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Análise: Project CARS (Multi) traz realidade para os jogos de corrida

Depois de tanto tempo em desenvolvimento e diversos atrasos, Project CARS chega trazendo diversão aos jogadores casuais e simulação aos que buscam por realismo.


Project CARS surgiu com uma proposta diferente: ser um jogo feito também por fãs do esporte. Para isso, através de fóruns pela internet, diversos entusiastas de corrida opinavam e diziam suas exigências conforme o seu desenvolvimento ocorria. Para conseguir dinheiro, os criadores colocaram o projeto no Kickstarter, arrecadando uma grande quantidade de dinheiro e atraindo os olhares da Bandai Namco. Pouco tempo depois, todos os consoles da nova geração receberiam o anúncio (PlayStation 4, Xbox One, Wii U e PC).


Conforme os anos passaram, diversos vídeos eram colocados na internet, mostrando a progressão do desenvolvimento do jogo e do quão avançada estava a sua qualidade visual. Com gráficos de deixar qualquer um de boca aberta, a premissa era a de entregar um conteúdo tão realista que seria difícil encontrar diferenças entre um vídeo real e ele.
Visão do carro na garagem do jogador. Apesar de parecer uma foto, é possível controlar a câmera para ver cada detalhe.

Com o lançamento de DriveClub para o PlayStation 4, ocorrido com muitos problemas e decepções, muitos se perguntaram se Project CARS conseguiria manter suas promessas. Foram diversos atrasos, fazendo o jogo ser lançado somente em 2015, com o intuito de trazer a qualidade desejada. Agora, com o jogo em mãos, podemos dizer que este é um jogo completo, com tudo o que o fã de corridas quer na nova geração.

Feito para sentar e jogar

A primeira reação ao pegar a versão digital do jogo foi a de frustração. São quase 20 GB de download, sendo que após a instalação ainda há mais 19 GB de dados extras (que são necessários para acessar o conteúdo completo). Com isso, quase 10% do HD do PlayStation 4 foi ocupado, além de haver um grande tempo de espera para conseguir jogar pela primeira vez. Ainda bem que só precisamos passar por isso uma vez.

Já dentro do jogo, com os fones de ouvido devidamente colocados, vemos uma linda apresentação feita com cenas gravadas em tempo real. Chegamos a ficar em dúvida se não há manipulação nas imagens de alguma forma — é tudo muito realista. Lembro-me de ter tido a mesma reação quando joguei Gran Turismo 4 no PlayStation 2, e o quão decepcionado fiquei quando joguei a primeira corrida, e tive o mesmo medo. Antes de testar, porém, foi preciso me aventurar pelos diversos menus e opções de jogo.
Os replays e visões de espectador são tão realistas que nos sentimos assistindo uma corrida na televisão.

Na tela inicial já é possível ter noção da grandeza de Project CARS. Todos os modos de jogo, carros e pistas estão desbloqueados. Isso significa que não é preciso passar horas e horas em uma mesma corrida para ganhar dinheiro e comprar conteúdos. É desta maneira que nos sentimos felizes em ter tantas escolhas e saber que poderemos jogar do jeito que quisermos quando amigos quiserem correr contra nós. Ao mesmo tempo, isso desmotiva um pouco o jogador, já que não há nada novo a ser ganho após um campeonato.
Um aviso importante: caso você jogue sem fones de ouvido, a voz que lhe instrui nos menus e narra certos eventos sai do controle. Caso não esteja preparado para isso, como eu, com certeza levará um enorme susto. O som da equipe também sai por ali enquanto se comunica com você durante as corridas.
Há mais de 70 carros licenciados e 110 pistas do mundo inteiro para serem escolhidas. Nos modos de corrida rápida, há como mudar quase tudo e deixar a corrida customizada: o número de voltas, realismo nas colisões e mudança de clima e horários. Já é possível jogar online desde o início, mas isso só é recomendado aos que estão familiarizados com a dificuldade.
A entrada e saída dos boxes é uma inclusão muito legal, dando a sensação de vivermos todos os momentos de um piloto real.

