Discussão

Discussão: Estamos diante de um renascimento do gênero survival horror?

O gênero está mais forte do que nunca, com grandes lançamentos neste ano e anúncios de peso para os próximos. Será um movimento passageiro ou ele veio para ficar?

Recentemente, tivemos muitos lançamentos de survival horrors de qualidade. O terror causado por Outlast (Multi), Amnesia: A Machine for Pigs (PC), Alien: Isolation (Multi) e The Evil Within (Multi) ainda está fresco na memória, e os próximos anos prometem ainda mais sustos, com destaques para Dying Light (Multi) e Silent Hills (PS4). Por que a indústria está demonstrando este interesse repentino no gênero, há tanto esquecido?

E por que minhas calças estão úmidas?

É fato que estamos diante de uma boa leva de jogos de horror, como há algum tempo não se via, mas acho problemático dizer que o gênero “renasceu”. Afinal, quando foi que o gênero “morreu”?

Morto-vivo

A própria ideia de que gêneros podem “morrer” — e, depois de algum tempo, “renascer” — é um tanto quanto bizarra. Ela parte do princípio de que o mercado é feito apenas de grandes lançamentos e jogos AAA. Se um gênero não recebe um “título de peso” há alguns anos, o público prontamente declara seu óbito.

Talvez isso fosse verdade nas gerações anteriores, mas hoje em dia essa visão é, no mínimo, limitada. Ela desconsidera completamente a força e pertinência ganhas pelos estúdios independentes na última década. Muitos gêneros considerados “mortos” pela indústria em geral receberam vários lançamentos indies de qualidade — é o caso dos adventures point-and-click e dos roguelikes, que há anos não recebem produções multimilionárias mas fazem tremendo sucesso no mercado indie.
Adventures e roguelikes são dois gêneros que estão "mortos" há bastante tempo e continuam a receber lançamentos de qualidade.

Os survival horrors, então, foram um dos maiores beneficiados pela ascensão de estúdios pequenos e médios, recebendo alguns dos melhores e mais expressivos jogos. É o caso de Penumbra (PC), Amnesia, Outlast, Among the Sleep (PC/PS4), DayZ (PC), DreadOut (PC)... poderia ficar o dia todo aqui. Praticamente todo ano há pelo menos um survival horror independente digno de menção e que ganha alguma exposição na mídia — e alguns, inclusive, chegam a disputar o posto de melhores do gênero com franquias tradicionais como Resident Evil e Silent Hill.

O que não te mata, te deixa mais forte

Mesmo que desconsideremos o mercado independente, é difícil dizer que os survival horrors chegaram a “morrer”. 2014 não foi o único ano com grandes lançamentos do gênero. Nos anos anteriores tivemos muitos jogos genuinamente aterrorizantes, como Siren: Blood Curse (PS3), Dead Space (Multi), ZombiU (Wii U) e Alan Wake (PC/X360).
Esqueceram de avisar ao Isaac que os survival horrors estavam mortos...
Acontece que alguns gêneros possuem lançamentos menos frequentes que outros. Enquanto FPS e esportes contam com franquias anuais, outros tipos de games têm ciclos de desenvolvimento mais longos. É o caso dos jogos de estratégia, stealth, simulação e tantos outros. Nenhum desses gêneros está “morto”, mesmo que não recebam grandes lançamentos anuais.

Este ano aconteceu algo especial, com muitos grandes títulos de horror sendo lançados em curto período de tempo. Não foi um movimento organizado da indústria ou uma mudança repentina no gosto dos consumidores. Os survival horrors sempre tiveram espaço no mercado, então era natural que jogos do gênero estivessem em desenvolvimento. Desta vez apenas calhou deles serem lançados juntos.

Cuidado com os zumbis

Dependendo do sucesso destes jogos, talvez vejamos ainda mais games com temática de horror no futuro próximo. Não é difícil imaginar um Alien: Isolation 2 ou The Evil Within: The Return caso os jogos tenham grande êxito comercial. Mas percebam bem o termo que usei no início do parágrafo: jogos com temática de horror, não necessariamente survival horrors.

Sequências são os piores inimigos dos survival horrors. Na quinta geração, muitas franquias do gênero queridas pelo público receberam sequências que abandonaram todas as características de horror. Não entro no mérito da qualidade desses jogos, mas é fato: não são jogos de horror.

Este foi um dos fatores que contribuiu para que muitos declarassem o gênero “morto”. Naturalmente, os fãs dessas franquias viram elas se degradando e ficaram decepcionados.
Você pode até gostar dos novos Resident Evils, mas convenhamos: não são jogos de horror.

Por que os survival horrors sofrem tanto com sequências? Porque ele é um gênero diferente de todos os outros. Enquanto os outros gêneros de videogame são definidos por suas mecânicas e gameplay, o que faz um jogo receber o rótulo de “horror” é a sensação que ele passa. Não existe uma jogabilidade característica do gênero. Há survival horrors de tiro em primeira pessoa, de aventura, de RPG, de estratégia, de stealth, etc. É a experiência de medo que esses jogos proporcionam, não a forma como eles são jogados, que os enquadra no gênero.

Sequências de survival horrors tendem a copiar suas mecânicas, direção de arte e outras características visíveis de seus antecessores, mas nem sempre conseguem copiar o medo e terror. É o caso de Resident Evil 5 (Multi) e Dead Space 3 (Multi), antes grandes franquias de horror, agora apenas jogos de tiros com zumbis.

Mas mesmo que algo similar aconteça com os jogos de horror que agora estão no mercado, não temam: os survival horrors continuarão a receber grandes lançamentos e ainda têm potencial para causar muitos sustos.

Revisão: Vitor Tibério
Arte: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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