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Análise: Thimbleweed Park (Multi), uma viagem no tempo para 1987

Com uma estética noir, mecânicas que reportam aos antigos jogos da engine SCUMM e um primoroso trabalho de dublagem, este game se destaca pela nostalgia e pela curiosa história de cada personagem.



Fim dos anos 80. Um suspense policial. Uma cidadezinha com população de 80 habitantes. Com esses ingredientes, Ron Gilbert (Maniac Mansion e Monkey Island) e seus colegas desenvolveram por meio de um financiamento coletivo Thimbleweed Park que é uma verdadeira ode aos adventure games antigos. Lançado para as principais plataformas atuais, há muitos motivos para experimentá-lo.

30 anos atrás

Pra quem conhece clássicos como Full Throttle e Day of Tentacle, o esquema é basicamente o mesmo: você tem diversas ações à disposição, como [FALAR], [PEGAR] e [EMPURRAR], além de itens que são encontrados e utilizados para a devida progressão na jornada. Conversando com os moradores e examinando muito bem os ambientes, os personagens vão avançando nos capítulos da história.

O jogador encontra referências aos clássicos antigos da LucasArts, cultura nerd em geral (há um cartucho de E.T. do Atari 2600 perdido na estrada!), e muito da cinematografia do fim dos anos 80 e início dos anos 90 (como Twin Peaks). Gráficos pixelados muito bem trabalhados e diálogos narrados em inglês acrescentam profundidade à trama.


A intenção da desenvolvedora Terrible Toybox foi, claramente, trazer um game de 30 anos atrás para os dias de hoje. É surpreendente que mecânicas como a de jogos da série Monkey Island ainda funcionem bem e se encaixem perfeitamente em plataformas móveis, onde se pode fazer uso do touchscreen, facilitando a movimentação dos personagens.

Uma porção de mistérios

Um palhaço grosseiro, dois investigadores com intenções distintas, uma jovem game designer e seu pai compõem os protagonistas. A partir de um assassinato misterioso, podemos acompanhar as pretensões desses cinco personagens, com direito a alguns flashbacks e um punhado de informações adquiridas por meio dos numerosos diálogos. A história trata, de maneira rasa, de temas como família, poder e até desenvolvimento de jogos, tudo recheado com muito bom humor.

Há uma nostalgia em revisitar aquele estilo dos antigos games point-and-click do MS-DOS e, ao mesmo tempo, um prazer em desvendar os mistérios por trás da história particular de cada personagem. Para facilitar, existe uma lista de tarefas no inventário com os objetivos individuais a serem completados.


Alguns podem ficar frustrados com a dificuldade, pois às vezes ficamos passeando pelos cenários sem saber o que fazer para cumprir o objetivo. Há dois modos de dificuldade: um mais fácil com mais pistas e menos enigmas, para quem não quer investir muito tempo no jogo; e outro mais desafiador, com todos os quebra-cabeças completos, para aqueles dispostos a examinar cada canto do mapa atrás de detalhes em busca da resolução das tarefas. A história tem uma duração regular para o gênero, beirando cerca de 15 horas. Esse tempo é relativo, vai depender do que for despendido pelos jogadores em busca de informações para solução do quebra-cabeça.

O título ainda oferece um sistema de ajuda interessante por meio de um teleatendimento para quem está perdido. Alguns momentos podem quebrar bastante o ritmo do jogo, pois, sem saber pra onde ir, o jogador fica perdido e é obrigado a solicitar pistas. Por meio de um número de telefone, para o qual os personagens devem ligar, pode-se cadenciar a quantidade de dicas de maneira a não estragar os mistérios de cada puzzle.


Conversar e explorar é fundamental

O cuidado dos desenvolvedores com os detalhes beira o absurdo, desde uma biblioteca com três andares repleta de livros, onde cada obra apresenta um pequeno trecho escrito, até a escolha do barulho que o personagem faz ao utilizar um bebedouro. Ouvir o que cada morador tem a dizer aos diversos personagens e explorar cada local é fundamental para apreciar o carinho colocado nesse game.

Uma pena que o jogo não tenha (ainda) legendas em português, o que talvez afaste alguns jogadores. A trilha sonora também é um tanto repetitiva (a emissora de rádio da cidade toca a mesma música sempre, por exemplo), e o próprio jogo faz piada com isso. Levando em conta o tempo que se gasta passeando pelos locais, essa repetição incomoda um pouco, mas nada que atrapalhe, de fato, a aventura — as músicas são boas, porém enjoam rápido.


De um modo geral, a jornada se resume a resolver os pequenos dramas de cada personagem e conhecer pelas entrelinhas dos diálogos as relações entre os habitantes da cidade. Nada é muito complexo, mas a curiosidade de saber para onde a história vai nos levar é o que guia o jogador. É uma jornada que se desenvolve de maneira lenta, mas divertida e desafiadora, dentro dos limites do gênero.

Apesar da eventual monotonia diante de alguns trechos mais complicados, o jogo diverte com várias piadas e mistérios envolvendo os estranhos habitantes de Thimbleweed. Como o próprio marketing do game deixa implícito - se você gosta de Stranger Things, adventure games ou mesmo dessa ambientação anos 80/90 - por favor, não deixe de embarcar nessa história feita à moda antiga.


Prós:

  • Belo trabalho de pixel art;
  • Puzzles muito bem construídos;
  • Atenção a detalhes impressiona;
  • Interessante desenvolvimento do arco dos personagens.

Contras:

  • Trilha sonora repetitiva;
  • Ritmo do jogo pode ser entediante em alguns momentos.
Thimbleweed Park - PS4/XBO/Switch/iOS/Android/PC - Nota 8.5
Versão utilizada para análise: Android
Revisão: Farley Santos
Análise produzida com cópia digital adquirida pelo redator


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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