O caminho inverso, o de transportar os dados digitais para o mundo real, contudo, ainda não foi tão explorado. Tivemos vários avanços na tecnologia háptica, a que cria respostas sensoriais ao tato, mas na prática continuamos com as mesmas interações que tínhamos com o Rumble Pak do Nintendo 64. Tivemos tentativas de popularizar o 3D, o surgimento do som tridimensional e algumas propostas de controles peculiares, mas em geral a forma como vemos, ouvimos e sentimos o virtual continua a mesma.
É natural que as telas sejam as nossas janelas para o mundo digital: podem tomar diferentes tamanhos, são facilmente reconhecíveis e estão em tudo o que é lugar. Mas não há porque elas serem o único meio de visualização. Como foi mencionado antes, controles com resposta háptica também são uma alternativa usada. Existem várias ideias por aí, entre elas o projeto inFORM, desenvolvido no Tangible Media Group do MIT Media Lab, parte do departamento de pesquisa da escola de arquitetura e Urbanismo do Massachusetts Institute of Technology, por Daniel Leithinger, Sean Follmer e Hiroshi Ishii.
O inFORM é um display de formato variável, ou seja, sua forma pode ser alterada para exibir os padrões desejados. O interessante é a maneira, até certo ponto simples, mas muito inteligente, com que foi construído. Apenas uma mesa, com uma matriz de 30x30 pinos plásticos motorizados que podem subir e descer. E isso, com apoio opcional de um projetor, é o suficiente para reproduzir diversos tipos de comandos e animações.
O mais simples deles é o botão: quatro pinos ficam elevados em relação ao resto da superfície, permitindo que o usuário o pressione. Mas é possível fazer mais, muito mais. Duas fileiras de pinos levantados formam uma trilha de toque, como uma barra de rolagem, bastando deslizar o dedo por cima para reconhecer o movimento. O mesmo pode ser feito com áreas maiores, criando uma espécie de touchpad, como os de notebooks. Mantendo todos os pinos abaixados, com exceção de um, é criado um puxador. Esse pino solitário pode ser puxado ou empurrado, permitindo manipulações na terceira dimensão, como se afastássemos ou aproximássemos um objeto.
Além de criar canais de interação, a superfície do inFORM também serve para a manipulação de objetos reais e criação de deformações. É simples criar rampas, buracos, slots, montes, escadas e outras formas simples, que podem mover uma bola, por exemplo. Alguém da área de visualização poderá perceber as vantagens que esse tipo de tecnologia oferece para a exibição de dados, como gráficos. Outro exemplo de aplicação mostra um celular largado no centro da matriz. Quando ele recebe uma ligação, ondulações se formam a partir dele, indicando sua vibração. Uma demonstração ainda mais interessante faz surgirem “mãos” formadas pelos pinos, controladas por uma pessoa a distância.
Com as propostas apresentadas acima, não é difícil ver que algo similar ao inFORM poderia ser utilizado para criar novas formas de interações com jogos. Os autores do projeto não citam a aplicação em games em nenhum momento, mas podemos nós mesmos imaginar o potencial. Começando com algo simples, a possibilidade de simular botões e telas de toque já oferece uma interface de controles mais ou menos tradicional na própria matriz, sem a obrigatoriedade de ligá-la a joysticks externos. Jogos mais simples, baseados em formas geométricas, não devem apresentar grandes desafios para sua implementação. Tetris ou Snake poderiam ser visualizados através de combinações de pinos subindo e descendo em sincronia, com as cores obtidas graças ao projetor.
Jogos como Skylanders, Pokémon Rumble U e Disney Infinity poderiam se aproveitar de uma interface desse tipo para que o jogador não use os bonecos apenas no mundo virtual, mas no real também, com o cenário em torno das figuras sendo alterado a medida que a história avança. Essa mesma ideia poderia ser usada para levar os jogos de mesa e de tabuleiro a outros níveis. Já imaginou um Banco Imobiliário em que pudéssemos ver uma simples miniatura de prédios surgindo diante dos nossos olhos?
Os bonecos de Skylanders poderiam ganhar novas funções graças a um aparelho como o inFORM. |
O inFORM é um projeto modesto. Necessita de uma mesa de tamanho bastante considerável, com 900 pequenos atuadores mecânicos que consomem cerca de 700W funcionando conjuntamente, além de alguns coolers para manter a temperatura do sistema adequada, um projetor e um Kinect para a captura de movimentos. A matriz de 30x30 pinos é um pouco pequena, mas razoável. Não é o tipo de coisa que se espera vender massivamente como um acessório, muito menos embutido em um console.
Mas esse não é o primeiro nem o último produto do tipo, e ainda há muito o que explorar e evoluir. Não é impossível que um dia estejamos jogando com um aparelho que faça algo semelhante ao que o inFORM faz hoje, mas de forma mais compacta e precisa.
Revisão: Rafael Neves
Capa: Doug Fernandes