Blast from the Past

Caesar II (PC) refaz uma jornada pela história de Roma

Reconstrua cidades, conquiste províncias e reviva a glória do Império Romano


Durante o ano de 1992, a Impression Games desenvolveu Caesar, baseado no sucesso recente de SimCity alguns anos antes. A diferença é que aqui você governava uma cidade da Roma antiga, erguendo novos prédios enquanto organizava legiões para lutar contra povos bárbaros. Como o jogo obteve um bom retorno, não demorou para a Impression começar a trabalhar em Caesar II. A segunda versão foi lançada em 1995, com muitas melhorias em relação ao jogo original, ao ponto de disputar o público de simulação e construção de cidades com o fortíssimo concorrente SimCity 2000, lançado alguns meses antes. Conheça um pouco mais da força do Império Romano nesse excelente título de outrora.

Veni, vidi, vici

Ao iniciar o jogo, você escolhia como queria jogar: ser um construtor de uma única cidade ou se arriscar em uma carreira pela honra de Roma em uma campanha. O fato de adicionar um modo de campanha já era a primeira diferenciação tanto do Caesar original como da franquia SimCity, já que aqui você construía cidades em busca de um objetivo. E esse objetivo não era nada menos do que se tornar César, o imperador de todo o império. Para tal, você deveria conquistar um número pré-determinado de províncias em nome do império, número esse definido pela dificuldade.

Mapa-múndi

No início do modo campanha você é um cidadão comum de Roma, na qual o imperador lhe repassou a tarefa de governar em nome de Roma. Aqui você pode escolher entre uma das diversas províncias vizinhas da região da cidade de Roma. Assim que você conquista-a por completo, o Imperador lhe oferecerá uma promoção, concedendo novas opções com as províncias vizinhas da que você conquistou recentemente, assim como as anteriores já disponíveis. Você provava isso já que cada missão trazia desafios cada vez mais difíceis.
Caesar II trazia um modo tutorial opcional, raro em jogos na época. Era bem útil para entender os conceitos básicos do jogo.

As províncias disponíveis são de regiões da Europa, norte da África e parte do Oriente Médio, com as fronteiras dos territórios e nomes originais dados pelos romanos. Alguns desses nomes originaram nomenclaturas que utilizamos até hoje, já que o português é uma língua derivada do latim utilizado pelos romanos. Nomes como Hispânia deram origem à atual Espanha, já outros como Germânia e Lusitânia aos termos germânicos e lusitanos utilizados para coisas originárias da Alemanha e Portugal respectivamente. O jogo inclui territórios nunca conquistados por Roma, como as regiões atuais da Alemanha, Polônia, Dinamarca e Irlanda. Esses locais possuem fortíssima resistência bárbara, e conquistá-los requeria enorme habilidade do jogador.
Você consegue expandir de uma dessas regiões para o restante do mundo conhecido?

No entanto, você não é o único que almeja ser o próximo César. De tempos em tempos, o general romano Pompeu Magno irá conquistar algum dos territórios disponíveis em nome de Roma. Isso exclui sua possibilidade de governar aquela província, porém também abre as províncias vizinhas para escolhas futuras. Isso era útil para pular alguma região mais chata, mas lembre-se que Pompeu é um rival. Se ele conquistar o número de províncias mínimas para a vitória, ele se torna César em seu lugar. E ai é Game Over.
Veja que após a vitória em uma provincia, novas opções se abrem. Agora poderia escolher entre a Grécia e Sicília para a próxima missão

Roma não foi construída em apenas um dia!

Todos os mapas de cidades possuíam um layout parecido, com campos verdejantes e um rio cruzando uma parte da cidade. O rio sempre é necessário para prover água para a cidade, por isso sempre está lá. Você possuía diversas opções de construções nos botões do painel, divididas por categorias. A exceção ficava com os botões para casas e estradas.

Você estabelecia pequenas cabanas ao colocar casas, e elas vão evoluindo conforme as condições adjacentes permitem, podendo atingir enormes palácios. A cada nível de evolução elas vão demandando serviços adicionais como água, educação e entretenimento. Os outros botões lhe davam maneiras de satisfazer essas necessidades. E por que interessava evoluir as cabanas para palácios? Casas maiores aumentam sua população, afinal, cabe mais gente em um prédio do que em uma pequena cabana. Fora o fato que um morador de palácio é mais rico que alguém que mora em uma cabana, e isso refletia em um retorno maior em impostos. Você depende desse dinheiro para a manutenção e expansão de seu poder, seja em construções ou exércitos.
Um dos níveis de evolução das casas, que requer uma casa de banho nas proximidades para evoluir

Para evoluir as casas, você provia serviços construindo coisas como fontes de água, hospitais e coliseus. Essas construções proviam seu serviço automaticamente ao redor delas, facilitando o planejamento. Algumas como hospitais e bibliotecas serviam a cidade inteira, não importando onde se localizavam. Sua única limitação era um número máximo de mil pessoas por hospital e mil e duzentas por biblioteca. Se sua população fosse maior que isso, era necessário criar novos prédios para manter os serviços em nível satisfatório. Conforme sua população aumentava, algumas construções de maior capacidade eram desbloqueadas. Por exemplo, ao alcançar mil pessoas você podia construir o odeum, que é um teatro com maior alcance. Isso facilitava bastante o planejamento e otimização do espaço nas cidades.
Mantenha suas cidades felizes e seguras. Ou se arrisque a assistir casos de roubo a seu tesouro.

