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Análise: A Story About My Uncle (PC) te leva para um inusitado submundo

Pedra por pedra, o game convida o jogador a explorar cenários grandes e bonitos, enquanto procura por seu tio.

Vamos partir do início, vamos lembrar de nossa infância. Momentos de inquietude. Brincando na rua com os vizinhos. Acampando dentro ou fora de casa, não importava onde. Saindo de casa arrumado do jeito que a mamãe gostava, voltando suado, sujo e com algumas feridas, como de praxe. Nessa etapa de nossa vida, dormir é o que menos importa, por que não pular a noite? Talvez dormíamos justo para que ela fosse mais breve. Porém a ansiedade para o amanhã vem, e a insônia junto. Hum… Que tal uma história para dormir?

História para boi dormir

A Story About My Uncle tem uma narrativa bastante descompromissada. Desde o início fantasioso, o jogo tem história de tempo cronológico, em que um pai decide contar a seu filho uma aventura que aconteceu quando era menor, para que ele durma. A volta ao passado é imediata. O jogador toma o corpo do pai em fase adolescente, curioso, que vai ao escritório do tio em busca do próprio. Por acaso, acha uma espécie de armadura que se encaixa perfeitamente em seu corpo. Curioso mesmo. Subindo as escadas, em uma sala menor com uma plataforma no centro. Dá de cara com uma alavanca, e elas foram feitas para serem puxadas! Curioso demais. A plataforma é ligada, o jogador, nossa, lançado ao espaço! Sem saber como, qual o caminho que trilhou, quantas horas ou dias se passaram, cai em um mundo completamente diferente. “Onde estou?” Não importa, o que quer é encontrar seu tio.
Poucos minutos são o bastante para que se sintas fascinado pela história. Ela é tão inocente e ao mesmo tempo nostálgica que nos sentimos atraídos quando há tantos jogos populares demais com seus enredos sérios, mas vazios. Mais uma vez voltamos à nossa infância. Quem nunca quis voar para outro universo e viver uma aventura inesperada? A comparação acontece rapidamente, a imaginação deixa com que nos coloquemos no lugar do tal pai (agora chamaremos de sobrinho). Ele conta a história de modo tão verídico que, realmente, acreditamos.
A maneira como a história é contada é interessante. Ela é narrada pelo sobrinho com um certo tom poético, destacando os detalhes dos lugares, os seus sentimentos, mas sempre esperançoso em encontrar seu tio. Andando em um mundo desconhecido, mas com um objetivo claro.
Como foi dito, a narrativa é descompromissada, não houve tanta preocupação em torná-la frenética, cheia de pontos de clímax, ou que deixasse o jogador estarrecido com cenas surpreendentes. Tudo acontece com uma linearidade constante, por isso pode haver uma certa decepção, só há um inimigo para se “enfrentar”, por exemplo. Se movimentar neste mundo tão diferente pode ser empolgante, porém mesmo com as trilhas de trajetos incomuns, falta desafios maiores que mudem a ideia de central que é só seguir em frente. Um outro chefão seria aceitável. O resto és tu, pedras, e alguns humanoides com informações repetitivas ou desnecessárias para que saiba o paradeiro do tio, mas ótimas para consolidar a atmosfera e a construção do presente mundo. O jogador se sente bem enquanto explora o mundo e ouve uma narrativa agradável. O game é casual. Por mais interesse que se tenha em desvendar o mistério e achar o tio, o foco da diversão se concentra na jogabilidade. Prepare sua pontaria.

