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Análise: Crawl (Multi) traz caos e diversão multiplayer

Controle heróis, monstros e armadilhas e tente sair vitorioso nesse interessante dungeon crawler.

Em uma primeira olhada, Crawl parece um dungeon crawler de ação qualquer. Contudo, uma característica faz esse jogo indie ser bem único: os monstros e armadilhas são controlados por outros jogadores. O resultado é uma experiência caótica e divertida, capaz de por amizades à prova. O título foi lançado para PC, PlayStation 4 e Xbox One, e é mais um daqueles jogos que contam somente com multiplayer local.

Explorando calabouços

Crawl é um título de ação com pegada arcade com multiplayer somente local para até quatro jogadores. É possível jogar sozinho, com o computador controlando os outros participantes, porém não há multiplayer online.

A premissa é simples: um guerreiro está preso em um calabouço subterrâneo e precisa derrotar um grande e poderoso monstro para conseguir fugir. Um jogador controla o herói, já os outros três restantes são fantasmas que podem possuir monstros e armadilhas para assassinar o humano. Quando o herói é morto, o fantasma que desferiu o golpe fatal assume o seu lugar e passa a ser o novo herói.


As partidas de Crawl são rápidas e duram por volta de 40 minutos. A progressão é ágil e há características de RPG: os heróis recebem experiência, sobem de nível e melhoram suas habilidades por meio de equipamentos; já os fantasmas acumulam “ódio” para evoluir seus monstros. Os controles são bem simples (um botão para ataque normal, outro para habilidade especial), o que faz com que o jogo seja fácil de entender.

Por fim, Crawl tem características de roguelike: os mapas são gerados proceduralmente, resultando em partidas distintas entre si. Novos elementos, como monstros e equipamentos, são liberados com o progresso e ajudam a trazer mais variedade às partidas.


O jogo conta com gráficos em pixel art, porém de definição mais baixa, o que resulta em um visual mais “quadradão” — pode parecer estranho, mas isso dá um ar mais único ao universo de Crawl. Destaque especial para os monstros: são mais de 100 criaturas bem criativas e perfeitamente identificáveis mesmo nesta resolução mais baixa.

Um dia herói, outro dia fantasma

O foco de Crawl é justamente o multiplayer local, sendo assim chamei alguns amigos para explorar os terríveis calabouços do jogo. O resultado foi um caos extremamente divertido repleto de momentos impressionantes.

A experiência de jogo é uma mistura inusitada de cooperação com competitividade. A pessoa que está controlando o herói faz de tudo para sobreviver o máximo possível — o que não é uma tarefa fácil por conta da imensa quantidade de perigos pelo caminho. Já os fantasmas cooperam entre si para derrotar o guerreiro. Foram vários os momentos em que uma pessoa atraía o humano para uma parte específica do cenário para que os outros usassem as armadilhas, mas as alianças acabavam assim que o herói ficava com pouca vida: todo mundo se esforçava para dar o último golpe e se tornar o centro da atenção.


Por conta da coordenação entre os fantasmas, controlar o herói é um desafio e tanto. Para sair vitorioso é importante dominar bem os movimentos e melhorar o equipamento sempre que possível. É bem divertido também testar as armas e habilidades: em nossas partidas, encontramos espadas que lançavam tornados, lasers mágicos, lanças extremamente rápidas, entre outros equipamentos bacanas. É uma sensação bem legal controlar o único humano, principalmente quando ele está poderoso, afinal, é como estar ganhando — por mais que esses momentos não durem muito por conta da morte constante, o que significa glória para outro jogador.

Jogar com os fantasmas, em alguns momentos, é mais divertido do que controlar o herói. O principal motivo disso é que sempre encontramos monstros diferentes: em uma sala pode ser uma simples aranha, em outra o bicho é uma caveira que lança flechas de fogo, em uma terceira pode aparecer um demônio poderoso e imenso. É possível melhorá-los entre os andares, o que significa que uma simples minhoca pode se tornar um grande e imponente polvo maligno — ver os monstros evoluindo é parte da diversão. Cada criatura tem ataques bem únicos e distintos, trazendo sensação de novidade, o que fez com que eu e meus amigos nos divertíssemos bastante só testando as habilidades dos monstros. E, claro, é ótimo coordenar as ações para atacar o herói da vez com as armadilhas espalhadas nas salas.