Todas as construções são baseadas em prédios reais existentes em Roma. Caso você ficasse curioso, um botão na descrição dos prédios apresentava a fonte histórica de cada uma e, em alguns casos, fotos de locais reais, como fóruns, teatros e do Coliseu de Roma. O jogo inteiro teve uma base de pesquisa grande para refletir com precisão a vida de uma cidade romana.
Aqui a descrição histórica dos fóruns romanos, com a foto do fórum de Augusto, sítio histórico em Roma

Plebs are needed!

Conforme sua cidade era expandida, logo você recebia a mensagem sonora e visual “Plebs are needed!”. Plebs no caso são pessoas remuneradas pelo trabalho pesado em sua cidade. Eles são responsáveis por construções, prevenções de incêndio e manutenção do sistema de aquedutos, estradas e muralhas. Conforme você constrói mais construções, mais plebs serão necessários para sua manutenção. Você começa pagando um valor baixo de salário mensal, o que atrai poucos para o trabalho. E onde ajustar a distribuição deles ou aumentar os valores de salário para atrair mais gente? Vamos ao fórum!
Na tela principal do fórum você pode consultar diversos conselheiros sobre temas específicos

Nessa tela cada uma das pessoas é um conselheiro, que lhe dá estatísticas e valores para sua cidade. Voltando ao exemplo dos plebs, ao clicar no conselheiro específico, você podia alterar o valor pago, assim como ter uma projeção de quantos estarão disponíveis para o trabalho com o aumento ou redução do salário pago. Caso você continue com um número insuficiente, divida os trabalhadores disponíveis para o que você considera prioritário.
Com salários mais altos você consegue mais plebs trabalhando para você. Números insuficientes traziam paradas nos serviços ou até mesmo incêndios e quebras.

Outros conselheiros mostravam suas finanças, dados da população, de suas tropas, opinião imperial a seu respeito, o atual mapa imperial, possibilidades de comércio e seus atuais níveis de pontuação na província. Esse último é bem importante, pois além de medir sua pontuação atual, também apresentava uma forma de como melhorá-la. Sua pontuação era dividida em quatro pontos: Império, Paz, Prosperidade e Cultura.
As colunas representam sua pontuação. Se estão fechadas, demonstram que o mínimo daquele grupo já foi alcançado

Império depende basicamente de como você desenvolveu sua província, Paz de subjugar bárbaros e não permitir invasores em sua cidade, Prosperidade em gerar lucro na cidade e Cultura em prover educação, religião, saúde e entretenimento para a população. Ao atingir os níveis mínimos de cada uma delas e uma média razoável, você receberá uma promoção do imperador.

Indo além de sua cidade

Fora o imposto residencial, também era possível estabelecer indústrias e receber um retorno dos bens produzidos. Porém, indústrias requerem grande mão-de-obra nas suas proximidades, ao mesmo tempo que são locais desagradáveis para se morar perto. E também necessitavam de matéria-prima, que você precisava prover pela sua província ou via comércio de províncias adjacentes. Então vamos para o modo de província para fornecer os recursos.
Aqui temos um porto provendo ferro via comércio marítimo para ser utilizado pela cidade. No mini-mapa no topo direito, é possível ver todas as conexões de estradas com diversas partes da província

O modo província era outro modo de construção, diferente da construção de cidade. Cada província possuía campos de pedra para serem utilizados como minas, ou campos com folhas para fazendas. Além de erguer o respectivo prédio, era necessário ainda ligar o campo de produção com estradas até sua cidade, assim como montar um armazém e enviar um grupo de plebs para trabalhar no local. Também era possível estabelecer postos de troca próximos à fronteiras terrestres ou até mesmo portos para receber matérias-primas de outras províncias. O conselheiro de comércio no fórum lhe mostrava as possibilidades daquela província.

Nesse ponto você vê que além de sua cidade existem outras cidades menores espalhadas pelo mapa. Conectar essas cidades via estrada com a sua permitia que elas se desenvolvessem, aumentando bastante sua pontuação da categoria Império. Porém algumas cidades não se desenvolviam mesmo com estradas, e até mesmo enviavam tropas para lhe atacar de tempos em tempos. Essas são vilas bárbaras.

