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Análise: Maelstrom (PC) inova, mas não surpreende

O jogo da empresa russa, KD-Vision, apresenta gráficos interessantes e inovação na jogabilidade, mas deixa a desejar mesmo assim.

Em 2007, a KD-Vision concluiu o desenvolvimento de um novo game de estratégia em tempo real e a empresa Codemasters ficou responsável pelo seu lançamento. Com tema futurista e bela ambientação para época, Maelstrom: The Battle for Earth Begins traz um planeta Terra pós-apocalíptico onde os territórios são disputados por duas facções humanas e uma raça alienígena. Contudo, mesmo que o jogo tente inovar com uma mecânica criativa de controle dos heróis e do ambiente ao seu redor, apresenta problemas que haviam sido resolvidos há muito tempo por jogos mais antigos do gênero, como Age of Empires e StarCraft.

Apocalipse, guerras e invasões

A história do jogo acompanha a facção Remnants (Remanescentes, em tradução livre) na sua luta por liberdade e sobrevivência enquanto enfrentam a ameaça constante da facção rival, Ascension (Ascenção, em tradução livre). Durante as primeiras horas de Maelstrom, as missões envolvem tanto o aprendizado das mecânicas quanto o foco em disputas de território dessas duas facções. O enredo se torna mais interessante e complexo quando uma raça alienígena ameaçada de extinção, os Hai-Genti, chegam à Terra e pretendem colonizá-la. As facções precisam, então, resolver suas diferenças para conseguir enfrentar a ameaça alienígena.

Um ponto positivo no modo história é o seu tamanho, que ultrapassa de 10 horas de jogatina. O problema é a quantidade de clichês presentes: apocalipse, facções rivais, seres invadindo o planeta, disputa por recursos para sobrevivência. Esses elementos já foram explorados em tantos títulos do gênero que jogadores já familiarizados com o tema podem sentir que esse é “só mais um jogo de guerra”.


Novas mecânicas reformulam estratégias de combate

Um dos pontos mais marcantes do game são suas mecânicas que inovam o gênero. Uma delas é a possibilidade que os jogadores têm de modificar o terreno ao seu redor. Essas mudanças não envolvem apenas levantar construções ou derrubar árvores, mas sim alterar terrenos deixando-os mais planos ou então construir valas que impeçam a passagem de unidades terrestres. Essa capacidade de terraformação tem grande peso nas estratégias de defesa de território e tornam as partidas multiplayer muito mais emocionantes. 

Enquanto a terraformação é exclusiva das facções humanas, a raça alienígena possui a habilidade de utilizar a biomassa, que é um de seus recursos coletados para preencher o solo e tornar a movimentação das infantarias humanas mais difícil. Essas mecânicas funcionam muito bem durante a partida e realmente podem fazer a diferença entre a vitória e a derrota.


Além dessas capacidades raciais, outra inovação que o jogo traz é a possibilidade de controlar seus heróis em terceira pessoa. Tal mecânica permite movimentações mais precisas dos personagens e utilização de habilidades específicas. Esse recurso seria muito interessante e traria ótimas contribuições nas batalhas, se não possuísse tantos problemas.

Dentre eles estão a impossibilidade de andar por determinadas partes do terreno que na câmera original do jogo era viável, o aumento considerável do alcance dos ataques dos heróis, o que torna-os muito mais ameaçadores e desproporcionais em relação às outras unidades e também a lentidão de movimentação e impossibilidade de pular.

Boa ambientação, mas sons não tão bons assim

A ambientação do jogo possui um cuidado a mais que valoriza os seus mapas. Prédios em ruínas, praias e destroços apresentam vários detalhes que, para época (o jogo originalmente é de 2007), são de ótima qualidade. Mesmo com a câmera aproximada por conta do modo de terceira pessoa dos heróis, o visual dos campos não fica prejudicado e os prédios se tornam mais reais ainda. 

A possibilidade de rodar a câmera na direção que quiser (ao contrário da maioria dos games do gênero, que possuem uma câmera estática) torna as estretégias no multiplayer bem interessantes, pois, dependendo do ângulo que o adversário esteja utilizando-a, suas unidades podem ficar escondidas atrás de um prédio, por exemplo. Dessa forma, o grau de atenção ao que ocorre no mapa deve ser um pouco maior do que em outros jogos de estratégia.


Entretanto, tudo que foi feito com aparente cuidado no visual não permaneceu na sonoplastia. Em jogos de guerra (e os de estratégia, principalmente), os efeitos sonoros podem decidir entre o game ser entediante ou cativante. Em jogos de guerra modernos ou futuristas, onde armas de fogo são os principais instrumentos de combate, essa sonorização adequada é fundamental (vide StarCraft 2: Wings of Liberty).

