Blast Battle

Demon's Souls (PS3) vs. Dark Souls (Multi), um difícil duelo

O grande desafio da série Souls é escolher qual jogo é melhor.

Bloodborne, o esperado exclusivo de PlayStation 4, já está entre nós, para alegria de muitas pessoas (inclusive deste redator). Mas afinal, por que a euforia com este jogo? Por que muitas pessoas que sequer têm um PS4 (também este redator) estão ansiosas para colocar as mãos no título?


Muito simples: Bloodborne é o sucessor espiritual de Dark Souls, aclamado jogo multiplataforma da geração passada desenvolvido pela From Software. A série fez muitos fãs assíduos graças à sua jogabilidade refinada e grande desafio. Alguns considerariam comprar um novo console só para poder jogar este novo marco da série (mais uma vez, este redator).
Meu cartão de crédito chora.

Interessante notar que Dark Souls é, na verdade, sucessor espiritual de outro jogo: Demon’s Souls, lançado exclusivamente para o PlayStation 3 em fevereiro de 2009. Por estar disponível em menos plataformas, nem todos jogaram essa gema que é tão boa quanto Dark Souls.

Mas qual dos dois é melhor? Este é o chefe que tentaremos derrotar hoje.

História e mitologia

A trama de ambos os jogos é bastante… obscura. Há poucas cutscenes e a maioria dos diálogos é críptico — isto é, quando os NPCs não são absolutamente insanos e incapazes de dar informações úteis. O jogador que quer conhecer mais sobre o passado daqueles personagens e mundos precisa investigar itens, ler descrições de almas e ficar atento a detalhes espalhados nos cenários. É uma abordagem muito interessante, tornando a tarefa de entender a mitologia por trás dos títulos uma aventura por si só e gerando várias discussões entre a comunidade.
Cada um deles tem uma história.
Dentre os dois títulos, Dark Souls é o que tem mitos mais extensos e gerou mais discussões ao redor da rede. Ele também tem alguns dos personagens mais marcantes e queridos pelos fãs da franquia, como Solaire of Astora (protagonista de várias teorias entre os fãs) e Artorias the Abysswalker (personagem central do DLC Artorias of the Abyss). Demon’s Souls também tem seus segredos e NPCs interessantes, mas não tanto quanto seu sucessor.
PRAISE THE SUN!
Demon’s Souls 0 x 1 Dark Souls

Direção de arte e estética

Por mais cruéis que os mundos da série Souls sejam, é inegável sua beleza. Mesmo os cenários mais escuros e decadentes têm vistas de tirar o fôlego e uma beleza arquitetural difícil de se achar em outros jogos. Os inimigos e chefes também são tão bem feitos quanto difíceis.

Apesar do nome, Dark Souls é menos sombrio que seu antecessor. Há mais ambientes iluminados e claros, contrastando com outros extremamente escuros e demoníacos. Demon’s, por outro lado, é mais coeso e sóbrio, mas sem que isso afete a originalidade e sensação de fantasia de cada um dos níveis.

No departamento sonoro, os dois títulos também estão muito bem servidos. Boa parte dos jogos é passada em silêncio, apenas com o som produzido por você e os inimigos. A música aparece apenas em momentos pontuais, normalmente durante as lutas contra os chefes — o que as torna ainda mais memoráveis e impactantes. Muito bem orquestradas e construídas especificamente para cada situação, a série tem uma OST fantástica, ficando grudada na cabeça mesmo dias depois de completar a aventura.

Não há vencedor claro aqui. São duas obras estonteantes para os olhos e ouvidos.

Demon’s Souls 1 x 2 Dark Souls

Jogabilidade

Poucas coisas são mais gratificantes do que a jogabilidade da série Souls. Iniciantes podem achá-la torturante e lenta, mas com um pouco de investimento ela mostra sua outra face, ficando claro por que é tão adorada. Precisa, desafiadora, justa, complexa e profunda, faltam adjetivos para descrevê-la. Difícil mesmo é não se viciar.
Essa tela também é bem comum nos dois jogos.

Neste quesito, não há muitas diferenças entre Demon’s Souls e seu sucessor espiritual. Ambos permitem o jogador fazer variados tipos de personagens, possuem uma enorme gama de armas e equipamentos e ajustam-se a diferentes estilos de jogo. Onde eles fazem algo um pouco diferente é na forma de lidar com a magia. Enquanto Demon’s usa uma abordagem mais tradicional, com uma barra de MP que pode ser restaurada com certos itens, Dark Souls usa um sistema de mágica vanciana; os feitiços e milagres devem ser pré-preparados e têm uso limitado antes de ser necessário “recarregá-los” em um bonfire. Esta limitação torna mais difícil abusar da magia e tornar alguns chefes triviais, algo como em Demon’s Souls. Em contrapartida, o sistema do exclusivo de PS3 dá mais liberdade para se criar personagens focados no uso de artes mágicas.