O ápice das partidas são as lutas contra os chefes, que são monstros imensos e extremamente poderosos controlados simultaneamente pelos três fantasmas. Um exemplo é uma hidra de três cabeças, cada uma delas controladas por um jogador. Já um dos meus mestres favoritos é uma imensa estátua cujas partes do corpo estão espalhadas pela arena — os fantasmas precisam mudar constantemente de membro para conseguir atacar o herói. As batalhas contra os chefes são bem intensas e, dependendo da coordenação dos fantasmas, o herói dificilmente consegue sair vitorioso. Esses monstros são bem criativos, uma pena que a quantidade de chefes é bem limitada: o jogo conta somente com três mestres.

Um pouco repetitivo e meio chato sozinho

Um detalhe que atrapalha um pouco a experiência é o desbalanceamento. Foram vários os momentos em que algum participante nunca conseguiu jogar como o herói, principalmente por conta do guerreiro ter se tornado extremamente forte e também por conta do caos (afinal somente quem dá o golpe fatal retorna). O jogo até tenta compensar um pouco isso dando mais experiência para jogadores que estão perdendo, porém, não me pareceu ser suficiente. Mesma coisa com os chefes: em alguns momentos, é praticamente impossível vencer esses confrontos como herói, pois os mestres são bem poderosos. Entretanto, esses detalhes interferiram pouco na diversão geral do meu grupo de amigos.


Outro porém é a repetição. Mesmo com os elementos gerados proceduralmente, fiquei com a sensação de que as partidas são parecidas demais entre si. O motivo disso é que, na verdade, a quantidade de conteúdo é um pouco limitada e não traz tanta variedade assim. Alguns recursos, como desbloqueáveis e deuses que alteram os monstros e atributos dos jogadores, ajudam a atenuar isso, no entanto, acredito que modos alternativos ou customização de regras das partidas contribuiriam mais para reduzir a repetição. A sorte é que os desenvolvedores continuam a trabalhar no jogo e prometem mais conteúdo para o futuro.

Mesmo com foco no multiplayer, é possível se divertir sozinho em Crawl. O computador pode ser configurado para controlar os outros participantes e há vários níveis de dificuldade. Isso funciona, mas a sensação que eu tive é que esse recurso é um quebra-galho: o computador não consegue fazer as ações coordenadas comuns de jogadores humanos, o que dá certo ar de artificialidade. Também existe um modo de desafio no qual controlamos monstros e precisamos sobreviver a batalhas contra heróis cada vez mais fortes. De qualquer maneira, o ideal é convidar amigos para aproveitar o jogo em sua totalidade.


Um multiplayer excepcional

Crawl combina muito bem vários elementos em um jogo único. Não importa o papel, é muito divertido participar das partidas — seja tentando sobreviver como um herói, seja controlando inúmeros monstros e armadilhas. Jogar sozinho é possível e até é legal, porém não é uma experiência tão intensa quanto a do multiplayer. O principal fator negativo, porém, fica por conta da sensação de repetição que aparece após algumas partidas, por mais que ela seja difícil de perceber em grandes grupos de jogadores. Sendo assim, Crawl é mais um excelente jogo para curtir com os amigos localmente.

Prós

  • Mecânicas de jogo acessíveis e divertidas;
  • Ótima experiência multiplayer;
  • Muitos monstros para controlar trazem variedade;
  • Visual inusitado e agradável.

Contras

  • Desbalanceamento pode atrapalhar algumas partidas;
  • Conteúdo relativamente limitado.
Crawl — PC/PS4/XBO — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ana Krishna Peixoto

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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