Um conto de fadas conturbado
The Count Lucanor acompanha a história do menino Hans enquanto este se aventura por uma jornada envolta em mistérios e ameaças macabras. Tudo começa quando Hans recebe um presente de aniversário do qual não gosta muito e resolve sair para passar o dia nos campos, bem longe de sua mãe. Ao longo deste dia ele encontra diversas pessoas e animais e, ao final, acaba “caindo no sono”, percebendo tarde demais que já havia anoitecido. Quando resolve voltar para sua casa, percebe que as coisas estão um tanto quanto mudadas e bem mais perigosas, precisando buscar então abrigo no castelo do chamado Conde Lucanor.Quem o recebe é um Kobold Azul, o qual confunde o jovem Hans com outra pessoa, dizendo que ele poderia ser o herdeiro do Conde. Para ganhar o domínio do castelo e de todas as riquezas do conde, Hans só precisaria responder corretamente uma única e simplória pergunta: qual o nome do Kobold Azul. Aí começamos nossa jornada. Presos no castelo, precisamos desbravar suas sombras e conversar com algumas das mais grotescas e horripilantes criaturas para conseguir, talvez, descobrir qual o nome verdadeiro do pequeno diabrete que nos mantém neste lugar tão bizarro.
A história e o tom com o qual ela é contada é uma mistura muito satisfatória entre conto de fadas, comédia e terror. Em alguns momentos nos deparamos com uma tensão não imaginada, já em outros rimos pelo tom ácido que algumas frases são construídas, enquanto em outras nos divertimos com uma mistura desses dois climas tão contrários. Tudo com uma roupagem que lembra contos como o do Anão Saltador dos Irmãos Grimm, onde o famoso Rumpelstiltskin é o antagonista da história.
Uma Pixel Art agoniante
Um dos melhores acertos de Count Lucanor é o seu visual. A Pixel Art é utilizada de forma muito eficiente e com uma qualidade pouco vista em outros jogos. Aspectos específicos do visual do jogo, como sua iluminação e cores ajudam a causar um certo pavor despretensioso, que nos deixa um tanto quanto tensos nas primeiras horas de jogo, mesmo com um visual tão caricato e simplório. O uso adequado de elementos mais voltados para o gore como poças de sangue e tentáculos causam o efeito ideal para manter o jogador atento e tenso.
A trilha sonora do jogo é outra pérola que agrega ainda mais tanto na jogatina como em seu clima de terror. Com melodias e trechos de músicas adaptados do famoso músico clássico Sebastian Bach, as músicas de Count Lucanor criam uma aura de tensão e pavor que acrescenta bastante à experiência de se jogá-lo. Tudo isso ligado ao apelo que o jogo faz à aspectos surreais e grotescos como uma cabeça decepada que conversa ou então bodes que ganham aspectos aterrorizantes.
Nível de dificuldade altamente desafiador
Outro dos pontos muito interessantes de The Count Lucanor é seu nível de dificuldade. O jogo possui uma mecânica de movimentação um tanto quanto lenta, mas com o tempo isso é deixado de lado e os reais desafios do jogo se mostram. Inimigos, mesmo que sejam poucos, são desafiantes e amedrontadores. A pouca iluminação de alguns locais acrescentam bastante a esta dificuldade, bem como a ausência de modos de enfrentar diretamente as ameaças do castelo, armado apenas de velas para clarear o caminho de Hans.
Já outro aspecto que acrescenta dificuldade à jogatina não é tão interessante assim. Para salvar o jogo, o jogador precisará desembolsar uma moeda de ouro. Parece pouco, mas por conta do nível de dificuldade do jogo e dos diversos usos que essas moedas podem ter, exigir um item consumível para que o jogo seja salvo não é uma das saídas mais interessantes para manter um nível de dificuldade ameaçador. Talvez a possibilidade de salvar em locais específicos seria mais interessante, pois este modo acaba sendo mais punitivo do que encorajador para a maioria.
Fora esses aspectos, alguns outros agregam muito bem o nível de dificuldade como os enigmas a serem resolvidos e a vulnerabilidade de Hans. Os diversos puzzles do jogo são inteligentes e instintivos, com dicas sendo disponibilizadas através de bilhetes ou então observando o cenário que, diga-se de passagem, é muito bem construído. Já Hans possui uma barra de vida que desce bem fácil, mas não com um único golpe, o que torna o jogo encorajador ao mesmo tempo que desafiador. Os jogadores de fato se arriscam, mas com receio do que possa acontecer em seguida.
Um ótimo e diferenciado RPG
Praticamente tudo em The Count Lucanor (Multi) é diferenciado: o uso do seu visual pixelado com aspectos de terror psicológico, a forma como seu nível de dificuldade é estabelecido, a história que guia o jogador através dos enigmas, os puzzles espalhados pelo castelo, os diálogos com personagens inusitados… Tudo isso e mais um pouco faz deste jogo um RPG um tanto quanto singular, mas praticamente nada faz dele um péssimo jogo.
O game da Baroque Decay consegue juntar inspirações orientais e ocidentais para criar uma experiência que é tão boa, como diferente. Este pode não ser um jogo que te prenderá por uma centena de horas, mas com certeza o breve tempo que você passará com ele será proveitoso e curioso de alguma forma. Seja por seus finais alternativos baseados nas escolhas que o jogador faz, seja pelo enredo em si ouseja pelo desafio que ele proporciona. The Count Lucanor com certeza assistiu às aulas certas de suas inspirações.
Prós
- História intrigante e instigante;
- Aspectos de terror psicológico interessantes;
- Visual em pixel art agrada bastante;
- Nível de dificuldade desafiador na medida;
- Enigmas inteligentes e instintivos;
- Vulnerabilidade do personagem agrega ao desafio;
- Trilha sonora condiz com a ambientação;
- Animações em pixel art são muito bem feitas.
Contras
- Movimentação lenta demais;
- Necessidade de gastar moedas de ouro para salvar o jogo.
The Count Lucanor — PC/PS4/Switch — Nota: 8Versão utilizada para análise: PS4
Revisão:Leon Costa