Análise: INK (PC), um Quadrado Branco em um platformer intenso e viciante

Explore dezenas de fases desafiadoras enquanto foge de tudo e de todos, em universo repleto de cores, ângulos agudos e retos.

em 16/08/2015

Esta é a história de nosso herói, o Quadrado Branco. O tofu que sangra colorido. O andarilho do Mundo dos  ângulos.

Sua epopéia começa de modo simples. Numa dimensão controlada chamada “tutorial”:


Como quase tudo é feito com uma matéria invisível para Quadrado Branco, ele precisa dar um pouco de seu sangue colorido para se localizar neste universo. Um pequeno sacrifício para chegar ao seu objetivo. Lançado o pigmento, ele identifica o ambiente e pode prosseguir viagem. Os primeiros níveis são inofensivos, mas os desenvolvedores fazem questão de te lembrar caso falhe neste ambiente:


Este achievement foi alcançado nos primeiros níveis do tutorial. Foi bem merecido.

A jornada começa sem muitos obstáculos. “Ei, isso é tranquilo”, pensa Quadrado Branco. É o primeiro de muitos equívocos.

O desafio de pintar o set

Lembranças terríveis de outro universo, conhecido como “Super Meat Boy”, assombram o redator desta análise. Lampejos de outros traumas surgem (o primeiro fora — a primeira nota baixa na escola — o primeiro murro na cara). As palmas das mãos começam a ficar úmidas. Mas é preciso prosseguir. É preciso vencer.

Há uma sutil compensação em cada derrota: o sangue de Quadrado Branco não é desperdiçado. Em cada morte, Quadrado Branco ressuscita do começo, mas sua tinta se mantém sobre as plataformas. Para quem reclama da dificuldade, lembrem-se desses pequenos detalhes.

Então surge o primeiro arqui-inimigo de Quadrado Branco: os temíveis e insolentes Retângulos. Quem eles pensam que são? Afinal são primos próximos de Quadrado Branco. Talvez tenham inveja das retas perfeitamente simétricas de nosso herói:


Estes nefastos oponentes começarão a infestar os próximos níveis daqui em diante. Não são os mais brilhantes, entretanto. Basta Quadrado Branco atacar a todos por cima, num salto à lá Mario, e o portal para o próximo nível será liberado. Um dos desafios em INK obriga o jogador a destruir todos estes guardiões para progredir. E caso Quadrado Branco morra, todos os inimigos voltarão.

Tudo são relativamente rosas enquanto Quadrado Branco continua a sua aventura. Mas é exatamente isso que os desenvolvedores querem que você pense. Mas então, Quadrado Branco encontra algo mais trivial do que tudo que já foi visto até agora:


Não é amigo, tampouco é inimigo. Pelo menos é possível entrar no Portal sem sequer vê-lo com seu sangue colorido. Mas algo dentro de Quadrado Branco — ou do jogador que o controla — impele a tocá-lo. Não sabemos o que ele faz, ou o que ele representa. Não se percebe nenhum traço de melhorias nas habilidades do herói. Nenhum indicativo na interface. Você apenas o toca, ele desaparece, e a jornada continua. Algum desenvolvedor de fases, em algum lugar no conforto de seu lar, se diverte imaginando a confusão criada por este objeto.

O fato é que estes corações estão em algumas fases, demarcadas na interface de seleção de estágios. Caso não consigas tocar esta relíquia bizarra na primeira vez que se explora, basta voltar para ela depois. Talvez signifique algo muito maior do que se imagina!

Enquanto se progride, a confiança crescente será o maior vício de virtude da Balada de Quadrado Branco, e o desfecho desta falha de caráter será julgada, e punida, no primeiro chefão.

Sim! Há chefões em INK!


E cada chefão é o Guardião Supremo de um novo nível de dificuldade. Aliás, a curva de aprendizado é curta — afinal, não há muito o que se aprender: andar, pulo, pulo no ar e deslizar nas paredes. E o jogador pode jogar com apenas uma mão:


Mas as dificuldades começam mesmo a surgir depois deste Guardião. Ele protegia Quadrado Branco de um pesadelo maior: os irredutíveis Triângulos Imóveis.


Sim, apreensivo leitor: agora há espetos invisíveis espalhados pelos níveis. A coisa começa a ficar séria. A inveja que possuem pelos quatro ângulos de Quadrado Branco — frente aos três ângulos do oponente — deixam os Triângulos Imóveis enfurecidos. Eles não estão sozinhos, pois também são reforçados pelos famigerados Triângulos Cuspidores de Triângulos:


E quando se pensa que o inferno pitagórico está em seu ápice, aparece então o maior empecilho do jogo: os cruéis Círculos Lançadores de Quadrados Teleguiados:


É então que outro vício de virtude surge: a preguiça. Neste ponto, desistir de INK será uma opção tentadora aos jogadores de platformers mais (mal) acostumados. Talvez tenha sido um exagero dos desenvolvedores, e será algo a ser corrigido caso eles cedam à pressão. Meu voto é pelo não. É exatamente isso que deixa o jogo único: a sensação do impossível seguido pela sensação da conquista, do desafio superado.

A constante batalha contra a impaciência

Não me sentia tão desafiado desde o chefão final em FTL: Faster than Light. É assim que se prende um jogador ao jogo, e é desta forma que sabemos se ele é bom, ou se é apenas mais um jogo.

Mas isso não isenta INK de algumas vaciladas.

Por ser um platformer simples, mas com uma abordagem nova em como se avança pelas fases, o jogo se sustenta principalmente pela falta de complexidade. Mas o fato de não haver ao menos um menu para se ajustar coisas básicas, como resolução, volume de áudio e controles, faz com que a experiência um pouco incômoda. Algo que quis fazer, mas não pude, foi desligar a música.


Por mais minimalista e interessante que a trilha sonora de INK possa ser, ela logo cansa e urge por uma nova coleção de músicas. Recomendo, para os que gostam, escutar Pink Floyd. Mas infelizmente o volume de seu computador precisará estar desligado.

Por fim, INK possui tudo que um viciado em desafio precisa. Não cheguei até o fim desta jornada psicodélica, mas ficarei assombrado por ângulos, retas e tintas até voltar e terminar todas as fases. De qualquer forma, o jogo não é tão longo. É o tipo ideal para aqueles que gostam de saborear poucas fases de cada vez, e acredito que eventualmente haverão mais fases, pois as possibilidades são próximas do infinito.

Que o Quadrado Branco tenha poucas mortes na jornada de vocês.

Pontos positivos:

  • Desafiador;
  • Estilo minimalista e psicodélico. Excelente para se jogar com amigos;
  • Controles simples — não o distrai para o verdadeiro desafio;
  • Alto valor de replay — aqueles corações instigam a vontade de tocá-los, por mais insignificantes que sejam.

Pontos negativos:

  • Não há um menu para configurações básicas;
  • A trilha sonora logo se torna enjoativa.
INK — PC — Nota: 9.0
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