Nintendo, Microsoft ou Sony? Afinal, quem levou a melhor em 2014?

O ano está no final e agora podemos analisar a situação produtiva e criativa da nova geração de consoles. Quem seria aquela que se deu melhor?

Uma coisa nós podemos tirar como lição desse ano logo de cara: as coisas mudam. Há 12 meses, lá em janeiro, tínhamos uma situação bem distinta do que vemos agora na dita nova geração de consoles. Com o lançamento do Xbox One e do PlayStation 4 no final de 2013, em janeiro já havíamos nos acostumado com a ideia de três consoles novinhos em folha, mas a nova plataforma da Nintendo estava indo de mal a pior e, muitas vezes, nem era considerado um dito “Next Gen”.


Os motivos para isso eram claros: uma interface lenta, pouco apoio das empresas tercerizadas (third parties), poucos títulos exclusivos lançados (até então somente Pikimin 3, The Legend of Zelda Wind Waker HD e Super Mario 3D World haviam dado as caras como grandes exclusivos) e um controle único que, até então, nem a própria empresa sabia ao certo para qual propósito servia. Além das poucas diferenças reais entre se comparado ao PS3 e o X360, na época.



Em contrapartida, a Sony e a Microsoft esbanjavam inovação e promessas incríveis com grandes nomes como Dragon Age: Inquisition, Watch_Dogs, Tom Clancy’s The Division, The Witcher 3, The Elder Scrolls Online, Middle-Earth: Shadow of Mordor, Alien: Isolation, Assassin’s Creed Unity, Destiny, além dos seus exclusivos como Titanfall (XBO/X360/PC), Forza Motosport 5 (XBO) e Uncharted 4 (PS4).

O problema é que no meio do caminho várias surpresas aconteceram. Revelações animadoras, decepções marcantes, uma E3 incrível e, ao final, um The Game Awards para cimentar a ideia geral do ano que passou. Vamos ver aqui como foi o transcorrer do ano para essa nova geração, levando em consideração erros e acertos de todas, para então entendermos quem saiu de 2014 com a melhor produção de jogos.


Um tropeço de início e uma volta por cima

A corrida anual começou com o PS4 da Sony disparando na frente em vendas por todo o ocidente, enquanto o XBO foi tropeçando lá atrás e o Wii U travado em último colocado, sem fazer muito barulho em nenhum sentido. Parte do mundo ainda estava absorvendo a perfeição de Super Mario 3D World, enquanto outros curtiam a vibe criada por Assassin’s Creed IV: Black Flag (Multi), lançado em novembro do ano anterior.

Em fevereiro, a Nintendo, tentando ganhar espaço, lança o aguardado Donkey Kong Country: Tropical Freeze (Wii U), um sucesso de crítica e público, porém não tão bem-sucedido assim nas vendas, mas já era mais um ótimo exclusivo da casa do Mario, de uma franquia muito mais reconhecida do que Pikmin. Porém, ainda não justificava a compra do console, até que algo explosivo foi lançado. Por outro lado, um jogo já lançado para Wii U chegava aos outros consoles da nova geração: Rayman Legends.



No mês seguinte, foi a vez de Titanfall representar o melhor “fogo de palha” do ano, enquanto Metal Gear Solid V: Ground Zeroes chegava tanto para a nova geração, quanto para a antiga. Mas além disso, Infamous: Second Son chegava como o primeiro grande título exclusivo do PS4 do ano, e o Xbox One ficou na vontade, ou melhor, só com o Snake mesmo (nem isso a Nintendo tinha).

Exatamente no mesmo dia em que Watch_Dogs, da Ubisoft, chegava ao XBO, PS4 e PC, a Nintendo cravava a sua primeira e grande estaca do ano, que acarretaria um boom de vendas absurdo para o Wii U, esse era Mario Kart 8. Uma das franquias de corrida mais famosas do mundo desde a sua primeira versão lá no SNES teve sua versão definitiva lançada para o novo console da Nintendo, cujas vendas subiram incríveis 666%  no Reino Unido após o lançamento do título, ultrapassando as vendas do novo Xbox. Além do meme “Luigi’s Death Stare” e de diversas paródias que só fizeram disseminar a notícia de que “o Mario tinha voltado às pistas e talvez o Wii U ainda valesse a pena”.



Ao mesmo tempo que o jogo de corrida da Nintendo explodia de sucesso, a nova IP da Ubisoft só fazia afundar. Mesmo sendo adiado para 2014 usando como justificativa a melhoria da experiência de jogo, Watch_Dogs foi considerado por muitos uma ofensa aos jogadores, por conta da quantidade de bugs, perda de resolução e o poder gráfico inferior àquele mostrado na E3 2013. O jogo não é ruim, mas a publicidade da empresa o colocou num pedestal muito mais alto do que ele merecia, causando a recepção negativa do público. Infelizmente, foi apenas a primeira bola fora da Ubi durante o ano. E falando em E3…

A E3 mais disputada em anos!

