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Análise: GoNNER (PC) é um roguelike de perder a cabeça

Esse indie se destaca pelo visual inusitado, mecânicas sólidas e dificuldade intensa.


As características do gênero roguelike têm sido bem exploradas no mundo dos títulos independentes com ótimos exemplos, como as cavernas procedurais de Downwell (Multi) ou o Balabirinto de Enter the Gungeon (PC/PS4). GoNNER é mais um representante desse estilo e tenta se diferenciar com o visual inusitado e mecânicas sólidas. O título para PC é uma aventura intrigante e bem difícil.

Tentando não se desmontar

A essência de GoNNER é simples. O jogador controla Ikk, um ser indistinto que explora regiões esquisitas em busca de um presente para sua amiga Sally (uma baleia encalhada na terra). Para isso, nosso amigo estranho encara estágios de plataforma 2D e conta com armas de fogo para destruir os monstros que aparecem pelo caminho. Olhando assim, parece um jogo de plataforma qualquer, mas o título conta com várias mecânicas únicas. As principais delas são as características emprestadas do gênero roguelike: morte permanente, desenho de estágios gerado proceduralmente e dificuldade acentuada.


Para deixar as coisas ainda mais variadas, Ikk pode equipar uma cabeça, uma arma e um acessório, cada qual com características e sinergias únicas. O bizarro é que o personagem não parece ser muito consistente: ao ser atingido por um inimigo, ele “desmonta” e suas partes voam pelo cenário. Sendo assim, é preciso recuperar a cabeça e os outros membros para não morrer de vez. Novas partes são desbloqueadas conforme se avança na aventura e é a única característica de progressão no jogo. Há algo que me incomodou: praticamente não há momento de invencibilidade ao levar dano, sendo assim é possível ser atingido continuamente em um curto intervalo de tempo, resultando em morte praticamente instantânea. Essa situação acontece raramente. Contudo, é irritante por não te dar espaço para reagir.

Minha combinação preferida é composta de uma cabeça que evita que Ikk se desmonte (apesar dele ficar com somente três corações ao invés dos cinco usuais), uma escopeta (munida de tiros com bom alcance, mas pouca munição e grande recuo) e uma barbatana de tubarão (permite atirar continuamente por um curto intervalo de tempo). Também testei outras composições, como arma de raio combinada com uma mochila explosiva, ou uma cabeça que permite dar saltos mortais e uma pistola simples. Há uma boa quantidade de opções na hora de montar o personagem e cada partida se torna única de acordo com a seleção de partes.

Uma jornada difícil

Perder a cabeça, nos dois sentidos, é algo frequente em GoNNER. A quantidade de inimigos, aliada à mecânica de se desmontar ao ser atingido, deixa tudo bem difícil. Os monstros são agressivos e atacam com padrões nada usuais, e há armadilhas em todo canto. Por conta disso, precisei avançar com cuidado para sobreviver. Algumas combinações de itens funcionam melhor em certas situações, mas o que conta mesmo é a experiência e a técnica. Quando comecei a jogar, morria muito fácil, mas aos poucos fui entendendo o jogo — fui decorando padrões, dominando as armas e equipamentos e precavendo os perigos dos cenários. Foi principalmente a destreza que me fez chegar cada vez mais longe.

O título também dá espaço para dois estilos de jogo. Aqueles mais cuidadosos podem simplesmente evitar o conflito ao máximo e correr para a saída. É um modo seguro, porém exige atenção redobrada. Já a outra maneira é derrotar o máximo de inimigos possível enquanto avança, com o perigo constante de morrer facilmente. O legal é que GoNNER conta com um sistema de combo: derrote vários monstros em sequência para aumentar a quantidade de munição e runas dadas como recompensa. E você vai querer muitas runas, pois elas permitem que você reviva ao morrer, além de também serem utilizadas para comprar itens durante a aventura.


A dificuldade é intensa e demanda muita atenção, mas em nenhum momento o jogo é injusto. Foram vários os momentos em que senti grande tensão ao passar por estágios repletos de inimigos, a um ponto de morrer, mas mesmo assim consegui avançar, aliviado. É justamente essa sensação que faz GoNNER ser uma ótima experiência. Particularmente, prefiro ser agressivo nas minhas partidas — é muito recompensador fazer grandes combos e sempre ter muita munição e runas. O jogo conta também com leaderboards, perfeito para exibir os recordes das suas melhores partidas.

Mundo belo e problemático

O mundo de GoNNER é exótico e ótimo de se explorar. É tudo bem escuro (afinal Ikk está explorando cavernas), no entanto, os elementos usam um visual colorido e berrante, criando um ótimo contraste. O curioso é que o cenário só se revela em volta do protagonista e dos inimigos, como se eles estivessem usando uma espécie de lampião para iluminar o caminho. Além de ser visualmente interessante (o cenário “se monta” conforme se avança), é também uma mecânica de jogo, pois faz com que você tome cuidado ao seguir, afinal você não sabe se tem uma parede ou buraco logo a frente. Esse recurso de design cria situações interessantes e um exemplo é o segundo mundo: uma área com vários buracos, mas que só é possível saber o que é seguro ou não observando os inimigos ou avançando com cuidado.

Há, também, variedade no desenho dos níveis. A aventura começa bem tradicional e não tem muitos obstáculos. Porém, os mundos seguintes apresentam visuais e mecânicas únicas. O segundo, por exemplo, tem buracos e sessões de plataforma um pouco mais elaborados. Já a terceira área apresenta estágios bem verticais e até mesmo um visual mais distinto de fundo branco, que remete à nuvens. Sempre fiquei me perguntando como seria a próxima região e é uma pena que há poucos locais a serem explorados.


Mesmo sendo gerados proceduralmente, os estágios apresentam trechos interessantes e únicos. A ressalva fica por conta de algumas fases que têm pequenos problemas, como corredores verticais nos quais você precisa escalar e estão repletos de inimigos. Como a maioria das armas só atira para frente, é praticamente impossível não levar dano nesses locais. Há, além disso, algumas situações em que os inimigos se concentram em um único ponto de difícil acesso, o que complica avançar sem morrer. Por sorte, isso acontece raramente e pouco atrapalha a experiência.

Breve e intenso

GoNNER é mais uma daquelas experiências rápidas, mas muito divertidas. As partidas são curtas e sempre pensei “só mais uma vez”, até perceber que já tinha passado muito tempo jogando. Gostei especialmente do visual único e da dificuldade acentuada, que me fez tentar melhorar cada vez mais. Além disso, os elementos procedurais e as várias opções na hora de montar o personagem trazem bastante variedade à jogatina. GoNNER é para fãs de roguelikes e para aqueles que apreciam um bom desafio.

Prós

  • Mecânicas simples e bem executadas;
  • Boa variedade de situações e customização de personagem;
  • Visual único e interessante;
  • Dificuldade intensa, porém justa.

Contras

  • Alguns estágios problemáticos por conta da geração procedural.
GoNNER — PC — Nota: 7.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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