20 anos de Chrono Trigger: todos a bordo da Epoch

Um dos mais importantes RPGs da história dos videogames completa 20 anos em março. Relembre o incrível título da Squaresoft.

No último dia 11 de março, Chrono Trigger completeu 20 anos. Essa foi a data de seu lançamento japonês, mas logo em agosto do mesmo ano o título chegaria ao Ocidente com a sua versão americana. Ou seja, se a obra se transformasse em uma pessoa, daria para convidá-la para tomar uma cerveja sem nenhuma implicação legal. E, entre um chope e outro, confesso que eu estaria “facinho facinho” pra ela. Deixando de lado meu flerte com Chrono Trigger, vamos aproveitar a data para relembrar este que é um dos títulos mais essenciais da história dos videogames. Todos a bordo da Epoch!
A revelação de um novo RPG da Square agora é um grande acontecimento. Faz também um ano desde que Secret of Mana apareceu no Ocidente, e os fãs têm esperado ansiosamente pelas novidades de uma sequência. É por causa disso que as imagens de um jogo chamado Chrono Trigger vêm despertando tamanha empolgação. O jogo segue um grupo de aventureiros através de vários períodos históricos fictícios diferentes, com a ajuda de uma bizarra nave com asas que viaja no tempo e espaço (revista Super Play, n25, 1994. Traduzido e publicado na revista Old!Gamer, n14).

A.D 1995: Acorda, Crono!

Não é segredo para ninguém a essa altura, mas Chrono Trigger foi desenvolvido pelo chamado “Time dos Sonhos”. O tal time era tão bom que geralmente são esquecidos da lista nomes como Masato Kato (um dos escritores de CT e de títulos como Xenogears, Chrono Cross, Final Fantasy VII), Yasunori Mitsuda (compositor da maior parte da trilha do jogo, e que viria a trabalhar em Xenogears, Chrono Cross e na série Shadow Hearts), Takashi Tokita (um dos diretores, trabalhou como designer principal de Final Fantasy IV e diretor em Parasite Eve), Yoshinori Kitase (diretor em CT, cargo que ocupou também em Final Fantasy VI, FF VII e FF X), e Akihiko Matsui (outro diretor de Chrono Trigger, designer de Legend of Mana e Final Fantasy XIV: A Realm Reborn).
Objection! Porque antes de Phoenix Wright, veio Pierre.
Se essa é a estirpe dos profissionais pouco lembrados por Chrono Trigger, imagina a dos que sempre são rememorados? Pois bem, nada menos que Hironobu Sakaguchi (criador de Final Fantasy), Yuji Horii (criador de Dragon Quest), Akira Toriyama ( o eterno criador de Dragon Ball), e Nobuo Uematsu (o incrível compositor conhecido por Final Fantasy).
O Dream Team está em um dos finais do jogo.
É importante entender a situação em que Sakaguchi e Horii se encontravam. Final Fantasy já estava em sua sexta versão e Dragon Quest em sua quinta, na época que Chrono Trigger foi lançado. Os dois desenvolvedores já vinham trabalhando na mesma série há quase dez anos, não é difícil imaginar a vontade que eles deviam estar de desenvolver algo totalmente novo, diferente do que já haviam feito até então. Foi aí que os traços de Akira Toriyama criaram os carismáticos heróis, vilões e seres daquele mundo, e a equipe dos sonhos se reuniu para nos entregar o fantástico título, e em 1995 Crono acordou pela primeira vez nos lares de milhares de jogadores.
Os gráficos de Chrono Trigger representam uma evolução em relação aos RPGs anteriores, incluindo Final Fantasy III (Final Fantasy VI, no Japão). Espere encontrar inimigos inovadores, efeitos especiais hipnóticos (especialmente durante a viagem no tempo), técnicas impressionantes, e polidos, lindos cenários (análise da revista GamePro, setembro de 1995, em tradução livre).
GamePro de setembro de 1995 que trouxe a análise de Chrono Trigger.

A.D 2008: Nintendo Blast e GameBlast fazendo parte desta história

Desde o começo do Nintendo Blast, e depois com o GameBlast, Chrono Trigger é um título que não fica muito tempo sem ser revisitado ou mencionado em alguma maneira. Já fizemos Blast from the Past, e também uma análise na ocasião de seu relançamento para Nintendo DS. Além disso, recentemente discutimos se o game pode ser considerado perfeito.
Campanha publicitária do lançamento americano.
Seus personagens também apareceram ao longo dos anos de nosso querido portal. Pudemos conhecer melhor o Crono, a Ayla, o temível Lavos, e a querida Lucca que apareceu em nosso top 10 sobre mulheres poderosas. Falando em top 10, Chrono Trigger marcou presença em nossa polêmica e divertida coluna. Uma certa dupla apareceu em nossa lista dos melhores casais dos jogos da Nintendo, e outro evento do jogo figurou em duas listas: sobre momentos inesperados e mortes inesquecíveis.
Que saudade de vocês!
Também relembramos a incrível trilha sonora do jogo, e não deixamos de citar o título em nosso especial sobre a história da Square Enix. Esperamos que o conteúdo tenha agradado aos fãs e despertado interesse naqueles que ainda não jogaram. Da nossa parte, prometemos revisitar muitas outras vezes este sensacional jogo e todos os seus aspectos.
A jogabilidade de Chrono Trigger é um dos pontos que mais merece elogios. Primeiramente ela prima pelo dinamismo. Não há batalhas desnecessárias e cansativas durante o game. Parte desse problema foi abolido com o fim das batalhas aleatórias, pesadelo de muitos jogadores. Podendo ver os inimigos, o jogador pode definir se quer ou não batalhar e até mesmo pode usar um item antes do combate se estiver com pouca energia. As vezes tudo isso parece bobagem mas não é (análise de Chrono Trigger para DS, Nintendo Blast, 2008).