Então chegou o meio do ano e com ele a maior feira de games do mundo, a E3 2014, com as três gigantes da indústria dos games mostrando a que vieram. A Sony, num momento muito confortável, só fez divulgar novidades sobre jogos que ela já havia anunciado, sem nada bombástico ou original (o que é facilmente compreendido pela posição muito à frente das concorrentes nas vendas). Uncharted 4, LittleBigPlanet 3 e The Last of Us Remastered foram as grandes revelações.



A Microsoft, por sua vez, mostrou claramente sua mudança de estratégia comparada ao ano anterior. O XBO já estava no mercado, agora ele precisava de jogos. A equipe fez grandes anúncios como a nova e sensacional IP Sunset Overdrive (XBO), Rise of the Tomb Raider e o lançamento do Hallo: The Master Chief Collection, o que proporcionou pela primeira vez aos gamers a possibilidade de jogar todos os Halo em uma única plataforma, mesmo sem fugir de problemas. Além disso, também apareceu o belíssimo Fable Legends, exclusivo para o “One”.



Já a Nintendo, precisava mais do que nunca mostrar que ainda estava ali, não necessariamente competindo com as demais, mas ali, em algum lugar. A empresa realmente conseguiu se diferenciar tanto nos títulos lançados, quanto no método de publicidade. Na gigantesca lista de anúncios estavam Hyrule Warriors (Wii U), Bayonetta 2 (Wii U), Captain Toad: Treasure Tracker (Wii U), Xenoblade Chronicles X (Wii U), Super Smash Bros. for Wii U/3DS (com os amiibo), Devil’s Third (Wii U), Yoshi’s Wooly World (Wii U), Pokémon Omega Ruby & Alpha Sapphire (3DS), Kirby and the Rainbow Curse (Wii U), Mario Party 10 (Wii U), Monster Hunter 4 Ultimate (3DS), Sonic Boom: Shatered Crystal (3DS), Sonic Boom: Rise of Lyric (Wii U) e os novos Mario Maker (Wii U), Splatoon (Wii U), Project Guard (Wii U), Codename S.T.E.A.M (3DS), Project Giant Robot (Wii U), além dos bombásticos Zelda e Star Fox para Wii U (ufa!).

Pra descansar um pouco depois dessa... é bom rever o inesquecível vídeo de apresentação dos Miis e amibo no Super Smash Bros for Wii U:
Nas thirdies, Assassin’s Creed Unity, Assassin’s Creed Rogue e Far Cry 4, da Ubisoft, além do adiamento do The Division para 2015. Fora isso, outros grandes anúncios como Alien: Isolation, Batlefield: Hardline, Call of Duty: Advanced Warfare, Batman: Arkham Knight,  Mortal Kombat X, Final Fantasy XV, Destiny, Shadow of Mordor, Dragon Age: Inquisition e os misteriosos novos jogos de franquias como Doom, Mass Effect e Star Wars Battlefront.

Sem dúvidas, uma das melhores E3 em anos! A vantajosa, a atrasada e a desesperada conseguiram se equiparar de forma a, quem assistia, passar a desejar ter todos os consoles o mais rápido possível. Entretanto, os meses que sucederam o evento demonstraram algumas nuâncias no comportamento criativo e produtivo das empresas.


O segundo semestre turbinado! 

Destiny e Hyrule Warriors foram os próximos grandes lançamentos do ano. O primeiro, a combinação incrível de FPS e MMO multiplataforma que encantou milhões de pessoas no ocidente, recebendo inclusive o prêmio de melhor experiência online do ano (e que, assim como tantos outros, não chegou para a Nintendo). O segundo, um exclusivo da gigante japonesa que surpreendeu a todos, pelo fato de modificar totalmente a estrutura corriqueira dos jogos da franquia The Legend of Zelda, trazendo os Guerreiros de Hyrule para a mecânica de Dinasty Warriors. Não foi um dos melhores do ano, mas um bom jogo mesmo assim (sem contar The Last of Us Remastered, que chegou cerca de um mês antes deles).



Após isso, Disney Infinity 2.0: Marvel Super Heroes (Multi) e Skylanders: Trap Team (Multi) fizeram pouco barulho entre a criançada, que ainda juntava as miniaturas das versões anteriores de ambos os jogos. Mas a grande honraria foi Middle-Earth: Shadow of Mordor, que reviveu de forma mais que digna o universo dos livros de Tolkien.

Daí já estávamos em outubro, com os não tão aguardados Killer Instinct: Season 2, Sleeping Dogs: Definitive Edition e os já há muito esperados Just Dance 2015, Sunset Overdrive e Bayonetta 2. Aí começaram as surpresas do ano, uma vez que Sunset foi a revelação dentre os poucos exclusivos da Microsoft do ano e Bayonetta 2 ainda está sendo digerido pelos jogadores, uma vez que era um dos candidatos mais fortes (ao lado de Shadow of Mordor) a ganhar o tão cobiçado Game of the Year.



Em seguida foi a vez das surpresas através do inesperadamente divertido Call of Duty: Advanced Warfare e do absurdamente recheado de defeitos Assassin’s Creed Unity. Infelizmente, a segunda bola fora da Ubisoft esse ano, que inclusive fez pouco tempo depois o anúncio de mais um Assassin’s Creed já para o ano que vem. Outra decepção veio nas plataformas Nintendo, através do deplorável Sonic Boom.

