Blast Test

Blast Test: Gabriel Knight 20th Anniversary Edition (PC) promete horror e mistério

Desvende os mistérios por trás de uma onda de assassinatos em Nova Orleães neste clássico point-and-click dos anos 1990.

Gabriel Knight: Sins of the Father é considerado um dos maiores clássicos do gênero point-and-click para PC. Lançado em 1993 e publicado pela falida Sierra On-Line, é considerado uma das obras primas de Jane Jensen, que trabalhou no também cultuado Police Quest.


Agora, 20 anos depois, o título enfim receberá um remake em HD. Mas será que esse clássico terá apelo junto às novas gerações de jogadores que o desconhecem ou só ouviram falar (como é meu caso)? Ou o relançamento agradará apenas conhecedores da franquia e gamers mais antigos?

O que você pode me dizer sobre vudu?

A história de Gabriel Knight segue o personagem homônimo, um escritor e dono de uma livraria especializada em livros antigos de Nova Orleães, Estados Unidos. Conhecido por suas tramas de terror, ele se vê incapaz de terminar seu novo romance devido a um bloqueio criativo. Para piorar ainda mais sua produtividade, suas noites têm sido inquietas, povoadas por um recorrente pesadelo.

Em busca de inspiração, ele se envolve na investigação de uma misteriosa  onda de assassinatos na cidade. Todas as vítimas (7, ao todo) tiveram seus corações retirados e nas cenas dos crimes há sinais de rituais de vudu. A polícia crê que sejam apenas táticas de intimidação dos assassinos, mas Gabriel pressente que há muito mais por trás.

Sendo um jogo dos anos 1990, esperava uma visão estereotipada das religiões de matriz africana. Fui felizmente pego de surpresa com uma abordagem precisa (e informativa!) do vudu. Elementos da doutrina dão um aspecto visual macabro ao game e às cenas do crime, mas o culto não é demonizado e se encaixa bem na história. No decorrer da investigação, aprende-se bastante sobre a religião, como surgiu e sua influência real em Novar Orleães.

Os personagens são bem construídos, com diálogos e reações naturais. O protagonista acaba sendo o mais fraco dentre eles. Mulherengo e orgulhoso, ele até que é carismático e possui várias qualidades — inteligente, perspicaz, obstinado —, mas fica na sombra de alguns companheiros, como Grace Nakimura, sua empregada e ajudante. Ela é essencial para o andamento da investigação, pesquisando sobre locais e personagens, e indicando os próximos passos para o patrão.

Talvez essa impressão seja salientada pelo fato de que Gabriel fala relativamente pouco. Muitos de seus pensamentos e reflexões são descritos por uma narradora onisciente — uma adição interessante que dá um clima de livro de mistério ao título.

Todos os personagens, inclusive a narradora, são falados, e não apenas texto. O trabalho de voz é competente, mas nada espetacular —  pelo menos não há momentos de vergonha alheia, com reações exageradas ou não-naturais, como acontecia com muitos jogos do passado.

Pecados dos pais

Mesmo com o bom trabalho de voz e personagens bem construídos, outros fatores evidenciam que este é um jogo dos anos 1990 — e isso é bom! A trilha sonora, por exemplo, é fantástica, absorvendo alguns dos melhores elementos musicais da época.

Mas onde a idade do título fica mais evidente é na jogabilidade. Gabriel Knight é um point-and-click padrão da época do DOS, gênero infelizmente não tão comum hoje em dia. O remake simplifica a interface, exigindo o mínimo de cliques possíveis. No lugar de uma lista de verbos e ações, basta clicar no objeto ou personagem que se quer interagir e escolher a opção desejada. Há também um botão que revela todos os objetos interativos do cenário, poupando o jogador de ficar clicando aleatoriamente em todos os cantos da tela à procura do que fazer.
Se jogos do gênero tivessem funcionalidade parecida anos atrás,
minha infância teria sido tão mais feliz.

Outra ferramenta à disposição do jogador é um sistema de dicas muito bem construído. Escondido numa das abas do diário de Gabriel, ele é totalmente opcional e não intrusivo. As dicas possuem “níveis”: no primeiro nível é apenas isso, uma dica do que fazer. Somente no terceiro é que instruções explícitas são dadas. É uma ótima forma de ajudar o jogador que precisa apenas um pequeno empurrãozinho para seguir em frente, respeitando sua inteligência.

No diário também é possível ver rascunhos e informações do jogo e seu desenvolvimento. Há modelos dos personagens, comentários da autora e comparações entre os cenários novos e antigos, função que certamente agradará aos fãs de longa data.

Falando em cenários, eles são lindos. Feitos com gráficos pré-renderizados, são extremamente detalhados e um colírio para os olhos. Entretanto, às vezes acabam por entrar em conflito com os modelos dos personagens e outros objetos poligonais. Em vários momentos Gabriel cruza móveis e bancadas como se fosse um fantasma.

Por vezes os personagens também cruzam o infame vale da estranheza. As animações extremamente básicas dos olhos, lábios e expressões faciais ficam bem perceptíveis durante os diálogos, que aproxima o rosto dos interlocutores.
Gabriel, esse cachorro quente gigante está
atravessando seu... Hum.. Deixa pra lá.

Atraído pelo mistério

A demo de Gabriel Knight 20th Anniversary Edition termina no segundo dia de investigação, o suficiente para se perceber que há muito mais por detrás dos crimes e gerar um clima de suspense. Apesar de curta, minha experiência acabou me deixando com várias dúvidas sobre o que irá acontecer e no desejo de ver o desfecho da história — certamente a intenção dos criadores do jogo.
Revisão: Alberto Canen
Capa: Doug Fernandes

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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