Especial: Censura de Games no Brasil

Por apresentar conteúdo inapropriado e ofensivo aos interesses da população brasileira, este texto está fora do ar e assim estará em brev... (por Unknown em 24/02/2013, via GameBlast)


Por apresentar conteúdo inapropriado e ofensivo aos interesses da população brasileira, este texto está fora do ar e assim estará em breve todo o conteúdo dos sites da marca Blast. Calma, é só uma brincadeira, mas é desta maneira que todo tipo de conteúdo censurado é tratado. Se não é privado de entrar em circulação, é retalhado de forma a deturpar a ideia original. Cuidado, você pode ser preso somente por querer ler esse texto. Isto é, se ele não tiver saído de circulação primeiro.


O assunto não é novidade do século atual. Por ser uma forma de entretenimento extremamente recente, popularizada cerca de 20 anos atrás, os videogames receberam atenção há pouco tempo. Para entendermos as recentes polêmicas envolvendo a censura, principalmente de games, atuais, é proveitoso voltarmos um pouco no tempo. Mais ou menos 500 anos.

Enquanto isso, no Brasil colonial

Historicamente, a produção cultural no Brasil sempre foi muito reprimida. O primeiro grande movimento de censura ocorreu ainda enquanto o Brasil era colônia de Portugal, pois era proibido qualquer tipo de manifestação cultural ou artística, por ordem do governo português. Isso era reflexo da agitação no continente europeu naquele instante, com os ideais libertários do iluminismo se expandindo pelo mundo e com o acontecimento da Revolução Francesa.

De Napoleão para D. João VI: "Mas que legal esse país chamado Portugal. Seria uma pena se eu invadisse ele, não acha?"

Este cenário perdurou até a vinda da família real portuguesa até o Brasil, em 1808. Com a chegada da elite de Portugal, era natural que o cenário mudasse. Depois de estabelecida a nova ordem de governo na ainda colônia, a produção cultural aconteceu como nunca antes: peças de teatro, esculturas, pinturas e até a imprensa (vigiada de perto pelo governo) começaram a aparecer de forma tímida em terras tupiniquins.
O segundo grande movimento de censura no país, e de longe o mais forte deles, ocorreu com o golpe militar de 1964, no período conhecido como Ditadura Militar. Nunca a bandeira brasileira representava tão bem o momento histórico no qual encontrava-se o país: Ordem e Progresso.

Ninguém mandou sair do Fliperama sem pagar a ficha...

Hoje questiona-se o “progresso” trazido pelos militares, mas, sem dúvida, a “ordem” era algo presente na sociedade brasileira. A moral e os bons costumes eram protegidos à ferro, fogo, bala e passaportes. Diversos artistas, músicos, escritores e compositores foram deportadas acusadas de “promover a subversão da sociedade brasileira”. Para escapar dos censores, os compositores tinham que fazer verdadeiros malabarismos para conseguir promover suas músicas.
Capitaneado por jornalistas que influenciaram toda a geração seguinte, O Pasquim foi um símbolo da resistência cultural na época. O jornalista Paulo Francis, um de seus fundadores, foi inúmeras vezes censurado, até ser deportado para Nova York.



Dando uma volta por aí

Em 1997 foi censurado o primeiro jogo no Brasil. Carmageddon, para PC e MAC, era baseado no filme “Death Race 2000”. Nele você apostava corridas e ganhava pontos por executar manobras arriscadas ou atropelar pedestres. Sob a pena de multa, a distribuidora nacional, BraSoft, entrou em acordo com o governo brasileiro e retirou o game de circulação das lojas.

Não é difícil perceber por que o jogo causou tanta polêmica.

Pouco tempo mais tarde, o polêmico jogo Duke Nuken 3D foi proibido de ser vendido no Brasil. Apesar de o jogo ter sido lançado em 1996, a medida foi tomada somente em 2000. O motivo foi o “atirador do shopping”, como ficou conhecido na mídia Mateus da Costa Pereira. Na época com 29 anos, o estudante de Medicina matou três pessoas e feriu outras quatro, durante uma sessão do filme “Clube da Luta”. Durante o inquérito, em um dos depoimentos de Mateus, é citado o jogo, que apresenta um cinema como cenário na primeira fase. Um episódio lastimável que sem dúvida trouxe problemas para os gamers. Ou não, já que a censura veio tão depois do lançamento.
A última vez que o assunto entrou em pauta na comunidade gamer foi no ano passado. Em 2006, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) havia proposto um projeto que “(...) caracterizaria como crime o ato de fabricar, importar, distribuir, manter em depósito ou comercializar jogos de videogames ofensivos aos costumes, às tradições dos povos, aos seus cultos, credos, religiões e símbolos (...)”

Senador Valdir Raupp discursando no plenário

Não haveria uma maneira mais ambígua de descrever um jogo que seria embargado pela censura ou não. Depois de receber a notícia com surpresa, houve uma mobilidade de diversos sites e fóruns de games no Brasil, no sentido de modificar o projeto. Cerca de uma semana após apresentar o texto, o senador retirou a proposta, pois “(...) o alcance pretendido no projeto acabou sendo dissociado de sua finalidade (...)”.

Impondo limites

Da maneira como este texto foi articulado até agora, o leitor pode ter a impressão de que a censura é algo completamente negativo. O objetivo aqui não é persuadi-lo a aceitar uma posição, mas promover uma briga sobre o tema. Pare para pensar pelo outro lado agora. Todos os argumentos utilizados pela censura apoiam-se no fato de que determinado produto agride algum grupo de pessoas, ou é plágio de alguma obra, ou promove alguma ação desse tipo. A grande questão é que esse produto faz mal à sociedade, pelo menos aos olhos do Estado,  e cabe ao governo proteger os cidadãos disso. Até que ponto o Estado tem o direito de nos privar certos direitos? Até que ponto você acha justo esse tipo de intervenção na sua vida?

