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Análise: The Vanishing of Ethan Carter (PS4/PC) - Em busca de fantasmas

Belas florestas e cidades abandonadas escondem segredos. Cabe ao jogador decifrá-los e, a partir disso, desvendar um enorme mistério.



Desde o início, The Vanishing of Ethan Carter (PS4/PC) já aparentava ser um jogo diferente. Com praticamente nenhuma explicação, somos colocados em um cenário em meio a árvores, plantas e um túnel. De nada adianta esperar por tutoriais ou sinais que indiquem o que deve ser feito: é preciso explorar para progredir.


Devemos salientar, antes de mais nada, que este não é um jogo feito para todo o tipo de público. É preciso ter paciência e gostar de procurar cada detalhe do espaço para conseguir entendê-lo, aproveitando a sua narrativa e encontrando sentido nos enigmas e desafios propostos. E não adianta tentar fugir: atravessar o túnel leva o personagem para o mesmo lugar — estamos presos junto a ele.

Uma virtualidade real

É impossível não destacar que The Vanishing of Ethan Carter tem um dos gráficos mais belos da geração atual. Mesmo que nem todos os objetos e texturas sejam perfeitos, a sensação de que estamos lidando com um cenário vivo é constante, já que todas as plantas e árvores receberam tratamento especial, tendo animações próprias que parecem responder ao vento.
As imagens que capturamos enquanto jogávamos parecem belas pinturas.

Não é apenas o visual do jogo que surpreende. O trabalho sonoro merece grandes ressalvas, por transmitir a solidão que persegue o personagem de maneira tão profunda: os pássaros, o vento uivante e a música que inicia lentamente em momentos específicos, antecipando o clímax de maneira estratégica. Este é um trabalho que merece ser ouvido com fones de alta qualidade, auxiliando a jogabilidade de maneira tão intensa que chegamos a esquecer que estamos vendo imagens em uma televisão.

A quantidade de detalhes visuais e sonoros, porém, também causa alguns problemas. Em poucos minutos de jogo, é possível perceber que ele não roda acima de 30 quadros por segundo, oscilando quando há muitos elementos em cena. O campo de visão é extenso e, por se tratar de um jogo em primeira pessoa, isso traz enjôo ao mexer a câmera rapidamente — tive que parar de jogar por um tempo após perceber que não me sentia bem. Os próprios desenvolvedores perceberam isso, permitindo diminuí-lo e/ou acrescentar um pequeno ponto vermelho na tela (o que, supostamente, ajuda).
Tudo no jogo tem tamanhos enormes. Pense que toda a locomoção é feita andando, em velocidade devagar, e entenderá o ritmo do jogo.

Quando começamos a controlar o personagem, temos uma sensação estranha: parece que o jogo foi feito para óculos de realidade virtual. Suas enormes construções e mapas extensos já conseguem transmitir sua magnitude através da televisão, imergindo o jogador completamente em seu espaço e dando a ele total controle perante o que quer ver. Não seria surpreendente se víssemos algum suporte ao Oculus Rift e Morpheus no futuro.

Muito espaço para pouca ação

A história de The Vanishing of Ethan Carter faz jus ao título: um garoto desapareceu da cidade, obrigando-nos a descobrir o que houve. Para entender os acontecimentos, o jogador é obrigado a andar e encontrar pistas, que contam pedaços da narrativa. O maior problema do jogo, porém, encontra-se nesses momentos, já que o cenário é enorme e há pouco o que se fazer nele.
Não há nenhum ser vivo no caminho, tornando a aventura um pouco monótona — mas mantendo-a fiel ao tema proposto.

Até entender a mecânica do jogo, é comum que o jogador se encontre dando voltas em caminhos já percorridos, tentando encontrar objetos e itens que tenham passado despercebidos — o que normalmente não ocorre, já que The Vanishing of Ethan Carter é muito mais simples do que aparenta: durante o trajeto, que é linear, diversos corpos são encontrados e entregam pistas de um crime que ali ocorreu.

Aparentemente, o nosso personagem tem algum tipo de poder, pois consegue ver imagens do passado ao analisar objetos e corpos. Para conseguir compreender os assassinatos, basta encontrar todos os itens utilizados nos crimes, que normalmente estão próximos e têm sua localização indicada por pequenos vídeos. Em alguns minutos, todos são reunidos e outro enigma surge.
Ao analisar corpos e objetos, diversos pensamentos do personagem surgem na tela.

