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Análise: Um enorme potencial perdido assombra Amnesia: A Machine for Pigs (PC)

No final de 2010, os fãs de survival horror tremeram de medo jogando Amnesia: The Dark Descent . Desenvolvido pela Frictional Games , fe... (por Gabriel Gonçalves em 02/10/2013, via GameBlast)


No final de 2010, os fãs de survival horror tremeram de medo jogando Amnesia: The Dark Descent. Desenvolvido pela Frictional Games, fez bastante sucesso, e muitos o classificaram como um dos jogos mais assustadores de todos os tempos. 


Em 2012, uma sequência foi anunciada através de uma parceria entre a produtora sueca e a britânica The Chinese Room. O projeto havia começado como uma pequena expansão do jogo original, como o Amnesia: Justine. Porém, como tudo acabou tomando maiores proporções que o esperado, foi decidido que seria feito algo inteiramente novo. 

E finalmente, após tantos adiamentos e incertezas, Amnesia: A Machine for Pigs foi lançado ao público no início de setembro desse ano. Muitas expectativas cercavam o game. Porém, será que ele conseguiu ser tão bom quanto foi The Dark Descent?

Simplificando o medo

O enredo de A Machine for Pigs se passa no mesmo universo de The Dark Descent (que inclusive tem eventos mencionados), mas cerca de 60 anos depois, na Inglaterra.
O azarado da vez é Oswald Mandus, um dono milionário de uma fábrica, que tem um pico de febre ao voltar de uma expedição ao México. Em seus delírios febris, ele frequentemente via uma máquina monstruosa ganhando vida. 

Um dia, ele acorda sem conseguir se lembrar de acontecimentos recentes na sua vida. Ele ouve seus filhos o chamarem de longe, mas não consegue encontrá-los na casa. O personagem então começa sua jornada em busca deles e da parte perdida de sua memória. Porém, como é de se esperar, essa aventura reserva muitas surpresas desagradáveis para quem for jogar.


Certamente, o enredo é bem melhor que o original. Se em The Dark Descent tínhamos o velho clichê do personagem completamente sem memória que acorda em um lugar escuro, com algo o perseguindo, em A Machine for Pigs os eventos são um pouco mais criativos. Mandus sabe bem mais do que o próprio nome e acorda em seu próprio lar, onde deveria ser seguro, o que, como o jogador descobre, está longe de ser verdade. O final surpreende e toma rumos bem emocionantes. Junto com essa evolução, a maneira como o enredo é construído, fazendo com que a pessoa colete as pistas e flashbacks e os interprete, foi mantido do mesmo modo de The Dark Descent. É bom que algumas coisas não mudem.

Infelizmente, a criatividade do enredo não se reflete na jogabilidade. O personagem não tem inventário, e geralmente os objetos necessários para resolver puzzles estão perto de onde devem ser usados. O resultado são enigmas simplórios, fáceis, que não requerem nenhum tipo de raciocínio mais profundo. 

Os puzzles estão fáceis como caminhar por esses corredores (a não ser que se considere o que pode estar escondido no ali no escuro).

A física era um dos fatores mais importantes do gameplay de The Dark Descent. Criar peso em plataformas e montar esconderijos com caixas era bem divertido e intuitivo, mesmo que o sistema eventualmente apresentasse algumas falhas. Por alguma razão, isso tudo foi retirado em A Machine for Pigs. O número de objetos que se pode pegar foi bastante reduzido, e os puzzles se resumem basicamente à encaixar peças em geradores ou ativar máquinas. A sensação que se tem é que o sistema de física está lá, mas mais como um enfeite do que como parte importante do jogo.

Porém, em um jogo de terror, temos que analisar o quanto o game assusta. Felizmente, aqui o trabalho é bem feito. É tenso andar pelos ambientes escuros e claustrofóbicos, e qualquer barulhinho faz os batimentos cardíacos de quem está jogando acelerar. Os principais monstros são os Manpigs, criaturas que são um misto entre humanos e porcos. Eles se comportam de maneira similar aos Servant Grunts do primeiro jogo: são rápidos e ágeis, mas não conseguem enxergar muito bem na escuridão. Passar de fininho por eles não será uma tarefa complicada para quem já jogou o primeiro Amnesia, mas os novos jogadores com certeza terão alguns problemas com eles. 


Infelizmente, dois fatores que contribuíam diretamente para o terror do jogo foram retirados. O lampião agora é elétrico e nunca vai apagar, ou seja, dá para usá-lo à vontade. Outro fator é o medidor de sanidade, que foi completamente retirado. Apesar de Oswald ser visivelmente mais forte e determinado que Daniel, ele ainda está em estado febril alto, então poderíamos esperar algumas alucinações. 

Todos esses fatores em conjunto nos fazem questionar o que a Frictional e a The Chinese Room estavam pensando quando fizeram o jogo. Muitos elementos importantes foram jogados fora como se não tivessem a menor importância, mas não houve a adição de mudanças significativas para compensá-las. E considerando o hype que o jogo trouxe para vários fãs, isso é bem decepcionante.

Escuro como todo o bom jogo de terror

O novo Amnesia repete o legado de seu antecessor na parte gráfica: os ambientes, em sua maioria, são escuros e apertados. Os cenários são ricos em detalhes e houve uma notável evolução na qualidade de algumas texturas. 

O áudio tem seus altos e baixos. Por um lado, a dublagem recebeu um cuidado muito especial. As vozes dos personagens não só são convincentes e expressam emoção, como também carregam aquele toque inglês do final da Era Vitoriana. Quem não entende inglês muito bem não terá maiores problemas, pois há a opção de se por legendas em português.


A trilha sonora foi composta por Jessica Curry, que também compôs as melodias de Dear Esther. Por um lado, elas são de fato bem compostas. Por outro, a maioria das canções soam genéricas demais, lembrando mais aqueles filmes de terror B do que um verdadeiro Amnesia.

Mudando para o melhor ou para o pior?

No fim, Amnesia: A Machine for Pigs não é um jogo ruim. O enredo é mais criativo e a experiência de jogar continua assustadora. Porém, é impossível se livrar da sensação de que, ao invés de um game inteiramente novo, se está jogando uma versão mais simplificada de The Dark Descent. O sistema de física foi mal aproveitado e os enigmas, antes interessantes e estimulantes, se tornaram simplórios ao extremo. Além disso, a experiência é curta e não há qualquer estímulo para jogar de novo.

Quem esperava um game minimamente tão bom quanto o primeiro vai se decepcionar. Porém, quem está apenas interessado em ver como ficou a continuação de um dos jogos mais assustadores de todos os tempos, ou quem procura um jogo de terror mais recente para se divertir, A Machine for Pigs é uma boa escolha.

Prós:

- Enredo criativo, com boa construção;
- Tenso e assustador;
- Melhorias gráficas significativas;
- Excelente dublagem.

Contras:

- Puzzles simples demais;
- Sistema de física mal aproveitado;
- Retirada de elementos importantes do primeiro jogo, sem compensações; 
- Trilha sonora na maioria das vezes soa genérica.

Amnesia: A Machine for Pigs – PC – Nota: 7,0

Revisão: Marcos Vargas Silveira 
Capa: Stefano Genachi

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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