A legião romana

Os bárbaros são historicamente povos que não aceitavam a subjugação romana, lutando e invadindo diversas partes do império. Para lidar com eles aqui utilizávamos os famosos legionários romanos. Assim como os plebs, os legionários são recrutados a partir da definição de um salário mensal. Quanto maior o valor do salário, mais soldados aceitavam lutar por você. Além disso, era possível recrutar soldados via conscrição de porcentagem da população, alocando plebs para o serviço militar ou até mesmo recrutando mercenários (esses disponíveis só em algumas províncias). Todas essas opções estão disponíveis no conselheiro de legiões do fórum. Mas só os soldados que recebiam salário e alguns poucos tipos de mercenários eram realmente fortes. O restante nem valia a pena na maioria das vezes.
Assim como plebs, salários maiores trarão mais tropas. Aqui também é possível escolher como você vai dividir seus soldados entre diversos grupos de combate.

Os soldados precisam de bases de operação, e para isso era possível construir fortes no mapa de província. Os fortes são a base de moradia e treinamento dos legionários. Eles ficam por lá estacionados a não ser que você dê a ordem de marcar sobre um inimigo, ou algum inimigo esteja por perto. Era possível construir diversos fortes, sendo útil para ter presença militar em diversas áreas da província, assim como diversos exércitos para combater mais de um inimigo. Além de invadir vilas bárbaras, em algumas províncias mais selvagens como a Germania Superior e Inferior, invasores partem das fronteiras, seja via barco ou a pé. Como seu nível de paz dependia de não permitir invadirem suas cidades, as legiões são importantes em locais muito perigosos.
Marche suas legiões e subjugue aqueles que não aceitam o poder de Roma!

Ao encontrar tropas inimigas, o jogo lhe oferecia a opção de controlar o combate manualmente, ou entregá-lo a um de seus subordinados, simulando a situação final. Como na maioria das vezes era melhor lutar do que simular, vamos à interface de combate:
Não tem muito o que fazer em combates. O segredo era alinhar suas tropas para não tomar ataques pelas costas e manter arqueiros atrás de suas legiões.

A ideia aqui era derrubar o moral do inimigo, para que eles desistam do combate. Assim que boa parte deles fugirem, a vitória será sua. Obviamente que números ajudam, mas ainda assim era possível ganhar combates mesmo com uma tropa menor. São poucas as opções táticas disponíveis, como pausar o combate, alterar a formação dos soldados entre uma linha (para melhorar atacar) ou uma coluna (para se defender de projéteis). No geral, os combates aqui se baseavam em ou aguardar o inimigo avançar sobre você ou avançar sobre eles, e não deixar tropas frágeis tomarem a frente. Saindo vitorioso ou não, suas tropas eram repostas aos poucos desde que a legião estivesse dentro de seu forte. O moral das tropas também era restaurado aos poucos em ambos os casos.
O jogo também trazia simples animações em 3D para alguns eventos. Esses gráficos eram considerados bonitos em 1995!
Se um inimigo invadisse sua cidade, eles se transformavam em invasores iguais às pessoas que circulam por suas ruas. Nesse ponto, só os soldados que patrulham sua cidade gerados por construções como Barracks, Praefecture e Tower poderiam lutar contra eles. Eles destroem sua cidade caso deixados à solta.

Legado

A desenvolvedora e Publisher Sierra viu um enorme potencial em Caesar II, e adquiriu tanto a série como a Impression ainda durante seu desenvolvimento. Com o apoio da Sierra, famosa por títulos como Gabriel Knight e Leisure Suit Larry, o jogo alcançou um grande patamar de vendas para a época e ajudou a estabelecer uma série de outros jogos de simulação e construção de cidades da Impression.

Após isso, títulos como Caesar III, Pharaoh e Zeus foram lançados, criando novos hits e trazendo ainda mais prestígio para ambas. A Impression ainda desenvolveu outros títulos famosos publicados pela Sierra após essa aquisição, como Lords of the Realm II e Lords of Magic. O jogo também ganhou reconhecimento da indústria de games e foi usado como inspiração para o lançamento do primeiro jogo da franquia Age of Empires, entre outros títulos menos conhecidos.

Já para mim, ele guarda um lugar especial na memória. Lembro-me de ter sido inscrito em um curso de computação para crianças em 1995, e após as aulas alguns professores apresentavam alguns jogos um pouco mais difíceis para conhecermos. E assim conheci Caesar II, que criou em mim um gosto enorme por simuladores das mais diversas formas e por jogos de estratégia. E você leitor, chegou a conhecer esse clássico? Liste sua experiência nos comentários!


Revisão: Luigi Santana
Capa: Douglas Fernandes

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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