Ao tocar em um cadáver, com todos os objetos utilizados em seu assassinato, o cenário muda e tudo fica cinza. Rastros de luz azul indicam as localizações de “fantasmas” (imagens do passado, exibindo as pessoas que estiveram presentes durante o crime) e, após encontradas, mostram pequenos vídeos de ações em sequência — o jogador é quem deve dizer em qual ordem ocorreram. Após acertar, vemos a história completa e entendemos mais sobre o sumiço de Ethan Carter, além de recebermos dicas de para onde ir.
Pequenos vídeos indicam as localizações dos objetos que precisam ser encontrados. 

O restante do jogo segue a mesma mecânica: encontrar um corpo, reunir os objetos e organizar a ordem do assassinato para seguir adiante. Há alguns outros quebra-cabeças encontrados pelo cenário, como perseguir personagens no meio da floresta e encontrar corpos em um labirinto (a única parte do jogo que consegue assustar), aumentando a sua duração e trazendo um pouco de novidade diante de tantas repetições.
Após encontrar os "fantasmas" da cena do crime, é preciso colocá-los em uma ordem, criando a história do assassinato.

Tudo faz sentido

Apesar de trazer muitos momentos cansativos e repetitivos, The Vanishing of Ethan Carter consegue propor uma experiência de jogo interessante. A atmosfera criada pelos desenvolvedores nos faz querer entender o que houve com o garoto, mesmo que para isso sejamos obrigados a resolver enigmas não tão envolventes. Isso também nos leva a outro problema que o jogo enfrenta: é muito difícil fazer com que a história tenha algum sentido.

Todos os objetos e cartas encontrados nos fazem crer que estamos lidando com algum tipo de bruxaria. Há diversas referências a rituais e magias encontradas por todo o cenário, mas, a partir do momento que tentamos criar significado em tudo, perdemos a noção de espaço: encontramos coisas que parecem não pertencer ali, como naves espaciais e zumbis que pegam fogo. Fica muito difícil criar envolvimento com os personagens desta forma, obrigando-nos a jogar até o fim para ver se haveria algum desfecho crível.
Pontos luminosos indicam a localização de "fantasmas", deixando um enorme rastro no céu.

Felizmente, o final de The Vanishing of Ethan Carter consegue fazer o que parecia impossível: explica todo o jogo de uma maneira que tudo faz sentido, e com que as experiências vividas pelo jogador tornem-se parte fundamental na construção dos personagens. Passamos, de uma hora para a outra, a criar identificação com tudo, sentindo-nos parte da vida de Ethan Carter e da cidade vazia — é curioso como este é um jogo cuja narrativa foge dos padrões, criando laços apenas quando terminamos a narrativa.

Não pense, porém, que será possível finalizar o jogo sem desvendar todos os enigmas que ele dispõe. Após chegar à localização final, há um mapa indicando os mistérios dispostos pelo cenário, possibilitando que o jogador volte até eles através de portais e tente resolvê-los. Por ter uma duração de cerca de 4 ou 5 horas, essa é uma boa maneira de fazer com que seja possível aproveitar 100% de seu conteúdo (e ganhar alguns troféus).
É possível entrar em vários espaços fechados. Em muitos, há diversos quebra-cabeças.

Solidão e exploração

Jogar The Vanishing of Ethan Carter é uma experiência satisfatória, com seus altos e baixos. Dificilmente ele agradará a todos, por criar uma atmosfera extremamente solitária e devagar, exigindo muita exploração e paciência do jogador. Porém, caso isso interesse quem estiver jogando, encontrará uma experiência interessante de narrativa, com gráficos de ponta e história surpreendente.

É uma pena que o preço não seja muito atraente. Por ser possível finalizar o jogo em uma tarde de chuva, fica difícil pagar cerca de 40 reais por ele, sendo que é possível comprar tantos outros jogos bons em conjunto pelo mesmo valor. Ainda assim, não o apagarei da memória do meu console tão cedo: utilizarei as diversas paisagens para descansar um pouco a mente quando estiver cansado de trabalhar. Quem disse que os mundos virtuais não são relaxantes?
Está estressado? Coloque um fone de ouvido, sente-se próximo à televisão e aproveite a paisagem.

Prós

  • Gráficos espetaculares e paisagens impressionantes;
  • História com final surpreendente;
  • Alguns enigmas são divertidos e inteligentes;
  • Sensação de imersão no universo do jogo.

Contras

  • Há pouco o que fazer além do esperado;
  • Mecânica repetitiva e momentos cansativos;
  • A história só envolve no fim;
  • Pessoas mais sensíveis podem sentir tontura;
  • Preço alto para poucas horas de diversão.
The Vanishing of Ethan Carter — PS4/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para teste: PlayStation 4
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Daniel Serezane

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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