O que mais chama a atenção no jogo ainda é o modo Carreira. Apesar de não haver dublagem em português, há legendas em nossa língua, ajudando a entender a história de um piloto criado pelo jogador e que se aventurará em diversas etapas de sua carreira. O jogador o acompanha em seu crescimento, podendo começar nas corridas de kart, até entrar em algo semelhante à Fórmula 1. Para isso, há um calendário mostrando os eventos disponíveis e as corridas que são importantes.

Como o jogo é feito para todos os tipos de jogador, tudo pode ser ajustado. A dificuldade dos outros corredores, a duração das corridas e o número de voltas pode ser mudado em qualquer momento, tornando a aventura desafiadora para os que querem se sentir dentro de uma corrida real. O carro também pode ser ajustado internamente, além de ser possível utilizar vários auxílios nas curvas e freadas. Não há como se sentir esquecido.

É dada a largada

Dentre tantas opções, é difícil saber como começar. Em um evento aleatório, testamos a nossa primeira corrida em uma enorme pista na Califórnia, passando por diversas paisagens e pontes. Já havíamos testado-a em um evento fechado da Bandai Namco em São Paulo, utilizando um volante e pedais, e nos divertimos bastante apesar de alguns pequenos problemas. A dúvida que tínhamos era: “será que houve melhoras? E como é jogar com o Dualshock 4?”. Elas foram respondidas em segundos.

O controle do PlayStation 4 é extremamente confortável e parece feito para jogos de corrida. Com os gatilhos trazeiros usados para acelerar e frear, tudo fica muito mais realista, já que eles detectam a pressão exercida pelo jogador e transmitem isso como intensidade nos pedais. Em um jogo que preza pelo realismo, é ótimo poder acelerar aos poucos, evitando velocidades muito aceleradas antes das curvas.

Os gráficos se mantiveram iguais aos que já havíamos visto. Nesta pista, em específico, várias texturas lembram as de jogos de PlayStation 3, acabando com a sensação de realidade. Enquanto isso, diversas outras mostravam o oposto, nos deixando assustados com o quão real tudo parece: o sol ofusca a vista, os brilhos e as fumaças quase invadem a nossa sala. Os modelos dos carros foram feitos tão detalhadamente que o seu interior, visto em diversas câmeras, parece tirado de uma foto — não há como deixar de imaginar como será jogar utilizando óculos de realidade virtual.

É importante falar das câmeras, porque elas são responsáveis por grande parte da imersão. Há, além das já comuns, a possibilidade de enxergar tudo de dentro do capacete, diminuindo o campo de visão (como um piloto veria na vida real). Isso envolve focar somente no que é importante, deixando suas mãos e espelhos embaçados em vários momentos, além da câmera tremer mais e sujar em diversos momentos. Já do lado de fora, quando há uma freada, a câmera tem um pequeno atraso que nos faz sentir em uma montanha-russa, como se estivéssemos tentando acompanhar o seu progresso.
Os controles de cada carro parecem mudar completamente. Dirigir um kart é tão diferente de dirigir um carro esportivo que nos sentimos ignorantes: batemos o tempo inteiro e fazemos curvas completamente erradas. A sensação é ainda mais imersiva quando jogada com volantes, que têm opções de customização para o force feedback ser extremamente realista.
O que realmente chama a atenção é o cuidado com os detalhes. Quando começa a chover e vemos as nuvens se formando no céu, o vento balançando as árvores e a neblina se aproximando, nos transportamos para uma janela que mostra o mundo real. O chão se torna mais escorregadio, os carros diminuem a velocidade. É uma pena que pequenas coisas não tiveram o mesmo trabalho, como as pessoas que assistem as corridas e parecem feitas de papelão. Os acidentes afetam os veículos, mas em poucos lugares (ainda que o seu interior seja danificado, causando problemas na corrida e até mesmo quebrando-o completamente). Talvez esse seja o próximo passo para tornar tudo ainda mais real.
Correr na chuva é, além de extremamente bonito, muito difícil. Jogar com a visão interna é quase impossível.

