Blast from the Past

Doom II: Hell on Earth (Multi) fez a obsessão começar (de novo)

Sequência do pai dos jogos de tiro elevou o gênero a um novo patamar.

Este não é apenas um jogo essencial. É um jogo para deixar no disco rígido pelo resto da vida.

David Cook, escrevendo para a Revista Dragon 216


Sequências de grandes jogos sempre se encontram numa posição delicada. É inevitável compará-las a seus antecessores, em qualidade e importância. Sendo assim, Doom II: Hell on Earth (Multi), lançado em 30 de setembro de 1994, nasceu fadado às críticas. O primeiro Doom (Multi), além de ser um jogo excelente, foi um título seminal, fundando as bases do gênero de FPS. Era impossível competir com ele em importância; restava às mentes brilhantes da id Software superar o antecessor em excelência.
Deixa a obsessão começar. De novo.
O mais impressionante é que conseguiram fazer algo melhor que o primeiro Doom — e por uma longa margem. Mesmo sem grandes avanços técnicos e audiovisuais, o "discípulo" é melhor, maior, mais exagerado e brutal que seu "mestre" em todos os sentidos.

Sem descanso para os vivos

Mas quais foram os avanços que tornaram Doom II tão notável e querido pelos fãs? O visual, jogabilidade e áudio, apesar de levemente aprimorados, não justificariam o jogo sozinhos e fariam-no ser eclipsado eternamente pelo antecessor. Entretanto, a sequência tem um trunfo: o level design.

Muito mais intricado e complexo, o título possui um dos melhores level designs em primeira pessoa da história dos games — provavelmente perdendo somente para Quake (Multi), Metroid Prime (GC) e Half-Life 2 (Multi). Os desenvolvedores da id Software se deram a liberdade de exigir requerimentos mínimos maiores, permitindo criar níveis espaçosos, com mais inimigos e cheio de segredos.

Além de maiores, os mapas são mais coesos e bem pensados. A ação não é mais dividida em capítulos, e sim apresentada como uma única e contínua aventura. Isso não tirou a versatilidade dos ambientes, que são variados, indo de urbanos para cavernas demoníacas.

Esse foco no level design deu trabalho. Apesar de usar a mesma engine e muitos dos assets do primeiro Doom, o novo jogo levou mais tempo para ser desenvolvido — um total de nove meses, contra seis do antecessor. Seus criadores tentaram usar o máximo de suas ferramentas disponíveis, levando-as ao limite, fazendo experimentos com verticalidade e novas abordagens de construção de níveis em primeira pessoa e polindo cada cenário.

O resultado final beira o exagero. Em meio aos mapas labirínticos e lotados de monstros, é possível pensar algumas vezes: precisava disso tudo? Não, não precisava. Mas fizeram mesmo assim, o que torna o jogo ainda melhor. Sem surpresas, a obra foi um grande sucesso comercial, vendendo mais de 2 milhões de unidades em seu lançamento e tornando-se o maior sucesso da id Software.

Jogado e modificado até hoje

Hell on Earth tinha outras cartas na manga além do fantástico modo single player. A funcionalidade do multiplayer, por exemplo, foi extremamente melhorada. Era necessário configurar menos coisas para poder jogar online. Os mapas multiplayer também estavam melhores. MAP01: Entryway é considerado até hoje um dos melhores mapas deathmatch da história. Além disso, o jogo introduziu suporte para partidas via LAN, dando origem às famosas lan parties (ah, os anos 1990…), que foi depois adicionado retroativamente no primeiro Doom.
Nada é bom o suficiente que não fique melhor com amigos.

Doom II também permitiu que jogadores continuassem a se expressar criativamente, fazendo seus próprios mapas e modos de jogo através de WADs. Alguns dos melhores níveis criados por fãs foram depois compilados na expansão Master Levels for Doom II, lançada oficialmente em 26 de dezembro 1995 pela id Software. Alguns desses programadores foram posteriormente contratados pela empresa, ou vieram a trabalhar em outros estúdios famosos, como Valve e 343 Industries. Ao final de 1995, mais de 1600 WADs de Doom II foram criadas, com várias outras sendo feitas até hoje.

Action Doom, um dos WADs mais famosos de Doom II.
Tanta popularidade não permitiu que o título ficasse confinado aos PCs. Assim como seu antecessor, o jogo foi portado para várias plataformas (em muitos dos casos, pelos próprios fãs). Um dos ports mais notáveis é o para Xbox 360, que traz uma nova expansão com nove níveis e se aproveita da resolução maior de telas modernas para colocar ainda mais inimigos nos mapas.

Atualmente, Doom II: Hell on Earth está disponível em uma série de plataformas e roda em qualquer computador ou smartphone moderno. Jogá-lo hoje em dia é uma experiência tão emocionante quanto em 1994.

Uma obra atemporal

Apesar de John Carmack, co-fundador da id Software, considerar a história de um jogo tão relevante quanto a de um filme pornográfico, é interessante olhar para a trama de Doom e notar como ela ressoa com sua criação e desenvolvimento. No primeiro jogo da série, demônios invadiam uma base marciana e tentavam a todo custo chegar à Terra. Similarmente, o título era a tentativa do estúdio de dominar o mundo dos games, fazendo sua "invasão" através de novos modelos de negócios e gêneros.

Em Hell on Earth, as hordas do inferno já conseguiram conquistar o planeta. A Terra virou o playground dos monstros e cabe ao Doomguy mais uma vez derrotá-los, tendo à sua disposição apenas um seleto arsenal. Na vida real, Doom já havia conquistado uma legião de fãs e compradores, e o novo título era o playground pessoal de seus desenvolvedores, com suas ideias mais bizarras e exageradas tomando forma. Cabe a você, o jogador, aceitar o desafio e vencer o pequeno inferno que criaram para você.

Revisão: Alberto Canen
Capa: Nívia Costa

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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