Em Maelstrom, os combates se tornam pouco apreciados, pois os sons não são adequados. O barulho de disparo de tiros, até dos maiores robôs, não possui o impacto necessário para entreter o jogador e, com o tempo, isso acaba minando sua vontade de guerrear. As músicas do game são repetitivas e o som ambiente, como ondas, vento, pássaros e outras coisas, é praticamente inexistente. A única parte da sonorização que pode ser considerada um ponto forte são as dublagens dos personagens, com bastante profundidade e carisma em certos pontos.


Isso me lembra de alguma coisa…

Uma característica marcante no jogo russo é a capacidade de compará-lo com tantos outros jogos de estratégia em tempo real já lançados. Muitas dessas comparações surgem por elementos coincidentemente semelhantes a jogos como StarCraft, Empire Earth, Warhammer 40k e WarCraft III.

Uma dessas comparações pode ser feita através da ambientação e estilo do jogo, que lembra muito os estágios futuristas da trilogia Empire Earth, da Sierra e Stainless Steel. Certas unidades humanas, tanto dos Remnants quanto dos Ascension, lembram um pouco os Marines de Warhammer, enquanto o próprio enredo de duas raças se enfrentando e depois se unindo contra um invasor, lembra o enredo do capítulo Reign of Chaos de WarCraft III.



Quando chega-se ao momento de observar as facções do jogo, o problema persiste. Entre as facções/raças temos três opções de escolha:
  • Remnants: Os humanos “rebeldes” são tudo o que sobrou dos guerreiros que lutam pela liberdade. Suas unidades são específicas para algum tipo de combate e não possuem um desenvolvimento tecnológico tão notável. Seu estilo de estratégia envolve uma variedade alta de unidades, pois cada uma tem foco em um tipo de combate diferente. Possuem a habilidade de terraformação e utilizam como recurso salvage, energia solar e água doce.
  • Ascension: São os principais rivais dos Remnants, caracterizados pelo seu desenvolvimento tecnológico altíssimo e pouca variedade de unidades. Em compensação, suas unidades são muito poderosas e versáteis, com danos baseados em lasers. Seus edifícios não possuem nenhuma mecânica de regeneração, mas são equipados com campos de força recarregáveis. Assim como os rivais, possuem a habilidade de terraformação, mas detêm como recursos o DNA, energia solar e hidrogênio.
  • Hai-Genti: Os invasores da Terra são totalmente baseados em sua própria biologia, sem aparatos mecânicos para auxiliar. Como tal, todas as suas unidades são geradas através de ovos presentes em uma de suas três construções. Essa raça não possui nenhum tipo de escudo, porém podem se regenerar no contato com a água. Não apresentam a habilidade de terraformação e só possuem dois recursos a serem coletados: biomassa e mutagênico.
Lembraram-se de alguma coisa ao verem essa rápida descrição das três “raças” do jogo? Qualquer semelhança com Terrans, Protoss e Zergs, respectivamente, são mera coincidência! Para quem não conhece, essas são as três raças presentes nos jogos da franquia StarCraft da Blizzard Entertainment e sim, as facções de Maelstrom são muito semelhantes a elas, não visualmente, é claro, mas na sua essência.


Afinal, vale ou não a pena?

Maelstrom: The Battle for Earth Begins não é um dos mais incríveis jogos já feitos, mas também não é de todo uma causa perdida. O multiplayer dele é bem interessante mas, para jogar somente o modo campanha, não vale tanto assim. Até o multiplayer fica um pouco apagado se compararmos o preço dele e seus 4 Gb com o preço e o tamanho de outros jogos do mesmo gênero. Entretanto, para os adeptos de jogos futuristas que querem experimentar algo novo mas não tão diferente daquilo que gostam, ele é uma boa pedida. 

O jogo possui um potencial considerável, porém aparentemente foi pouco trabalhado. Talvez se a empresa russa tivesse a possibilidade de lançar uma continuação, teriam a oportunidade de melhorar suas mecânicas inovadoras e dar mais originalidade e personalidade ao jogo, evitando tantas comparações.

Prós

  • Ambientação detalhada e bem feita;
  • Dublagens de boa qualidade;
  • Terraformação influencia bastante estratégias de combate;
  • Câmera giratória pode aumentar a dificuldade do jogo;
  • Inovação no uso de heróis em câmeras diferentes;
  • Campanha de longa duração.


Contras

  • Sons de péssima qualidade e baixo impacto;
  • Elementos muito semelhantes a outros jogos do gênero;
  • Movimentação do herói é pouco versátil e não se justifica;
  • História clichê;
  • Combates de certa forma monótonos;
  • Desequilíbrio entre heróis e unidades comuns;
  • Tamanho do jogo inadequado para a sua qualidade.

Maelstrom: The Battle for Earth Begins - PC- Nota: 5,0

Revisão: Catarine Aurora
Capa: Wellington Aciole


Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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