Problemas de primeiro mundo

Project CARS sofre de um mal comum dos jogos atuais: a instabilidade de quadros por segundo. Apesar de estar em maior parte rodando a 60 fps, a queda é enorme quando há muitos carros na pista, deixando a sensação de que entramos em uma espécie de câmera lenta. Há também momentos em que diversos itens do cenário são carregados enquanto corremos, trazendo aquela sensação de jogar a série GTA no PlayStation 2.
Mesmo com o belo visual, o desempenho do jogo diminui com muitos carros na tela.

Ainda assim, há um problema maior e muito preocupante: a falta de tutoriais. Não nos referimos a coisas básicas, e sim ao vasto número de modificações que podem ser feitas nos carros, mas que só fazem sentido para quem entende de mecânica e suas influências em uma corrida. O que vai acontecer se eu mudar a angulação de um acessório ou o seu tamanho? Infelizmente, os que não entendem acabarão passando longe desta opção, mantendo o carro como foi-lhes entregue.

O modo carreira é interessante, mas parece ter menus e opções desnecessárias. Há um espaço no qual você recebe “e-mails” (pré-definidos pelo sistema) lhe parabenizando pelas corridas ou criticando o seu mal desempenho. Não há nenhuma função para eles que, além de estarem em letras minúsculas e difíceis de ler, recebem atualizações após todos os eventos. Somente quando há uma proposta para integrar uma equipe é que o jogador interage, aceitando ou não. Seria melhor se houvesse maior interação e opções voltadas também ao público leigo, já que nem todos os jogadores são os mesmos fãs que acompanharam o desenvolvimento do jogo.
Feito para nos sentirmos na pele do piloto, são pequenos momentos como esse que poderiam estar fora do jogo.

E o vencedor é…

Project CARS merece méritos em vários quesitos, principalmente por não enganar o jogador com replays bonitos, já que todo o restante carrega a mesma beleza em quase todos os momentos. Suas falhas acabam prejudicando os inexperientes, que não entendem dos detalhes de um carro para melhorar sua performance.
As corridas noturnas trazem a dificuldade de, literalmente, não enxergar a pista. Caso haja uma batida frontal, a primeira coisa a quebrar são os faróis dianteiros.

Para os que buscam uma aventura inovadora, é melhor partir para outro estilo. Os fãs de Gran Turismo se sentirão em casa, sem precisar habilitar tudo o que o jogo oferece, mesmo que isso signifique menos motivações para continuar jogando. É preciso gostar de corridas e de passar bastante tempo em circuitos fechados, desenvolvendo habilidades e partindo para o modo online. Depois de tanto tempo de espera, temos em mãos um produto de ótima qualidade e que consegue satisfazer os desejos de quem queria ver os poderes da nova geração em jogos de corrida esportiva, tudo de maneira divertida e que nos trará ainda mais novidades com a chegada dos óculos de realidade virtual no ano que vem.

Prós

  • Como prometido, gráficos realistas e detalhados;
  • Controles que mudam entre os carros;
  • Diversas opções de customização de corridas;
  • Mudanças de clima absurdamente bonitas;
  • Câmeras imersivas;
  • Feito para jogadores casuais e profissionais.

Contras

  • Alguns elementos não são realistas e quebram a magia;
  • Opções muito técnicas, difíceis para um leigo;
  • Não há motivação para jogar o modo carreira, já que tudo está desbloqueado;
  • Quedas de taxa de quadros por segundo em diversos momentos.
Project CARS — Multi — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4
(a versão para Wii U continua sem previsão de lançamento)
Revisão: Luigi Santana
Capa: Felipe Fabrício

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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