Uma conversa sobre a série Souls: demônios, almas e sangue

No aquecimento para Bloodborne, dois fãs da série relembram suas experiências com os jogos da From Software.

em 19/03/2015

A franquia Souls é uma das mais importantes da atualidade, sucesso de crítica e de público, afinal estamos falando de uma das bases de fãs mais apaixonada e participativa. No aquecimento para a chegada de Bloodborne (PS4) e Dark Souls II Scholar of the First Sin (Multi) resolvemos conversar sobre esses grandes jogos: a mística da dificuldade, os chefes e cenários desafiadores, as vagas e lindas histórias, a inteligente e inovadora função online e um tanto mais. Confira o papo descontraído entre dois fãs da série.


Pedro: E então Pepo, pronto para falar sobre a série Souls? Qual foi sua primeira interação com a franquia? O que te fez ter vontade de conferir?
Pepo: Tudo pronto! O primeiro jogo da série que eu joguei foi Dark Souls, no Xbox 360. Eu lembro de ir atrás dele depois de conversar com um cara que trabalhava numa loja de jogos do lado da escola onde eu trabalhava. Nem sei mais dele hoje em dia. Comecei a jogar e fiquei apaixonado, varava madrugadas, coisa que nunca fiz. E como foi contigo? Qual o primeiro jogo da série tu jogou?


Engraçado, comigo foi parecido. Quando eu comprei meu PS3, tinha um vendedor com quem eu sempre conversava e ele dizia que o motivo de ele comprar o console tinha sido Demon Souls, daí fiquei com o jogo em mente, respeitava a opinião do rapaz. Um tempo depois comprei o jogo e comecei a jogar, e era realmente bem único: ambientação incrível, trilha sonora excelente e um combate muito técnico. Preciso nem dizer que acabei gostando bastante do jogo. haha Só uns dois anos depois peguei o Dark Souls.
O Demon's Souls eu fui atrás só depois, e tive que jogar muito aos poucos e em sessões bem corridas por conta de eu não ter PS3 e ir jogar na casa do meu cunhado. É claro que é um jogo incrível também. Mas a Lore do Dark Souls e a forma como os cenários se conectam me deixou uma impressão bem mais forte. Eu diria que gosto um pouquinho mais dele. Mas são histórias e propostas diferentes, né?


Sim, a essência é a mesma, mas o jogo encara os cenários de formas diferentes, e é uma distinção bem clara. O Dark Souls é mais refinado por ter sido “quase” uma sequência e aprensenta várias melhoras nos sistemas gerais. E eu concordo que Dark Souls me impressionou mais, principalmente na intersecção dos mapas. O level design do jogo é o melhor que já vi, sem brincadeira, tudo se mistura muito bem. A forma não linear e como o jogador é realmente inserido no papel do Chosen Undead é muito imersiva, fora o modo como o jogo encara a falha como aprendizado. Mas o Demon Souls não fica atrás. E a lore da série é fantástica, não é? haha
É incrível sim. A forma como os personagens e os cenários formam o conto de uma humanidade que não aprende com seus erros e que cai em tentação na sede pelo poder é muito inteligente. O que é comum aos dois jogos é que quando o jogador passa pelos locais, eles já estão destruídos e desgraçados, a decadência é perceptível. Parece algo que o Bloodborne vai trazer de novo, e acho isso sensacional. Pra mim o diferencial do Dark Souls é a construção dos personagens, dos chefes que a gente enfrenta, e sua relação com o aparecimento e fim da chama. Cara, a história por trás do Pigmy e do Artorias, por exemplo, é genial!


Dark Souls tem essa coisa mesmo de a história poder ser entendida de várias maneiras, a moral é muito forte. É um diferencial muito grande. Você aprende por aquilo que vê e por pura curiosidade e imersão, você descobre as coisas a sua própria maneira. Andar e procurar o que aconteceu com heróis como Artorias e Gough, até sobre o Pygmy como você falou, a história da loucura que sempre recai sobre as pessoas que exploram Anor Londo. É uma premissa bem forte e muito bem executada. E por falar em força, não podemos deixar de falar da dificuldade né? haha
Opa deixa eu ver isso aqui e- NOPE.
Sim, o que deixou a série conhecida né? haha. Eu acho o Demon's Souls umas 12 vezes mais difícil que o Dark  Souls. Sério, eu tenho ódio do Flamelurker e do Allant, mas é o Maneater que me faz ficar com medo do escuro. Mas o Dark Souls também tem seus chefes geniais. Acho que a maneira como usam o Capra Demon num espaço pequeno no começo do jogo, e depois ele reaparece em lugares maiores, e você acha ele fácil, dá uma sensação de evolução linda. A mesma sensação que eu senti depois de vencer Ornstein e Smough. Aliás, fico com a impressão que eles são um dos chefes mais geniais da história dos jogos!


Sem dúvidas, o Maneater e sua mania de te jogar pra fora do cenário! haha E o mais importante! A dificuldade é justa. As vezes eu paro pra pensar sobre essa de “difícil”, o início é realmente bem complicado, mas mais por você não entender as premissas e enfrentar certos desafios de "peito aberto". Não é que seja difícil, ele exige precisão, estratégia e cometimento. E sim! Os chefes são uma parte essencial, combinando uma trilha sonora excelente com lutas muito desafiantes. Além da arte e história por trás deles ser incrível.