Fixando bem

Certamente o que há de mais empolgante em A Story About My Uncle, é sua jogabilidade. A armadura que obteve no escritório do tio deu ao sobrinho uma luva especial, uma espécie de garra, porque essa luva lança uma forte linha elétrica capaz de o puxar até o ponto escolhido. Pareceu complicado? Não é. Se imagine um Homem-aranha maneta. Mire e atire. Mire e atire. Logo se torna um movimento bastante natural de tão intuitivo.
A adição de novos recursos, como uma bota propulsora, ajudam na tarefa de explorar o mundo, e são igualmente fáceis de se usar. Entretanto o jogo mostra aí sua dificuldade. Por mais fáceis, naturais, intuitivos que sejam os controles, a locomoção entre as rochas dispostas no cenário se mostra um grande desafio.
O jogo não é concluído só saltando de rochas e se prendendo em outras. Os puzzles são: seguir o caminho, usando as táticas aprendidas, um pouco de cálculos mentais, e sorte. Será necessário pular para pedras em grandes distâncias, em movimento, ser lançado em alta velocidade pensando rápido aonde lança a garra, e ainda assim ter o risco de cair e não chegar em um checkpoint.
Em alguns cenários fica evidente quais as direções que devem ser tomadas, mas em outros, nem tanto, justo pela possibilidade de exploração dada, de observar o ambiente em volta e os seus integrantes. Para ajudar, aproveitando a atmosfera predominantemente sombria, há marcas luminosas que se destacam na escuridão. Elas chamam a atenção do seu olhar e cumprem de forma competente a sinalização, além de embelezarem o jogo. As marcações acabam criando um estilo próprio. Logo se pegarás olhando em volta, em busca de algo familiar. Com o tempo, os movimentos ocorrem de maneira fluída, a transposição se torna leve e natural.
As tentativas de ultrapassar os obstáculos podem resultar em muitas mortes, mas o alívio de ter conseguido já é gratificante por si só, algo que se torna maior ao ver onde se chegou. A arte do jogo vai te deixar impressionado.

Das trevas

Não precisa de muito tempo para perceber, o jogo é visualmente sombrio, mas não de um jeito que dá medo, mas de um que cativa ainda mais com a mistura de elementos de aparência simpática, que não pretendem expressar fidelidade aos detalhes de elementos do nosso mundo. As rochas voam tranquilas, vazias, ou sob uma cidade. As plantas são grandes, distantes da nossa concepção. A beleza maior fica na decoração.
O mundo em que o sobrinho vai é habitado, não totalmente, mas o suficiente para que a população tenha construído suas casas e enfeitado áreas como quis. Enquanto nos deslumbramos nas cavernas com as lâmpadas amarelas e de outras cores, distribuídas em forma de trilhas ou trazendo luz e uma atmosfera calma e convidativa a barracos e pontos de encontros, lá fora nos deparamos com uma intensa iluminação, e os cenários se transformam com tantas árvores vermelhas, grama, moinhos de vento, edifícios. A natureza passa tranquilidade. O jogador quer sempre parar para admirar algo que lhe chamou atenção, vale a pena tirar uma screenshot.
Apesar do jogo ter se saído muito bem nos gráficos desde a mão até os cenários enormes e tão bonitos, o encontro com humanoides choca, pois de tão mal feitos eles chegam a não entrar em sincronia com todo o design do game. Por mais alta que esteja as configurações de vídeo, o acabamento se mostra fraco e atrapalha na idealização dos personagens quando nem eles parecem ser fiéis.
A trilha sonora é agradável mas um tanto ausente. Inicialmente apresenta um bom ritmo para emocionar o jogador, mas, ela experimenta da mesma linearidade da história, “acordando” e se mostrando realmente presente somente em alguns momentos.

Uma aventura incompleta

A Story About My Uncle é um jogo realmente casual, até mesmo em seu desenvolvimento. Boa história, que foi desperdiçada, sem clímax ou qualquer outro momento concreto que faça o jogador se sentir mais animado para seguir em frente. A jogabilidade é bastante fácil, uma luva e uma bota é o necessário para que se divirta saltando velozmente pedra por pedra. A arte dá um show na questão cenográfica, mas os personagens foram os grandes prejudicados por tamanho foco, as texturas não saíram como deveriam.
Mas talvez tudo isso tenha ocorrido justamente porque ele só quer te entreter por duas horas, no mínimo, apresentando uma história leve, para que descanses das tramas de jogos AAA; torne poderoso qualquer um que queira jogar, com os controles simples, além da ausência de violência; e ainda o deslumbre de qualquer um pelo o que mais chama atenção no game, os seus cenários.
A Story About My Uncle foi feito para o tio que se sente gamer porque joga um pouco de PES no final de semana ou para o sobrinho que acha que está bom de tanto Minecraft. Foi feito para todos, desde que tenham em mente que o que há nele não é para impactar, mas sim para envolver.

Prós

  • Jogabilidade intuitiva;
  • Cenários bonitos e bem feitos;
  • Feito para qualquer um jogar;
  • Puzzles ágeis.

Contras

  • História mal aproveitada;
  • Trilha sonora ausente em alguns momentos;
  • Mau acabamento visual dos humanoides;
  • Falta de puzzles diferentes.
A Story About My Uncle – PC – Nota: 7.5
 Revisão: Luigi Santana
Capa: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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