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Análise: Schrödinger's Cat and the Raiders of the Lost Quark (Multi) é simpático, mas peca na diversão

Com carisma e boas ideias, o game de puzzles e plataforma decepciona na jogabilidade.

Em 1935 o físico austríaco Erwin Schrödinger realizou um experimento teórico que ficaria amplamente conhecido na comunidade científica como “O Gato de Schrödinger”, ou “Schrödinger’s Cat”, em inglês. Em 2014 para PC, e em 2015 para PS4 e Xbox One, a desenvolvedora Italic Pig lançou um jogo simpático, inspirado na física quântica e cheio de piadas sobre o assunto. É um daqueles títulos que eu gostaria muito que fosse melhor, por todo o carisma e originalidade, mas que acaba não sendo muito divertido, principalmente nas partes jogáveis.

Um simpático título inspirado pela Física

O tal experimento teórico se refere a uma situação em que temos um gato e um frasco de veneno (ou ácido) dentro de uma caixa lacrada, longe da influência quântica introduzida pelo ambiente. Assim que uma pequena partícula de radiação é detectada dentro da caixa, o frasco é quebrado. Após um determinado tempo, o gato estaria “vivomorto”, apenas sendo observável seu estado de vivo ou morto tão logo a caixa fosse aberta. A ideia desta reflexão era justamente colocar em questão em que momento um sistema quântico deixa de ser uma mistura de estados e se torna ou um ou outro.

É claro que tem muito mais coisa aí, e eu mesmo não faço muita ideia. Esperamos que o redator Gabriel Toschi, que já nos falou sobre a ciência por trás da portal gun e da (im)possibilidade do pulo duplo, resolva um dia falar sobre o gato de schrödinger e jogos. O nosso game em questão, no entanto, não se foca tanto assim na parte teórica, pegando mais certas noções para fazer piadas sobre física (e não só sobre física). Fiquei muito feliz quando ri de uma piadinha sobre neutríno, mostrando que mesmo alguém com um conhecimento limitado e superficial sobre o assunto (eu), pode entender e se divertir.


O Schrödinger’s Cat, personagem principal do título, é chamado para resolver uma emergência no “Zoológico das Partículas” e deixar tudo em seu devido lugar. Nosso simpático gato pode transitar entre os estados de vivo e morto, sempre sendo transportado para o último checkpoint quando morre. Tendo apenas dois movimentos (o pulo e o ataque), a forma pela qual o gato pode explorar e vencer os desafios do zoológico é utilizando os pequenos quarks.

Ideias originais + piadas nerds²

São quatro tipos de pequeninas partículas: o up quark (amarelo), o down quark (azul), o top quark (verde) e o bottom quark (vermelho). Cada um deles tem uma função, respectivamente: movimento, destruição, proteção e construção. Sempre permutados em três, cada diferente combinação faz com que os companheiros se transformem em algo diferente para ajudar. Três amarelos viram uma espécie de helicóptero, três vermelhos viram uma plataforma, uma mistura entre vermelhos e amarelos (não importa a proporção) nos dá uma plataforma que se desloca horizontalmente. São diversas possibilidades simpáticas e inteligentes que se fazem necessárias para passar pelas fases do jogo.
Os simpáticos e úteis Quarks.
O título brilha mesmo em sua veia descontraída e humorística. Os personagens são carismáticos e a atuação vocal é incrível. A história do jogo é bem interessante e diferente, mas sempre levada de maneira leve e divertida. As piadas sobre física estão presentes durante toda a jornada, em conversas ou mesmo nas falas do gato pelos cenários. E referências à cultura pop também não faltam. É impossível não dar um sorriso quando o personagem diz que “One does not simply walk into Lepton Jungle” — clara referência ao primeiro filme da trilogia O Senhor dos Anéis.

O game também é competente na utilização das mecânicas de combinação dos quarks. Pode parecer que são muitas possibilidades, mas em pouco tempo você já consegue se lembrar delas e usá-las de maneira fluida. A parte mais fraca de Schrödinger’s Cat and the Raiders of the Lost Quark, no entanto, também está na jogabilidade e no design das fases.

Movimento sem muito brilho

Os levels do jogo trazem um misto de plataforma e puzzle. Na verdade a parte do puzzle é um tanto reduzida, já que eles não são exatamente difíceis de se resolver. O que diz respeito à plataforma acaba sendo insuficiente também, dado que as fases e inimigos são simples, com pouca variedade e, muitas vezes, maçantes.
Os pequenos companheiros ficam gravitando em torno do Gato.
As mecânicas de combinação são divertidas, mas a forma pela qual a usamos para passar pelos cenários não é. É o tipo de coisa que faz refletirmos sobre a importância do level design. É conhecida a história de que, na ocasião da produção de Super Mario 64, Shigeru Miyamoto se certificou que os movimentos do Mario fossem divertidos e fluidos sem nenhuma fase criada ainda. Apenas após chegar em um conjunto de mecânicas boas para o famoso encanador que o time começou a desenvolver as fases. Acredito que o processo foi o mesmo com Raiders of the Lost Quark, mas o resultado foi diferente.

Em poucos momentos os levels são realmente interessantes. Os puzzles são simples e geralmente já sabemos como passar, apenas observando os quarks que são disponibilizados na área. A parte de plataforma é bem fraca, e a variedade de inimigos e desafios é pequena, trazendo muita repetição para o título.


Particularmente, sou um grande entusiasta de jogos com fases geradas proceduralmente. Infelizmente o game fica muito atrás de pérolas como Rogue Legacy, por exemplo. As partes geradas aleatoriamente tendem a ser ainda mais estranhas e sem alma do que aquelas construídas de forma fixa.

Falando em coisas fixas, a altura que o gato pula é sempre a mesma. Não pode ser controlada para ser menor com um leve toque, por exemplo. Por um lado, isso acaba forçando a usar os quarks para passar por determinados desafios, e isso é bem legal, acaba sendo algo inteligente do design. Mas por outro, existem momentos em que não temos os quarks necessários na área e esse pulo sempre grande acaba fazendo você morrer injustamente. A mecânica do pulo acaba não sendo balanceada pensando o jogo inteiro, mas sim alguns desafios.

Um jogo “vivomorto”

Ironicamente, não consigo muito bem identificar os exatos momentos em que o jogo deixa de ser uma mistura de estados e se torna um ou outro. Tentei fazer isso ao longo da análise, mas a sensação que se fica é que se trata de um título que é, de fato, uma mistura de estados. Ao mesmo tempo que é original, simpático e competente em algumas áreas, é maçante, chato e frustrante em outras. Enquanto sua história e personagens (e alguns cenários) são vivos, suas fases e desafios são mortos e sem alma.

Prós

  • Ideias e história originais;
  • Personagens carismáticos com ótima atuação vocal;
  • Leve e bem-humorado;
  • Mecânicas interessantes;

Contras

  • Design que não favorece as mecânicas;
  • Puzzles simples;
  • Partes de plataforma sem brilho;
  • Repetitivo e maçantes em certos momentos.
Schrödinger’s Cat and the Raiders of the Lost Quark — PC/PS4/XBO — Nota: 6.5
Versão utilizada para a análise: PS4
Revisão: Alberto Canen
Capa: Nívia Costa

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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