E realmente, as batalhas que tu citou são o ápice. Ornstein e Smough são de deixar um maluco, lembro de travar uns 3 dias neles, a coisa foi feia! haha Mas vou te falar, também tenho um ódio especial pelo Asylum Demon, lá quando você retorna a Undead Asylum e logo quando entra já tem a surpresa: “ué, ele de novo?” Meu deus do céu como morri ali, e nem tão difícil é! haha



O legal é que tem chefes em que a trilha sonora não causa só tensão ou medo. Pega a fantástica luta com o Sif, por exemplo. Aquela musica faz você se sentir mal de matar o lobo, ainda mais se você interpreta que ele está tentando te salvar do destino que o Artorias teve. E ele mancando? Que tristeza!
Tem coisa mais triste que derrotar o Sif tendo jogado o DLC? Não tem, duvido que tenha.
Pois é! haha
Bom, outra coisa interessante são os próprios cenários com temas e histórias diferentes. Coisa linda chegar em New Londo e ver a cidade toda submersa para só depois descobrir o destino dela. Chegar na Kiln of the First Flame pela primeira vez e se surpreender com a quantidade de cinzas. Até o local da luta contra a Astraea no Demon Souls desafia sua mente. E para você Pepo, quais foram os mais memoráveis?



Eu gostei bastante do Stonefag Tunel do Demon's Souls. Tem um design genial, e uma baita lore por trás. Eu odiava com todas as minhas forças o Tomb of the Giants, do Dark Souls, só depois que comecei a admirar a fase do ponto de vista do level design, tem muita coisa inteligente ali. No Dark Souls II eu gostei da Lost Bastille. E por falar em Dark Souls II, nem comentamos sobre ele né? Tu também achou ele um pouco mais fraco que os outros?
Deixa eu só dizer que, realmente, Tomb of the Giants é uma sacanagem a parte. A primeira vez que entrei lá e vi os olhos do inimigos no escuro a sensação foi só uma: NOPE. Sempre que vou jogar deixo essa parte por último, até porque catacombs também é um saco.

Never forget.
Do Dark Souls II, é meio complicado. Ele é um jogo muito bom, mas que não chegou a ser nem igual nem melhor que o Dark Souls, se esforçou demais para ser difícil não pelo bem da própria ambientação e sim só por ser “difícil”. Além de não apresentar chefes muito inovadores e nem transições boas de localidades. Os DLCS já são ótimos e apresentam um bom desafio e ambientes mais criativos. Pra mim é a melhor parte do II, junto do espertinho que sempre rouba minhas effigies: Darklurker! haha



O Dark Souls II tenta muito mesmo esse negócio de ser difícil. Engraçado que poucas áreas e chefes dele são memoráveis pra mim. Eu gostei bastante do Looking Glass Knight, principalmente por ele poder invocar um outro jogador para sair do escudo espelho dele. É bem legal quando ele te invoca. O Demon's Souls foi genial nessa questão do online, e o Dark Souls levou adiante. A experiência não é nem online, nem offline, é uma gelatina linda entre os dois. E o que tu acha das funções online?
Que funcionam muito bem. Eu não costumo me aventurar muito pelas terras do PvP, mas dá pra ver que o pessoal gosta e vive inventando builds diferentes e engraçadas. Quem nunca viu o clássico Giant Dad? haha.
A lenda.
Já no PvE, aquela coisa da mancha de sangue, fastasmas de outros jogadores que vira e mexe aparecem, são sistemas bem bacanas e dão uma sensação massa de coletividade. Além de que invocar seus amigos pra derrotar chefes é muito legal né? Facilita, mas é legal. O Sinh Slumbering Dragon mesmo, foi ótimo de derrotar no cooperativo. E é algo que nós vamos ver muito no próximo título da From Software não é? Bloodborne tem muito potencial.

Com certeza, mesmo carregando o DNA da série, parece que ele vai trazer mudanças significativas e ir ainda mais além nas interações online, com a Chalice Dungeon principalmente. A mão do Hidetaka Miyazaki (diretor do jogo) e o alto investimento da Sony deixam poucas preocupações com o jogo. Ele vai ser, no mínimo, competente. Eu quero é saber o que ele vai ser no máximo, haha. Um dos meus maiores medos é ele acabar reciclando novamente alguns conceitos. Tipo, áreas que se repetem (mais em termos de ambientação do que de design), o Valley of Defilement (Demon's Souls), Blighttown (Dark Souls) e The Gutter (Dark Souls II), por exemplo. O que você acha que o título pode carregar de bom e de ruim de seus antecessores?
Hidetaka é na minha opinião, um ícone de inovação. Quando ele estiver na produção, pode ter certeza que algo vai te impressionar. De bom, Bloodborne pode levar a customização do personagem, ambiente e modo de contar histórias, que pra mim é o que mais importa. De ruim, acho que ele ainda vai continuar tendo aquelas quedas de taxa de quadros chatas, comuns em Blighttown e Valley of Defilement. Mas no geral, espero ansiosamente, assim como você e todo bom admirador do trabalho da From Software.



E pra finalizar, o que vocês acham da série Souls e do legado que ela passará para próximos jogos da From Software? E sua importância no meio em geral? Ansiosos também pelo relançamento de Dark Souls II e pelo novíssimo Bloodborne? Nos conte nos comentários.

Colaboração: Pedro Vicente
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Farley Santos
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