Zuera Blástica: o verdadeiro gênero de alguns jogos clássicos

Acredite se quiser, mas The Legend of Zelda não é um RPG… e muito menos um adventure.

em 01/04/2015
Pergunta rápida: The Legend of Zelda: Majora’s Mask (N64/3DS) é um RPG? Metade dos leitores intuitivamente responderá que sim, é um RPG — e um dos mais clássicos e importantes do gênero, não menos. A outra metade provavelmente dirá o contrário, classificando-o como um action-adventure e dando mil motivos para não enquadrá-lo na mesma categoria de Final Fantasy VII (PS) ou Xenoblade Chronicles (Wii).


Antes que os dois grupos comecem a se digladiar nos comentários, gostaria de informá-los: vocês estão errados. Majora’s Mask não pertence a nenhum dos dois gêneros. Ele é apenas um exemplo de vários jogos categorizados erroneamente pela indústria e fãs. Que tal corrigirmos esse erro histórico e investigarmos o verdadeiro gênero de alguns clássicos?

The Legend of Zelda: Majora’s Mask — Corrida

Quebra-cabeças. Templos. História complexa. Side-quests. Inúmeros NPCs.

Tudo isso é irrelevante. Não passam de desculpas para dar ritmo ao jogo e espaçar seus objetivos. E qual o objetivo principal do jogo, afinal? Salvar Termina? De um ponto de vista narrativo, talvez. Mas, sob a perspectiva da gameplay, o objetivo é fazer o jogador usar as máscaras.

As máscaras alteram a forma que o jogador se move pelo mundo e são necessárias para explorar as quatro principais áreas do jogo o mais rápido possível, na eterna corrida contra o tempo. Curiosamente, alguns minigames são jogos de corrida mais tradicionais, como a Goron Race ou a Doggy Racetrack, fazendo com que Majora’s Mask seja talvez o primeiro metaracing game da existência.
So meta.

Metal Gear Solid (PS) — Esporte

Metal Gear Solid é um simulacro de um esporte real, assim como Madden ou NBA Live. Mas que esporte? Esconde-esconde (ou pique-esconde, dependendo de sua região), é claro! Entretanto, ao invés de seguir uma abordagem realista, MGS altera as regras desse nobre esporte e exagera alguns aspectos — similar ao que Mario Tennis (N64) fez com o tênis ou Super Mario Strikers (GC) fez com o futebol.
Ei! Vocês não contaram até 10!
Mas a mente criativa de Hideo Kojima não se limitaria a mudar apenas as mecânicas do jogo. Ele dá uma importância narrativa ao esporte, fazendo com que o destino do mundo esteja nas mãos do campeão mundial de esconde-esconde, Solid Snake, que precisa sobreviver a um campeonato mortal organizado por seu invejoso rival fraterno.

FIFA 2015 (Multi) — Grand Strategy

A série FIFA não passa de uma ambientação moderna de Crusader Kings (PC). Ser o técnico de um time de futebol não é tão diferente de comandar uma nação histórica. Você precisa treinar seus exércitos (seu time), lidar com o relacionamento e treinamento de seus soldados (seus jogadores) e vencer batalhas para atingir a supremacia mundial.
Saca só as fichas desses personagens!
Assim como em Crusader Kings, há uma separação entre tática e estratégia. Antes das batalhas (ou partidas de futebol), você pode escolher seus soldados (cada um deles com suas características próprias e possibilidade de progressão através de treinamentos), elaborar estratégias e negociar com rivais e aliados. Já as batalhas são em tempo real, com você podendo comandar os personagens individualmente e moldar suas táticas de acordo com a necessidade.

Mario Golf (GBC) — Estratégia em Turnos com elementos de RPG

Seu personagem possuem vários atributos que alteram sua eficiência no jogo, sendo possível melhorá-los com pontos de experiência adquiridos em batalha. Estas se passam em campos tridimensionais. Seu objetivo é chegar até certo ponto (representado por um buraco no chão), usando o mínimo de movimentos possíveis para tal. Isso exige extrema estratégia, sendo necessário considerar o nível de seus personagens, propriedades do terreno e clima.

Code Name: S.T.E.A.M. (3DS) parece ser um sucessor espiritual desta premissa: personagens com níveis e atributos, movimentação em turnos e objetivos de batalhar centrados em chegar até certo ponto do mapa. A grande diferença aqui é que você controla vários personagens em vez de apenas um, mas os princípios básicos são os mesmos.

Half-Life 2 (PC) — Plataforma em Primeira Pessoa

Mirror’s Edge (Multi) foi considerado extremamente original por ser um jogo de plataforma em primeira pessoa com gráficos realistas, física verossímil e ambientação futurística distópica. Ou seria, se Half-Life 2 não tivesse feito a mesma coisa anos antes — e melhor.
Eu vou deixar a piadinha de "Half-Life 3 confirmed!" com vocês.
Gordon Freeman pode não ter as habilidades de parkour de Faith, mas controlar o personagem é tão prazeroso quanto, graças ao level design fantástico. Seus puzzles fazem ótimo uso da física e ideias super-criativas, como o uso de armas para manipular plataformas, são adicionadas em cada nível. Diferente de Mirror’s Edge, o título da Valve também possui elementos de shooter competentes e divertidos — tão bons que quase chegam a tomar os holofotes do game.

Counter Strike: Global Offensive (PC) — Ferramenta de aprendizado de língua russa

“Давай!”, grita seu companheiro de equipe, ao iniciar a partida. “Заткнись, иди на хуй!”, você responde intuitivamente, após anos tentando combater (ou ajudar) terroristas digitais. Com poucas partidas, tais palavras tornam-se familiares para qualquer jogador de Counter Strike. Qualquer jogador que tenha atingido o rank máximo ganha, sem perceber, um extenso vocabulário russo.

A Activision tentou criar uma ferramenta de aprendizado de idiomas similar com a série Call of Duty. Infelizmente, ao invés de tentar ensinar alguma língua popular, foca-se num estranho dialeto composto exclusivamente por ofensas racistas e homofóbicas.

Super Smash Bros. Melee (GC) — Jogo de luta (de verdade)

Desculpem-me, smashers, mas nem de zueira.

Revisão: Alberto Canen
Agradecimentos especiais: Gabriel Simonetti
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