Outra é o modo como as duas obras lidam com o HP. Demon’s pune o jogador reduzindo sua vida pela metade caso ele morra, sendo necessário usar um item específico e limitado para retornar à forma humana e restaurar 100% do HP. Em compensação, é mais fácil recuperar a vida, existindo uma variedade de itens que podem ser comprados para tal. Dark Souls, por outro lado, usa os Estus Flasks para recuperar o HP, os quais possuem uso limitado e só podem ser recarregados nos bonfires.

São decisões de design diferentes, mas nenhuma delas é necessariamente melhor. Em todos os casos a jogabilidade permanece equilibrada, justa, desafiadora e viciante.

Demon’s Souls 2 x 3 Dark Souls

Multiplayer

Assim como na jogabilidade single-player, pouco muda entre o multiplayer de Demon’s e Dark Souls. Mas, neste quesito, alguns detalhes fazem toda a diferença.

Ambos têm o criativo sistema que é ao mesmo tempo cooperativo e competitivo, permitindo que você entre no mundo de seus amigos para ajudá-los — ou matá-los. Dark Souls tem mais facções e opções de interação, mas os princípios básicos são os mesmos.

Apesar das similaridades, Demon’s tem uma rede mais estável, equilibra melhor os combates (não enviando você para mundos com jogadores milhares de níveis acima do seu), permite que os fantasmas recuperem seu HP e dá um motivo para que o jogador permaneça em forma humana e corra o risco de ser invadido. Além disso, o jogo utiliza de forma muito criativa suas funções multiplayer em um dos chefes.

Sem contar que a versão para PC de Dark Souls usava o Games for Windows Live. Isso por si só já conta como ponto negativo.
Esse boss exclusivo da versão para PC é um saco.
Demon’s Souls 3 x 3 Dark Souls

Chefes

Uma das — se não “A” — maiores marcas da série Souls são seus chefes. O ápice dos jogos, a prova final para o jogador demonstrar sua habilidades. Mesmo os chefes mais “fáceis” garantem uma batalha épica e vencê-los é extremamente satisfatório.

No quesito dificuldade, há um equilíbrio entre os chefes dois títulos. Maneater pode até ter um lugar especial no coração de muitos jogadores, mas Smough & Ornstein e Artorias of the Abyss, de Dark Souls, são pelo menos tão frustrantes e apelões quanto. Os dois games também possuem alguns chefes extremamente criativos que não são vencidos de forma convencional — Storm King e Bed of Chaos logo vêm em mente.

A grande diferença não está na qualidade, mas na quantidade. Cada game possui oponentes extremamente marcantes, cabendo ao jogador escolher seus favoritos. Mas Dark Souls tem o dobro de chefes do seu antecessor, muitos deles sendo opcionais, além de vários mini-bosses espalhados em algumas regiões.

Demon’s Souls 3 x 4 Dark Souls

Level Design

Na singela opinião deste redator, a maior qualidade dos jogos da série Souls é o level design. Os ambientes não são apenas imersivos e com grande apelo visual. A forma como se organizam, o posicionamento de cada inimigo e itens, as armadilhas… Tudo é feito com um cuidado e atenção difíceis de se ver em outros games. Não apenas bem montados, eles também são ousados, fazendo uso de elementos muitas vezes negligenciados na construção de espaços tridimensionais digitais, como a verticalidade e o uso da luz e sombra.

A forma como os dois jogos abordam a integração desses dois níveis, entretanto, é diferente. Demon’s Souls possui um hub, o Nexus, em que o jogador pode escolher qual nível deseja entrar. Em teoria, isso torna o jogo menos linear, dando certa liberdade para o jogador escolher a ordem que enfrentará os chefes.

Já em Dark Souls, todos os níveis são interligados. Você pode ir do ponto mais alto do jogo até o mais baixo sem nenhuma tela de loading. É incrível como as várias áreas se interconectam e referenciam umas as outras. Você pode ver a Ash Tree da Tomb of the Giants e há vários caminhos para a ir a vários lugares, com atalhos muitas vezes difíceis de imaginar que existiam — mas que sempre fazem sentido. O resultado é um mundo fantástico, bem estruturado e maravilhoso de se explorar.

O mais surpreendente é que essa integração não torna as áreas menos únicas. Seria de se imaginar que Demon’s Souls, por separar suas áreas de forma tão clara, teria níveis mais criativos e com temas únicos. Não é o que ocorre. Dark Souls possui ambientes tão ou mais criativos que seu antecessor, cada um deles feito com atenção nos últimos detalhes.
Demon’s Souls 3 x 5 Dark Souls

Victory Achieved: Dark Souls

Demon’s Souls é um jogo fantástico e obrigatório para todo fã da série Souls. Não obstante, Dark Souls consegue ser o vencedor dessa difícil batalha — precisando fazer muitos rolamentos e contra-ataques para superar seu oponente, aproveitando cada abertura mínima para tirar vantagem, mas saindo vivo do combate. E o melhor: ninguém teve que morrer para isso!

Revisão: Marcos Silveira
Capa: Daniel Serezane

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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