonho para fãs da série. Como a maioria dos desafios é igual aos de Mega Man X Legacy Collection 1, você não precisa comprar este jogo apenas para testar esse novo modo. Mega Man X Legacy Collection 2 é definitivamente feito apenas para os fãs mais hardcore do robozinho azul.

Prós

  • Reunião de títulos pouco comuns, que representam uma fase de experimentação da franquia;
  • Mega Man X8 traz um vislumbre de como a série poderia ser interessante em 3D;
  • Visuais receberam um tratamento HD bastante necessário; 
  • Conquistas ajudam a explorar tudo que há de melhor em cada jogo;
  • X Challenge é divertido e os chefes formam pares complementares;
  • Artes, músicas e todo conteúdo extra é muito bem curado, trazendo um presente incrível para os fãs mais hardcore.

Contras

  • Mega Man X7;
  • Nenhuma preocupação com a continuidade da série;
  • Coleção reúne os títulos mais fracos da franquia;
  • Ausência de opções mais variadas de dificuldade faz falta;
  • Grande parte das combinações do X Challenge se repetem entre as coletâneas.

Mega Man X Legacy Collection 2 — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom


Gabriel Mattos estuda Ciência da Computação e procura sempre estar em equilíbrio com a Força. Pode ser encontrado por aí especulando sobre os próximos lançamentos da Nintendo e da Playstation na GameBlast e no Twitter.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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