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Análise: Mahjong Max (PC) faz mudanças pontuais no clássico chinês

Jogo do estúdio brasileiro Icon Games agradará a fãs do clássico chinês.


Você já ouviu o termo design iterativo? É uma prática utilizada principalmente na criação de jogos, que consiste em testar o game (ou qualquer outro produto) inúmeras vezes com várias pessoas, usando a experiência cumulativa dos usuários para fazer ajustes no projeto no decorrer do desenvolvimento. Jogos clássicos como xadrez ou damas são os maiores exemplos deste método. Eles foram moldados por incontáveis iterações, sendo testados por milhões de usuários no decorrer de centenas ou milhares de anos.



Manjong entra neste seleto grupo. Nascido em 500 A.C., ele passou por um longo desenvolvimento até chegar à sua forma atual: um jogo cujo objetivo é eliminar 144 peças dispostas sobre um tabuleiro, encontrando duas iguais e podendo-se manipular somente aquelas que estão no topo ou pontas. Fazer um jogo baseado nele é contar com um game design que foi repetidamente aprimorado no decorrer dos séculos, resistindo à prova do tempo e sendo jogado até hoje. É difícil fazer algo errado com fundações tão sólidas.

É possível, entretanto, não fazer certo o suficiente. Meramente manter esta base milenar sem adicionar algum diferencial é limitar-se à mediocridade — e mahjong, sendo tão antigo, querido e conhecido como é, já conta com diversas versões digitais (muitas delas gratuitas) que emulam o formato clássico sem alterações. Felizmente, Mahjong Max, do estúdio brasileiro Icon Games, faz mudanças pontuais que tornam o game mais interessante sem ameaçar em momento algum seu design clássico.

Aventurando-se pela China

Essas mudanças são apresentadas através do modo Aventura. Ele conta com uma história, mas ela não passa de um mero pano de fundo. Resume-se a ajudar uma mulher chamada Valéria a organizar uma exibição sobre a cultura chinesa, guiando-a através de uma trilha formada por peças de mahjong. Cada quebra-cabeça resolvido revela um novo caminho e, no decorrer dele, relíquias e artefatos que serão usados na exibição.

A trama não passa de uma desculpa para dar progressão à gameplay e introduzir novos elementos aos poucos. A cada dez puzzles resolvidos, uma nova regra ou mecânica é introduzida. As mudanças são simples, mas adicionam nuances e estratégias ao jogo. Além do clássico, o game apresenta os seguintes estilos:
  • Ouro: o objetivo é encontrar duas peças douradas especiais e combiná-las. Uma vez encontradas, todas as outras peças são eliminadas imediatamente e o enigma resolvido;
  • Procura: em vez de combinar peças iguais, o objetivo é encontrar e selecionar as peças marcadas no topo da tela;
  • Adição: as peças tradicionais são substituídas por peças numeradas. O objetivo é selecionar duas peças que somem 10;
  • Paciência: há um espaço no topo da tela em que o jogador pode guardar duas peças, reservando-as para uso posterior.
Os quatro modos de jogo

Apesar de a narrativa cumprir seu papel, apresentando novas mecânicas de forma gradual, ela tem alguns problemas de balanceamento. Há momentos em que a dificuldade oscila subitamente, para cima e para baixo. Alguns desafios chegam a ser estressantes, criando situações sem combinações repetidas vezes e exigindo que o jogador reembaralhe as peças.

Tal problema poderia ser mitigado se o jogo, de alguma forma, ensinasse estratégias para resolução dos problemas no decorrer da aventura. Ao fim dos 50 puzzles, entretanto, não me senti um jogador muito melhor, sem descobrir como evitar ficar sem movimentos ou solucionar os puzzles mais rápido.

Outro pequeno problema é que o ritmo é quebrado em alguns pontos com desafios sem relação alguma com mahjong. Há nada memoráveis minigames obrigatórios de memória com as peças do jogo, além de um último enigma que consiste em alinhar cinco discos perolados. Tais seções poderiam ter sido retiradas sem prejuízo ao produto final.


Além da aventura

O título também conta com um modo arcade, que possui 104 quebra-cabeças de formas variadas: borboletas, corações, peixes… Tem até mesmo um cameo do Pac-Man. Todos eles podem ser resolvidos em qualquer um dos cinco estilos apresentados no modo aventura. Há também um modo Blitz, em que o desafio é resolver quatro puzzles em sequência no tempo determinado. Ele só é liberado após a conclusão do modo Aventura.
Waka-waka!

Completar o modo Aventura também destrava vários estilos para as peças e papéis de parede. Eles são agradáveis e bonitos, com arte bem discernível que ajuda na hora de resolver os problemas e nada distrativos. Nenhuma música nova é liberada, entretanto, o que é uma pena. A trilha é a mesma para todos os enigmas e modos. Apesar de bonita e relaxante, ela logo se torna enjoativa.

Ao fim da caminhada

Mesmo sendo simples, Mahjong Max é divertido e bem feito, e agradará principalmente aos fãs do jogo clássico. Mesmo aqueles que não gostam de ou desconhecem mahjong (será que existe alguém que não conhece?) encontrarão um ótimo passatempo.


Prós

  • Mudanças pontuais e bem feitas no game design clássico e imortal do jogo;
  • Visual agradável;
  • Vários quebra-cabeças e modos de jogo.

Contras

  • História do modo Aventura é fraca e dispensável;
  • Alguns mini-games quebram o ritmo do jogo; 
  • Trilha sonora limitada e repetitiva.
Mahjong — PC — Nota: 6,5

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Stefano Genachi

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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