Street Fighter: Assassin's Fist nasceu como um projeto do Kickstarter, até encontrar um patrocinador privado e a campanha ser cancelada. Do mesmo criador do excelente curta Street Fighter: Legacy, como será que websérie em 12 episódios se saiu na missão adaptar a amada franquia de jogos de luta?
Uma questão de (des)crença
Alguns fãs podem discordar do que eu vou dizer, mas Street Fighter nunca teve uma história espetacular. Uma trama que já chegou a envolver os Iluminati, messias delusionais e tem entre os personagens um cara verde que aprendeu a usar golpes elétricos com poraquês (espécie de peixe-elétrico) da Selva Amazônica não é exatamente das mais brilhantes.Mas isso é fácil de ignorar dentro de um jogo. É a chamada suspensão de descrença: por mais absurdas que sejam as situações apresentadas, dentro daquele contexto é fácil aceitá-las. Por um breve momento, você simplesmente para de se questionar sobre a lógica do que aconteceu e aproveita o show.
Até a fantasia de carnaval do Blanka parece legal dentro do jogo! |
Focus Attack
Para fugir deste perigo, Joey Ansah, diretor do projeto, tomou a sábia decisão de criar algo focado. Ao invés de tentar usar os mais de quarenta lutadores e miríade localidades da série, limita-se ao Japão e concentra-se em poucos personagens. Também foca-se em um trecho da história em que os absurdismos da série não era tão comuns: o início do treinamento de Ryu (Mike Roh) e Ken (Christian Howard) no Ansatsuken pelo mestre Gouken (Akira Koieyama) e o surgimento de Akuma (Joey Ansah).A escolha de personagens também foi extremamente sábia. Ken e Ryu, de longe, são dois dos mais conhecidos e carismáticos da franquia e a relação entre eles é muito bem explorada na série. Os atores, além de fisicamente semelhantes, fazem uma ótima atuação e conseguem passar bem a amizade e rivalidade entre os dois.
Além disso, através de flashbacks é abordada a relação entre o mestre Gouken e seu irmão-rival Gouki (Gaku Space). Há vários paralelos dos dois com os discípulos de Gouken e esta parte da trama é bem detalhada e integrada no cânone da franquia.
Ready? Fight!
Mas onde a série brilha mesmo é nas lutas. Elas são extremamente bem coreografadas e empolgantes, apesar de um tanto curtas. Percebe-se aqui o talento de Ansah não apenas como diretor, mas também como artista marcial — ele sabe lutar Tae Kwon Do, Taijutsu e, vejam só, Capoeira.O uso de golpes especiais durante os confrontos não é tão prevalente, focando-se mais corpo-a-corpo e artes marciais. Não que eles estejam ausentes: movimentos clássicos como Hadouken, Shoryuken e Tatsumaki Senpū Kyaku são reservados para o clímax das batalhas, com grande impacto. Os efeitos especiais usados para representá-los são competentes. Não chega a níveis hollywoodianos, mas souberam usar bem o orçamento, criando algo aceitável e que não parece ridículo.
Esperando pela versão Ultra HD Remix
Assassin's Fist é, facilmente, uma das melhores adaptações baseadas em videogames que já foram feitas, capaz de entreter tanto fãs quanto leigos e fazendo algo muito melhor que várias produções com orçamento maior. E o melhor de tudo: é de graça, disponível no Machinima. Fico no aguardo de uma segunda temporada, com verba mais elástica, que permita os produtores a se arriscarem mais e fazer algo maior e melhor.
Revisão: Alberto Canen
Capa: Stefano Genachi