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Análise: A Lenda do Herói (PC) vai muito além da ótima trilha sonora

Jogo brasileiro não ficou restrito à questão musical e se revela uma divertida aventura.


O gênero plataforma foi o principal responsável por criar meu amor incondicional aos videogames. Quando forço a memória e tento recordar a minha mais antiga lembrança relacionada à diversão eletrônica, a cena que me vem a cabeça é da fase de asa-delta de Sonic 2. Já meu primeiro console foi um Super Nintendo, e junto dele veio o cartucho de Super Star Wars: The Empire Strikes Back; não demorou muito para que eu fosse até a locadora trocá-lo por Super Mario World. Controlar um personagem e ajudá-lo a atravessar cenários cheios de precipícios e inimigos figura até hoje entre as atividades que mais me agradam, e, como verdadeiro fã desse tipo de jogo, não foi surpresa que uma publicação no YouTube sobre a aventura musical de um herói em busca de sua princesa despertasse a minha curiosidade.


Lançado no dia 15 de janeiro de 2012, o vídeo do primeiro capítulo do projeto A Lenda do Herói mostrava o pequeno cavaleiro de armadura enfrentando cobras e buracos naquele nostálgico mundo de duas dimensões. Além de resgatar elementos típicos do gênero, essa jornada apresentava um diferencial interessante: todas as ações do personagem eram musicalmente narradas pelo comediante Marcos Castro e seu irmão Matheus Castro. No começo, o material foi produzido somente para o YouTube NextUp, concurso que promove canais iniciantes. “O vídeo acabou ficando bastante popular. Muitas pessoas perguntaram se aquilo seria um jogo e, desde então, sempre pensamos em alguma forma de desenvolvê-lo”, revelou Marcos Castro em entrevista exclusiva ao GameBlast.

Pouco mais de quatro anos após o episódio inaugural ser publicado, o que inicialmente parecia somente um sonho acabou se tornando realidade e A Lenda do Herói – O Jogo acaba de ser lançado para PC. Desenvolvido através da parceria entre os Castro Brothers e o estúdio Dumativa, o título brasileiro foi um dos mais comentados nos últimos meses, fama causada pelos expressivos valores arrecadados no período de financiamento coletivo. Com mais de R$ 258 mil angariados, o projeto obteve auxílio financeiro de 6.112 pessoas no Catarse, recorde em toda a história do site. Carregando nas costas toda a responsabilidade criada pela expectativa de uma legião de apoiadores, os produtores não poderiam entregar algo que deixasse a desejar e, realmente, A Lenda do Herói conseguiu ir muito além da ótima trilha sonora.
Um salto (de cinco metros) do YouTube para os videogames

Um grande show

Durante todo o período de criação, a equipe da Dumativa e os Castro Brothers sempre deram muita ênfase à mecânica sonora do título. A letra da música de cada fase vai se alterando conforme as ações adotadas pelos jogadores, ou seja, a cantoria será sempre única toda vez que os diferentes níveis forem visitados. O cuidado excessivo que o time de desenvolvimento demonstrava com essa característica acabou me preocupando, pois temi que muita atenção fosse dada às músicas e que o jogo em si acabasse ficando superficial ou simples demais. Entretanto, o resultado final surpreendeu positivamente: A Lenda do Herói se mostra um bom título que é acompanhado pela caprichosa trilha sonora.

Recebendo tanta atenção, a mecânica musical realmente entrega o que foi prometido. Os versos acompanham os movimentos do Herói, brincam com os inimigos e fazem piadas com alguns dos clichês populares de jogos. Nenhum detalhe passa despercebido, desde os blocos voadores que desrespeitam as leis da gravidade até a armadura do guerreiro que permanece brilhante mesmo em ambientes sujos e cheios de lama. A trilha sonora é sim o grande diferencial d’A Lenda do Herói, porém não é o único.
É possível ativar ou desativar as legendas das músicas


A aventura se desenrola em sete mundos, sendo que cada um deles com três fases e um chefe. Quando comecei a jogar e passei pelos três primeiros atos, a sensação era de que meus receios se confirmariam e o título se mostraria bem básico e fácil. Mas tudo mudou a partir do segundo mundo, onde o nível de dificuldade se eleva e as coisas se tornam mais complicadas. A curva de aprendizado e level design foram trabalhados de maneira adequada, com a aventura começando tranquilamente para o jogador se acostumar com os controles, tempos de pulos e mecânicas de combate. Porém, quando o desafio realmente começa, o Herói já está preparado para ultrapassar todos os obstáculos.