Estas pessoas não têm consciência do dano que o crack causa nelas mesmas.  Como podemos saber se os games não estão estão fazendo o mesmo com a nossa mente?

Essa questão pode se abordada de uma maneira muito mais drástica. Há cerca de um ano, acontecia a “desocupação” de uma região do centro de São Paulo conhecida como Cracolândia. A região concentra um número enorme de moradores de rua viciados em crack. Com o aval do Tribunal de Justiça de São Paulo, esses moradores eram enviados para clínicas de recuperação.
Lembro que enquanto conversava sobre isso com um grupo de amigos, alguém levantou a seguinte questão: Até que ponto o direito de ir e vir do cidadão é mais importante do que o próprio direito à vida? É óbvio que nesse caso a pergunta é elevada a uma questão de vida ou morte, mas e quando paramos para pensar como isso se encaixa nos videogames?
Você gostaria que seus filhos tivessem livre contato com um jogo que simula estupro, aborto e pedofilia?

Como funciona a classificação por faixa etária no Brasil

Desde 2012 o Ministério da Justiça reconhece a classificação por faixa etária feita pelos ESRB (EUA) e PEGI (Europa). Antes o trabalho era feito por um departamento desse ministério. À primeira vista, a classificação etária pode não significar muita coisa, mas um game com classificação +18 [Mature] pode sofrer alguns prejuízos com isso, pois isso acaba restringindo muito o público alvo do título. Até pouco tempo atrás, a Nintendo não permitia que jogos com essa classificação fossem desenvolvidos para seus consoles. A história mudou recentemente com o lançamento de Ninja Gaiden 3, pra Wii U.

"Mãe, eu quero jogar  GTA. Eu quero, eu quero, eu quero".
Essa classificação funciona muito bem, na teoria. Apesar da importância, não há dúvidas que os brasileiros praticamente desconsideram a indicação de faixa etária na hora de comprar um game. É muito comum ver pais comprando jogos +17 para filhos de 13 ou 14 anos.

Aonde vamos parar

Até agora eu tive de me conter para escrever de uma maneira imparcial, mas agora vou iniciar a discussão colocando o meu ponto de vista. Sendo bem sincero, eu não concordo com a censura em quase nenhuma ocasião. Se o objetivo do jogo é atropelar velhinhas, fazer sexo com desconhecidas ou roubar o doce de uma criança, não importa. Ele não deveria ser censurado. Quem deve decidir se quer jogar ou não o título é o jogador. Mas para afirmar isso eu estou partindo do princípio que você é uma pessoa bem equilibrada mentalmente e consciente o suficiente para decidir o que é melhor para você mesmo. Quando falamos de crianças, menores de 10 anos, a história já muda. Mesmo nesses casos eu não apoio a censura pelo governo, mas sim pelos responsáveis pela criança.
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Revisão: Vitor Tibério

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Matheus, você faz um panorama com algumas situações de censura, mas não desenvolve a raiz do seu texto (Censura x Games).
    Quando pensamos em censura não consigo pensar em nada "legal" ou que possa ser validado enquanto instrumento de manutenção da ordem social.
    Essa discussão não precisaria existir se nosso povo fosse melhor educado e tivesse plena consciência de seu papel na sociedade e nas discussões relacionadas a política.
    A questão da censura é bem mais complicada do que parece e está, desde o seu início, relacionada intimamente com as relações de poder e dominação por parte do governo.
    Não gostei da analogia que você fez associando a internação compulsória aos processos de censura. Foi um argumento manipulador. Vou

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    1. Para finalizar...Vamos propor uma discussão sobre a educação dos gamers? Acho que assim chegaremos a um ponto satisfatório de partida.

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  2. Eu vejo a censura de games como uma forma de preconceito contra consumidores desse mercado relativamente novo. Muitos games são censurados aqui no Brasil devido com conteúdo violento, sob a alegação de que estes poderiam instigar a violência em quem os joga. Entretanto, se alguém pode ser influenciado de tal maneira por uma forma de mídia, então o que a impede de ser influenicada por outras mídias também, como filmes, novelas, livros, etc? É claro, crianças são extremamente influenciáveis por qualquer coisa que possam ver, ouvir ou aprender, e isso inclui a violância expressa em jogos (como qualquer outra forma de mídia). Mas existe a classificação indicativa, que diz qual a idade apropriada para o gamer, ou seja, permite aos pais e responsáveis pela criança controlar o que ela pode ou não jogar sem que isso afete negativamente seu desenvolvimento.

    Eu concordo com o que o João disse acima. A questão da censura está relacionada ao abuso de poder dos governantes e, ao meu ver, é uma forma de utilizar a Política do Pão e Circo, uma forma arbritária para mostrar serviço ao invés de resolver os verdadeiros problemas da população. Entretanto, eu acredito que não seja necessário a educação somente dos gamers, mas sim da população de maneira geral. Não adianta nada nós sabermos que crianças não deveriam jogar CoD e GTA se os pais deixam passar a oportunidade de educar os filhos com negligência em relação a video games. Já vi muitos pais reclamando da violência nos jogos que os filhos adoram, mas não fazem nada para controlar o que eles jogam ou assistem na TV. E ainda existe a ignorância da população em relação a violência real e jogos, que dá força à censura e prejudica o mercado e indústria de games no Brasil, que acaba se refletindo também negativamente no mercado exterior.

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