Um assassino sádico ou um homem incompreendido? Conheça Walter Sullivan, o serial killer de Silent Hill 4 (Multi)

em 14/09/2013

Os antagonistas da série Silent Hill não são lá muito normais. Dahlia Gillespie e Claudia Wolf, as cultistas malucas do primeiro e ... (por Gabriel Gonçalves em 14/09/2013, via GameBlast)


Os antagonistas da série Silent Hill não são lá muito normais. Dahlia Gillespie e Claudia Wolf, as cultistas malucas do primeiro e do terceiro jogo que o digam. O que dizer então de Walter Sullivan, o serial killer que causa todos os problemas envolvendo o infame “Quarto 302”, em Silent Hill 4?


Nesse aspecto, não há discussão: Walter é tão esquisito e sádico quanto Dahlia e Claudia, talvez até um pouco mais. Durante sua vida (e parte de sua “morte” também, como veremos), ele se empenha em realizar os “21 Sacrifícios” para completar um macabro ritual. Mas, afinal, quem é Walter Sullivan? O que o motivou a fazer o que fez? É isso o que tentaremos desvendar. 

Assassino a sangue frio 

Um fato curioso é que Walter é mencionado pela primeira vez em um memo em Silent Hill 2. O artigo diz que o serial killer finalmente havia sido pego após matar dois bebês gêmeos. Sullivan então se matou na prisão. Na passagem de James Suderland pela cidade, esse fato não parece ter muita relevância, mas em Silent Hill 4, Walter desempenha um papel muito mais importante como antagonista, e é o momento em que o conhecemos melhor.  


Walter Sullivan como vemos no quarto game da série é psicopata, sádico e completamente louco, pouco mais do que uma máquina feita para matar. Astuto, ele não desiste até completar seu objetivo de realizar o ritual dos “21 Sacrifícios”, que nem mesmo a morte pode impedí-lo. Aliás, após morrer, Sullivan se torna um fantasma, e muito mais poderoso, como constatamos enquanto passamos pela história de The Room.

O que nem todos percebem é que talvez Walter ficou nesse estado por causa de uma sucessão de azares e erros, que confundiram sua mente e o encheram de ódio contra o resto do mundo. E isso retoma aquela velha questão filosófica: somos quem somos por nascimento, ou nossas experiências de vida podem nos tornar indivíduos completamente diferentes?
Atenção: O texto a seguir contém revelações sobre o enredo (spoilers) de Silent Hill 4: The Room. Leia por sua conta e risco!

Um grande mal-entendido 

A história de Walter é trágica desde o seu início. Nascido no apartamento 302 do edifício South Ashfield Heights, em Ashfield, foi abandonado logo após o nascimento, pois seus pais não o queriam. Ele acabou sendo encontrado por Frank Suderland, o zelador do prédio, que imediatamente o levou a um hospital. De lá, ele foi acolhido pela Wish House, um orfanato da pacata Silent Hill.

A princípio, poderia parecer que a vida de Sullivan fosse ficar melhor, mas é justamente no orfanato que ele começa a se tornar o psicopata que conhecemos mais tarde. A Wish House era dirigida por uma entidade chamada de “A Ordem”, um culto que buscava a ressurreição do deus/demônio Samael, acreditando que este “purificaria a humanidade”.

Pois então, A Ordem tinha muitas intenções ao dirigir um orfanato, e nenhuma delas era para ajudar crianças. O que a entidade tentava fazer, na verdade, era ensinar seus ideais e cultos para crianças pequenas, em uma espécie de lavagem cerebral. Walter, por sua vez, cresceu sendo influenciado profundamente por seus ensinamentos. Um ensinamento em especial o marcou bastante: “A Descida da Mãe Sagrada”, que dizia que a tal “Mãe Sagrada” desceria à Terra e purificaria a humanidade. Mas para isso, seriam necessários 21 Sacrifícios de pessoas pecadoras.

A "simpática" Wish House
Algum tempo depois, um membro da Ordem o levou para Ashfield e mostrou o apartamento 302 de South Ashfield Heights, o lugar onde ele havia nascido. No entanto, houve um grande mal-entendido: Walter passou a achar que o próprio apartamento era sua mãe, o que o levou a voltar ao lugar diversas vezes para “visitá-la”. Na época, ninguém vivia no local, sendo impossível abrir a porta. Sullivan achava que a porta não abria pois sua "mãe estaria dormindo”. Eventualmente, começaram a haver reclamações dos condôminos sobre o garoto, e ele acabou sendo proibido de visitar o prédio, o que o deixou bastante chateado. 