A sensação de liberdade e exploração em Chrono Trigger

Em 2012, Victoria Earl publicou um interessante artigo no site Gamasutra sobre o design de Chrono Trigger e a sensação de liberdade que ele consegue passar ao jogador mesmo direcionando a aventura. Dentre os vários tópicos abordados, selecionamos quatro.

Os inimigos existem apenas nas dungeons, e não no world map. Isso possibilita um ritmo maior na exploração, principalmente no momento em que o jogo dá a chance ao jogador de cumprir missões opcionais e que podem ser feitas em qualquer ordem.
Indo e vindo sem chateação!
O level dos inimigos é fixo, não variável, o que força o jogador a seguir pelo caminho principal de uma maneira dinâmica. Quando você resolve sair um pouco da sua missão e explorar novos cantos, muitas vezes são os próprios inimigos que te indicam que ainda não é o momento de passar por ali. Além de ser algo mais orgânico, ainda deixa na memória a vontade de retornar ao lugar no futuro.

Todos os inimigos podem ser vistos na tela. Aliado ao fato de que os adversários dão uma soma grande de experiência e pontos de técnica, o título acaba não te forçando a batalhar constantemente, e sempre que é necessário passar por algum lugar novamente o jogador pode fazê-lo fugindo da maioria dos encontros. O que cria inclusive a sensação de estar dominando o jogo e conhecendo aquele mundo. Vai dizer que você não passava correndo por aqui:
O quão chato seria passar pelo Truce Canyon várias vezes no começo do jogo se as batalhas fossem aleatórias?
Por fim, o New Game + dá a possibilidade de reconstruir o caminho principal do jogo. O jogador pode passear de uma maneira diferente pelo título, inclusive buscando os diversos finais que o jogo possui.
É após o jogo ter sido completado que Chrono Trigger realmente brilha. Após o fim da jornada, a opção New Game + aparece, possibilitando que os jogadores recomecem tudo mantendo seus levels, dinheiro, e equipamentos. Não apenas isso torna possível que uma segunda incursão leve menos tempo, também possibilita alcançar uma dúzia de novos finais diferentes, dando ao jogo um valor de replay sem precedentes (análise do site Rpgamer).

Os dois contos de Chrono Trigger 

Outra interessante leitura sobre o jogo debate o design e a narrativa de Chrono Trigger, e como ele dá duas respostas diferentes ao tema que propõe: os eventos são ou não inescapáveis? Para o autor do texto publicado no thegamedesignforum (que, apesar de grande e em inglês, vale a pena ser lido), o título consegue dar respostas diferentes, mas igualmente convincentes, porque é, na verdade, dois jogos diferentes, escritos e principalmente jogados de maneiras distintas: A Tragédia da Entidade e a Comédia dos Sábios.
Uma bela arte do Reino de Zeal.
Na Tragédia da Entidade, o jogador é guiado de maneira totalmente linear por eventos que culminam na frustração de sua missão, de forma que são vencidos por Lavos e a destruição é inevitável. No entanto, o game vai dando a sensação de que você pode, enquanto um jogador ativo e não um mero espectador de uma tragédia, alterar o fluxo das coisas: você vence chefes, aprende técnicas, conhece novos personagens, altera o tempo e passa por dungeons. O ritmo da narrativa e da jogabilidade te levam ao culminante momento, surpreendente e ao mesmo tempo inevitável, em que a missão falha miseravelmente e Crono morre. O destino é inalterável. Mas calma, isso ainda é um jogo, e sobre viagem no tempo.
Não há nada que possamos fazer?
E aí que chega a vez da Comédia dos Sábios, uma comédia de alteração na qual chegamos a um final feliz. Depois dos eventos do Death Peak, o game abre para a exploração, e através das missões, inclusive as paralelas, vamos alternando e brincando com o tempo e a história. Todo o aspecto jogável e visual finalmente se reencontra com a narrativa. Agora, o grupo tem sim o poder de alterar o destino.
Uma das características chave de Chrono Trigger é o facto de apostar em aprofundar o passado dos diversos personagens e suas motivações, algo que em muito contribui para que o jogador se sinta embrenhado em toda esta história. Com o seu punhado de personagens originais e interessantes, inova (ou pelo menos, para a altura fazia-o) introduzindo na narrativa viagens no tempo, utilizadas de forma extremamente interessante. Seja por nos permitir ver o resultado das nossas acções ao longo do tempo, seja pela maneira como gere a viagem dos personagens pelas diversas épocas. É uma história dinâmica, que consegue — também por oferecer várias missões opcionais — quase fazer esquecer que este se trata de um jogo bastante linear (análise do site Eurogamer Portugal).
Primeira página do detonado publicado na revista Super Game Power, de dezembro de 1995.

Importância que nem mesmo viagem no tempo poderá mudar

Muito ainda pode, e deve, ser discutido e relembrado sobre Chrono Trigger. Além de ser um título que figura no coração e memória de um grande número de jogadores, é importante para todos que admiram uma obra seminal, daquelas em que as opções de design e o desenvolvimento do produto parecem uma aula de como se fazer um jogo. Tentamos resgatar diferentes aspectos do game, diversas perspectivas e análises sobre Chrono Trigger. Mas ainda falta uma contribuição importante.
Não deixe de nos contar da sua experiência com Chrono Trigger. Qual a importância que o jogo possui, qual seu legado, e que outros textos interessantes você já leu sobre essa obra-prima dos videogames.

Revisão: Alberto Canen
Capa: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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