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Análise: Flinthook (Multi) é um roguelike ágil e cheio de estilo

Esse título indie de plataforma 2D apresenta ótimas mecânicas e dificuldade acentuada.

Flinthook, o novo título da produtora independente Tribute Games para PC, PlayStation 4 e Xbox One, em uma primeira olhada, pode se passar por um jogo da era 16 bits por conta do seu visual em pixel art e da sensação de aventura 2D arcade. Contudo, o título se destaca por conta de duas principais habilidades: o herói se movimenta pelos cenários com a ajuda de um gancho e consegue deixar a ação em câmera lenta. Isso, aliado a alta dificuldade e características do gênero roguelike, faz com que Flinthook seja uma experiência intensa e bem divertida.

Saqueando naves espaciais

Na essência, Flinthook é um jogo de plataforma 2D simples. No controle de um pirata espacial, o objetivo é explorar grandes naves superando desafios de plataforma e enfrentando inimigos com uma pistola. O que faz esse jogo ser único é o gancho que o protagonista tem a disposição. Com esse equipamento, é possível se lançar rapidamente pelos cenários, que sempre têm várias argolas nas quais é possível lançar o gancho. O herói também consegue desacelerar a ação por um curto período de tempo, perfeito para mirar com maior precisão a pistola ou o gancho. O curioso é que a alavanca analógica esquerda controla a mira e movimenta o personagem ao mesmo tempo, configuração essa que funciona muito bem.

Flinthook pega emprestado conceitos de vários gêneros distintos para solidificar sua proposta. As fases são compostas de várias salas interconectadas, como em um metroidvania, e contam com um pouquinho de backtraking, incentivando a exploração. Há, também, elementos de roguelike: o desenho das naves é gerado proceduralmente, equipamentos e habilidades mudam em todas as partidas, e morrer significa recomeçar a sequência de fases desde o início. A morte não é tão punitiva assim, pois melhorias permanentes vão sendo desbloqueadas conforme se avança na aventura e é possível equipar algumas habilidades antes de começar uma nova partida.

As partidas são compostas de um determinado número de fases com um chefe no final. No início de cada estágio, temos que escolher uma entre três diferentes naves, cada qual com características indicadas por ícones. Uma nave pode ter menos inimigos, porém há a presença de muitas salas com armadilhas; já outra pode oferecer mais tesouros ao custo de termos a energia drenada constantemente; e assim por diante. Esse é um recurso legal, pois traz um pouquinho de estratégia em como prosseguir. Fora do modo principal, há também uma campanha infinita e desafios diários e semanais (com direito a leaderboards).

Toda a aventura apresenta um visual que remete à era 16 bits, com pixel art elaborado e belo. Gostei especialmente da movimentação dos personagens, que são bem detalhadas e estilosas. Só senti falta de mais variedade no tema das naves: a aventura é dividida em vários mundos e cada um deles tem mudança sutil no visual, porém fiquei com a sensação de estar jogando sempre as mesmas fases por conta da aparência similar. Outro problema com o visual é que alguns obstáculos, principalmente espinhos, se misturam muito fácil aos cenários — foram várias as vezes em que levei dano por não conseguir perceber com facilidade que um objeto era uma armadilha.

Saltando pelo ar com a ajuda de um gancho

Jogar Flinthook é bem prazeroso por conta do gancho do herói: é muito fácil sair se lançando pelos cenários ao mesmo tempo em que se evita obstáculos e ataca inimigos. As salas são todas pensadas para essa movimentação do gancho e dominá-la é essencial para avançar. Há grande variedade de situações e todas as fases têm boa divisão de desafios de plataforma e combate. Em uma sala, por exemplo, o objetivo é desviar de fogo e espinhos com a ajuda do gancho para poder abrir um baú no final. Já outra é uma simples arena que só pode ser superada ao derrotar todos os inimigos. Uma terceira pode não ter anéis para usar o gancho, o que exige saltar com cuidado para avançar.