Durante parte de sua adolescência, Walter fugiu do orfanato e passou a viver nas ruas perto do edifício de South Ashfield Heights, mesmo que não pudesse entrar lá. Sendo maltratado por muitas pessoas que ali passavam, incluindo condôminos do tal prédio, algo começou a crescer dentro dele. Uma espécie de ódio, um rancor contra a humanidade em geral. Por que ninguém conseguia compreendê-lo? Por que não queriam que ele visitasse sua "mãe"? 

Walter nas ruas de Ashfield
E então, ele lembrou-se da "Descida da Mãe Sagrada" e dos "21 Sacrifícios". A mente imatura de Sullivan relacionou a "Mãe Sagrada" à sua própria "mãe" (o quarto 302). Dessa maneira, talvez, se ele realizasse o ritual, sua mãe finalmente apareceria para ele. O que, é claro, não era verdade, mas era nisso que ele acreditava. E assim pensou por muito tempo. Após isso, ele volta à Wish House com o objetivo de aprender mais sobre a macabra cerimônia.

O estranho caso de "Walter Sullivan"

Com 18 anos, o jovem definitivamente deixa o orfanato e passa a estudar em uma universidade de Pleasant River, uma cidade próxima a Silent Hill.  Por um bom tempo, ele viveu a vida de um universitário comum, mas seu ódio contra o resto do mundo e a fascinação pelos "21 Sacrifícios" não diminuíram nem um pouco. Seis anos depois, com 24 anos, Walter começa sua série de assassinatos com o objetivo de completar o ritual da "Descida da Mãe Sagrada".

Ele mata 10 pessoas, incluindo os gêmeos mencionados anteriormente. Todos os corpos, quando encontrados, têm as mesmas características: vários cortes, um grande buraco no lugar do coração e uma série de números indicando a "cronologia" dos assassinatos. Nessa lógica, a vítima 01121 (na realidade, 01/21) era a primeira, 02121 era a segunda, 03121 era a terceira e assim em diante. Na época, a polícia não percebeu que o "1" entre os números na verdade era uma barra (/). Enfim, Sullivan ganhou destaque na mídia internacional até finalmente ser preso. Não muito tempo depois, ele se suicida na prisão. Porém, o caso estava longe de acabar.


Três anos depois, mais uma pessoa é morta, com as mesmas características das vítimas de Walter Sullivan, exceto que dessa vez o coração da pessoa não havia sido retirado. Não há marcas, não há evidências. Poucas semanas depois, acontecem mais dois assassinatos. Isso chama a atenção de Joseph Schreiber, um jornalista que então morava no apartamento 302 de South Ashfield Heights. Ele começa a investigar o caso, e suas descobertas são registradas nos Red Diaries encontrados durante a trama de Silent Hill 4. Após algum tempo, ele descobre que o autor dos novos assassinatos era ninguém mais, ninguém menos que… o próprio Walter Sullivan. Ou melhor, o fantasma dele. Ao que parece, completar metade do ritual antes de ser morto o concedeu alguns poderes. No entanto, Shreiber desaparece misteriosamente logo após. 

E é aí que Henry Townshend, o azarado protagonista do game, passa a ser o novo morador do infame apartamento. Tudo parece normal, até que um belo dia ele acorda para ver que estava trancado dentro de sua própria casa. E então, a jornada para escapar do lugar começa.

Mal por natureza? 

O destino final de Walter Sullivan depende do final que o jogador consegue. Em três deles, o espírito maligno de Walter é derrotado antes dele conseguir completar os "21 Sacrifícios". Em outro desfecho, no entanto, Walter consegue atingir seu objetivo. Esse final é considerado o mais triste, mas também o mais interessante pela crítica. 

Após finalizar o game, é impossível não se sentir um pouco desconfortável com a história do antagonista. Ele poderia ter sido uma boa pessoa, mas o jeito como foi criado, com A Ordem o manipulando, contribuiu para que ele se tornasse um verdadeiro monstro. É possível que, quando a jornada de Henry começa, Walter nem sabia mais qual era o seu propósito em completar o ritual, mas já estava em um estado psicológico tão destruído que isso pouco importava: matar era a razão de ele ainda estar vagando por aí. 

Durante os eventos de The Room, uma manifestação mais jovem de Walter aparece várias vezes. Os fãs concordam que ela é uma extensão da alma do psicopata, mas seu papel na trama ainda é discutida. A teoria com mais adeptos diz que ela representa a parte ainda inocente e pura de Walter, sua parte "boa", por assim dizer. Apesar do vilão mostrar sua crueldade e loucura, é particularmente interessante pensar que ainda havia alguma humanidade nele, mesmo que pouca.

O assustador é pensar no possível simbolismo do vilão; na concepção de que as pessoas podem se tornar más não por uma predisposição genética, mas pelas influências que recebem durante a vida. De certa forma, isso é bem mais próximo da nossa realidade do que um apocalipse zumbi. Walter Sullivan, pelo menos, concorda.

Revisão: Catarine Aurora
Capa: Stefano Genachi
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