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Ib (PC) mostra que a arte também tem um lado macabro

Game independente de terror desenvolvido por Kouri não chega a assustar, mas conta com bons personagens e enredo.


Quais os melhores locais para ambientar um jogo de terror? Já tivemos hospitais, mansões, castelos abandonados, cidades fantasma… mas, e quanto a uma galeria de arte? Muitos pensam que pinturas e esculturas são feitas para serem bonitas, mas elas podem ser sombrias e/ou melancólicas também.


É com essa premissa que o jogo Ib, um freeware desenvolvido no RPG Maker e publicado em 2012, por Kouri, começa. É bom não se deixar enganar por sua aparente simplicidade: Ib conta com uma proposta original e se sai muito bem dentro do que é possível.

Três rosas, três vidas

O game conta a história de uma garotinha de 9 anos chamada Ib, que um belo dia resolve visitar a galeria do falecido artista Guertena junto com seus pais. Ib fica encantada ao entrar no museu e se afasta de seus pais enquanto observa as pinturas e esculturas do local. De repente, ela se dá conta de que está sozinha no museu. E como se isso já não bastasse, as pinturas começam a ganhar vida e se revelam como verdadeiros monstros. 

No meio dessa loucura, Ib encontra um jovem rapaz chamado Garry e uma garota de sua idade chamada Mary, ambos também pegos de surpresa pela súbita mudança no museu de Guertena. Os três então juntam forças para tentar arranjar um jeito de sair da galeria e voltar ao mundo normal.


O enredo começa de maneira bem simples, mas é incrível como ele encaminha-se para finais surpreendentes. "Finais", pois o jogo conta com 7 desfechos possíveis, que vão muito além do do clássico "quem se salva" e "quem morre". Existem uma série de fatores que determinam o final adquirido, o principal deles estando no desenvolvimento da relação entre os três personagens. Ib é uma protagonista silenciosa – o pouco que ela fala normalmente é o jogador que escolhe. Garry e Mary, por outro lado, são personagens cheios de vida. É difícil não simpatizar com eles ou não notar suas personalidades algumas vezes conflitantes. 

A jogabilidade é simples. Basicamente controlamos a personagem pelos cenários e interagimos com objetos ao redor, resolvendo quebra-cabeças e fugindo de monstros. Não é possível lutar: ao ser atacada, o máximo que Ib pode fazer é tentar correr e desviar-se do perigo. A maneira como a vida é medida é interessante: por meio das pétalas de uma rosa que cada personagem segura. Além disso, as rosas também desempenham um papel importante no desenvolvimento da história do game.

Infelizmente, o terror do jogo não é muito forte. Quem não está acostumado com o gênero certamente levará alguns sustos ocasionais, mas quem já joga há tempos não se verá surpreendido. A trilha sonora ajuda a criar um clima de tensão em alguns momentos, mas não é nada que fará a pessoa ter pesadelos à noite.

Apesar de alguns momentos tensos, o terror do jogo é fraco.
Os gráficos são pixelizados, no melhor estilo RPG Maker 2000. Isso não impediu Kouri de dar uma atenção especial aos detalhes dos cenários: mudanças sutis nas pinturas de Guertena cada vez que entramos em uma sala ou uma boneca que se parece terrivelmente com Ib pendurada pelo pescoço ajudam a criar o ar macabro que permeia todo o game. 

A trilha sonora é um dos pontos mais fortes do título. Entre composições tenebrosas e violões melancólicos, cada faixa parece se adequar perfeitamente aos momentos e personagens apresentados. Kouri ainda usa releituras de composições clássicas de Corelli e Chopin, e o resultado não poderia ter ficado melhor. 

Museus? Não, obrigado!

Como jogo de terror, Ib pode não ser lá muito assustador. Mas é inegável que um clima perturbador permeia toda a aventura. O enredo simples, mas muito bem contado e consistente, certamente consegue manter os jogadores até seu final. Na verdade, mesmo sendo um freeware, Ib se sai melhor nesse quesito do que muitos jogos pagos. 

No fim, todos os fãs de horror deviam dar uma chance a Ib. Claro que ele não chega a reinventar a roda, mas ainda assim apresenta alguns conceitos legais que poderiam servir de influência para outros games. Ib não é muito longo, mas surpreende em muitos momentos. Uma rara pérola entre as infinitas cópias de Slender esses dias.

Prós:

– Enredo simples, mas cativante;
– Personagens carismáticos;
– Gameplay acessível;
– Bela trilha sonora.

Contras:

– Não é muito assustador para um jogo de terror.


Ib – PC – Nota: 8,5

Revisão: Samuel Coelho
Capa: Leonardo Correia 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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