Depois entramos em Novembro e os anúncios começaram a melhorar: Far Cry 4 salvou a Ubisoft esse ano enquanto publicidade positiva (visto que a publicidade do Watch_Dogs no Wii U foi zero); Dragon Age: Inquisition chegou sem fazer barulho e em ótima qualidade; GTA V finalmente alcançou os dois consoles da nova geração, enquanto que um dos jogos mais aguardados do ano, Super Smash Bros. for Wii U, finalmente foi lançado, sendo o “segundo Mario Kart 8 do ano”, transformando-se da noite pro dia num sucesso de vendas, crítica e público. E o ano se encerra com os recentes The Crew, Lara Croft and the Temple of Osiris e Captain Toad: Treasure Tracker.



Um ano e tanto, não? Bom… nem tanto.

Mas quem trabalhou melhor, afinal?

Esse ano foi muito produtivo, realmente! Vários títulos de várias produtoras surpreenderam, e Bayonetta 2, Sunset Overdrive e os novos Call of Duty e Dragon Age merecem elogios por suas qualidades ímpares, bem acima do esperado. Porém, precisamos peneirar um pouco as coisas para analisar a situação dos três consoles de mesa da 8ª geração mais a fundo.

A Sony simplesmente ficou olhando todos comprarem o PS4 para jogar mais FIFA, mais GTA, mais The Last of Us, mais CoD, mais Assassin’s Creed e só. Não houve esforço algum da empresa em trazer algo novo, pois eles não precisam trazer nada novo, estão vendendo muito bem, obrigado. Mas para nós, jogadores, isso não é tão bom. Nada contra os títulos anuais, mas para justificar a compra de um console dito "Next Gen", precisaria de algo mais, um algo mais que foi prometido, mas que chegou mais para o PS3.


A situação do Xbox One melhorou consideravelmente nos últimos meses do ano. Sunset Overdrive merece palmas e a coletânea de Halo, mesmo sendo um port, merece seu lugar de respeito mesmo que com falhas técnicas. Mas o One, assim como o PS4, recebeu mais do mesmo com uma tonelada de títulos anuais e algumas poucas exceções.

A Nintendo, por sua vez, não recebeu praticamente nenhum apoio das thirdies (um Watch_Dogs meio ano depois? por favor!) e isso foi uma bola fora da empresa, que precisa rever seus conceitos de negociação. A empresa compensou muito bem essa falta de apoio trazendo a responsabilidade para si com os seus excelentes exclusivos, mas nomes de peso como Call of Duty, Shadow of Mordor, GTA, Battlefield, Dragon Age e vários outros continuam de fora da lista de lançamentos para o Wii U.

Porém, como disse, seus exclusivos conseguiram, em qualidade, superar e muito a maior parte dos demais jogos. Isso não sou apenas eu quem diz, pois no The Game Awards a empresa foi a que mais ganhou prêmios, entre eles, a de Melhor Desenvolvedora do Ano. Então entre os três consoles, seria interessante considerar a posição surpreendente que o Wii U alcançou, sem competir de frente com os dois gigantes, mas “correndo por fora” e ganhando seu espaço.

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Entretanto, por um momento, retirem da lista de lançamentos a tonelada de jogos de tiro com um elefante ou um multiplayer online de diferencial, as continuações de franquias já conhecidas e os spin-offs que se aproveitam da fama das franquias originais, o que 2014 trouxe realmente de novo?

Mesmo Sunset Overdrive reinventando um estilo e Shadow of Mordor trazendo mecânicas de combate surpreendentes, não deixam de esbarrar no que eu citei acima. O que REALMENTE 2014 trouxe de novo, criativo, surpreendente e diferente para nós?



Amigos e amigas, a revelação desse ano, assim como a merecida vitória, não está na mão da Sony, da Microsoft e nem da Nintendo. Seus consoles ainda estão longe de mostrar realmente o que a nova geração tem. E isso não é um defeito, eles estão em processo de lançamento ainda, agora que começamos a ter um gostinho do que os próximo anos trarão. Mas 2014 não foi de nenhum deles propriamente dito, mas sim de empresas muito menores e mais simples.

Analisando tudo que foi dito aqui, vocês podem observar que retirei de todas as análises do ano os jogos independentes. Aqueles que não foram explosões de publicidade e nem geraram filas nas lojas no dia do seu lançamento, mas que permearam a jogatina de todos nós durante todo o ano. Os jogos indies foram os verdadeiros vencedores, exemplos de enredo, criatividade, originalidade e arte. A prova disso é o próprio The Game Awards, que teve como premiação mais acirrada a de melhor indie do ano.

Concordam? Discordam? Estão em cima do muro? Muita calma nessa hora! Semana que vem vamos falar um pouco mais dos indies, que merecem um texto à parte devido ao seu peso durante o ano que está terminando.


Revisão: Vitor Tibério
Capa: Diego Migueis

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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