Os monstros finais de cada mundo também contam pontos positivos para o título, pois não se tratam apenas de inimigos maiores facilmente derrotáveis. As batalhas evocam os bons duelos dos antigos jogos de plataforma, sendo necessário analisar cada movimento do vilão para, assim, definir a melhor tática de ataque. Simplesmente bater com a espada nunca será o método mais adequado, e aproveitar as habilidades adquiridas pelo Herói com o desenrolar da trama será fundamental para se dar bem nos confrontos. Morrer muitas vezes para os bosses é uma das piores experiências do jogo; afinal, não existem os salvadores continues, e se o contador de vida zerar aparece o famoso Game Over, obrigando o jogador a passar novamente pelas três fases do mundo para poder desafiar a criatura gigante de novo.

Não são somente os chefes que dificultam o caminho em busca da princesa: cada mundo conta com boa variedade de inimigos únicos. Enquanto na floresta existem abelhas e macacos, na caverna serão os morcegos e aranhas que atrapalharão a jornada. Todos os personagens que aparecem na aventura tem sprites bem detalhados, e, além disso, os cenários também foram todos trabalhados com capricho, não devendo nada a nenhum outro título 2D. A jogabilidade é fluída e não se torna enjoativa com o passar do tempo, pois em cada mundo existem desafios únicos que variam bem o modo de controlar o Herói. Por exemplo, nas montanhas é preciso usar um carrinho para passar determinadas partes, já na caverna existem lagos subterrâneos que exigem do protagonista estar com as aulas de natação em dia.
Os momentos que variam o modo de jogar são divertidos

Um árduo caminho

Apesar da grande quantidade de vilões a serem derrotados, o grande desafio do Herói está nos bugs. Existem reclamações nas redes sociais sobre algumas falhas do jogo, e a Dumativa tem um canal para que os erros sejam reportados a fim de que se possa consertá-los. Durante a jogatina, encontrei dois problemas que me atrapalharam bastante, porém não posso afirmar se eram devidos ao jogo ou ao meu computador. O primeiro é a brusca queda de frames em algumas fases, que faziam o controle demorar para responder e dificultavam muito a realização precisa de saltos. Para driblar essa questão, acabei mudando a resolução da tela de fullscreen para 800 x 600 pixels (a menor possível). Com essa alteração, o jogo rodou sem anormalidades.

Já o segundo bug que me causou irritação aconteceu no quinto mundo. Eu já havia chegado ao chefe, mas acabei morrendo e tive que começar as três fases novamente. No final do último nível, o Herói acaba sendo levado pelo vento e precisa derrotar alguns inimigos no ar. Quando começou a animação da ventania, o vídeo do jogo simplesmente travou, de forma que eu ouvia apenas os sons dos inimigos e do personagem quando pressionava o botão de atacar. Com isso, tive que reiniciar o jogo e passar pelas fases do mundo cinco pela terceira vez consecutiva.
Neste momento, meu jogo travou


Promessas

A Lenda do Herói já está disponível para Windows em sua versão Standard, através da Nuuvem e do Steam. A versão Premium, que entre outras novidades traz a campanha zumbi, deve sair em breve. Já o lançamento para Mac e Linux acabou sendo adiado e, segundo a Dumativa, os sistemas operacionais receberão o jogo totalmente lapidado. “Estamos totalmente empenhados em lançar essas versões no melhor tempo e qualidade possível. Não vamos dar uma data exata no momento, mas esperamos não se estenda muito do lançamento original para Windows”, promete o estúdio.
Os chefes dão o toque final de cada mundo

Prós

  • Mecânica musical se encaixou perfeitamente na aventura;
  • Nível de dificuldade acompanha a evolução do jogador;
  • Jogabilidade fluída e variável;
  • Chefes representam um desafio extra.

Contras

  • Alguns bugs atrapalham a experiência;
  • Jogo ter sido lançado ainda incompleto;
  • Poderiam ter mais cutescenes.
A Lenda do Herói — PC — Nota: 8.5
Revisão: Bruno Alves
Capa: Diego Migueis

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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