Por conta dos desenhos de mapa gerados proceduralmente e da grande dificuldade, precisei avaliar sempre o que fazer. Explorar tudo é uma boa para conseguir dinheiro e upgrades, porém a chance de morrer é maior. Já tentar encontrar direto a saída é bom para não levar muito dano, mas pode deixar o personagem fraco demais para os desafios seguintes. No geral, explorar as naves de Flinthook é uma atividade divertida, mesmo com a dificuldade intensa. Depois de algumas partidas, é possível observar padrões nos desafios oferecidos, mesmo em campanhas diferentes. Isso não chega a ser um grande problema, porém pode tornar a experiência um pouco cansativa.

O combate de Flinthook é bem curioso. O motivo disso é que a arma do herói tem alcance reduzido, o que exige chegar bem perto dos oponentes — o que na maioria das vezes significa levar dano. Isso deixa os combates muito intensos, pois sempre há muitos inimigos nas arenas e em muitas delas têm também armadilhas nos cenários (lasers, espinhos, fogo, entre outros perigos). Felizmente os controles são muito precisos e toda vez que me dei mal foi por conta da minha falta de perícia (ou seja, quase que o tempo todo).


A mecânica de desacelerar o tempo, em um primeiro momento, me pareceu trivial, quase opcional. Porém, percebi que a maioria das situações são pensadas para que o jogador use-a sempre: as fases têm muitos trechos que exigem alta precisão ao lançar o gancho ou atirar, coisa essa que você só consegue executar com sucesso em câmera lenta, já que a ação é bem acelerada. O combate também exige muito isso, pois a quantidade de inimigos é alta e eles são agressivos — acertar os alvos com exatidão é uma necessidade.

Aventura de dificuldade acentuada

No geral, Flinthook é um jogo difícil e que exige destreza e atenção do jogador. Rapidamente aprendi os comandos básicos, pois tudo é bem intuitivo e fácil, e logo já estava voando ligeiramente pelos cenários com a ajuda do gancho. Porém, isso não foi suficiente para dar conta dos desafios do jogo: morri demais para os inimigos e armadilhas. Percebi que o meu principal problema é que usava muito pouco a câmera lenta e depois que passei a dominá-la as coisas ficaram um pouco mais tranquilas, principalmente nos combates.

Mas, mesmo assim, ainda é um jogo muito difícil, com um pouco de tentativa e erro. Os chefes, por exemplo, são bem difíceis por apresentarem padrões bem complexos de ataque e exigirem domínio dos movimentos do herói. Dependendo das habilidades e da vida disponível, é praticamente impossível derrotá-los da primeira vez. É uma boa ter uma progressão permanente, porém ela é bem lenta e custosa: as moedas para comprar essas melhorias são dadas à conta-gotas. Sendo assim, fiquei com a sensação de estar avançando pouco, em alguns momentos. O que conta mesmo é a habilidade do jogador, em conjunto com um pouquinho de sorte de encontrar melhorias boas na partida.

Um roguelike memorável

Flinthook é uma experiência viciante por conta da agilidade da ação e de suas ótimas mecânicas. Usar um gancho para se lançar pelos cenários, em combinação com o poder de câmera lenta, faz com que as partidas sejam rápidas, divertidas, e até mesmo estilosas. Por trás do visual colorido e da direção de arte cartunesca, está escondido um título difícil e que exige muita habilidade do jogador — salvo alguns pequenos deslizes, a dificuldade é justa. Há muito o que fazer, porém as coisas podem ficar um pouco repetitivas depois de um tempo, como é costume do gênero. No fim das contas, a soma de bons conceitos e de características de roguelike faz com que Flinthook seja uma ótima experiência.

Prós

  • Ótimas mecânicas de plataforma 2D;
  • Level design interessante e desafiante;
  • Dificuldade intensa e justa na maior parte do tempo;
  • Boa direção de arte e música.

Contras

  • Lento desenvolvimento das habilidades do personagem;
  • Os desafios podem se tornar repetitivos depois de algum tempo;
  • Alguns perigos dos cenários são difíceis de ver.
Flinthook— PC/PlayStation 4/Xbox One — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Pedro Vicente

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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