Blast from the Past

Michael Jackson Moonwalker (MD): um clássico com dança, música e magia

Calce sua luva brilhosa e relembre o cultuado game do rei do pop em um dos trunfos da Sega para combater a popularidade do Mario


A briga pelo mercado de jogos eletrônicos foi dura e inesquecível durante toda a década de 1990, alimentada pela rivalidade entre Sega e Nintendo. Mario e Alex Kidd disputavam o título de mascote favorito da geração 8-bits, mas seria mesmo com a chegada dos novos consoles e o nascimento do Sonic que a briga iria esquentar de vez. Contudo, os planos da Sega eram grandiosos tendo em vista uma vitória sobre a poderosa Nintendo. Além do ultra-veloz Sonic, a companhia fechava um acordo com o maior mega star da época (e por que não dizer, de todos os tempos), o lendário, Michael Jackson.

Michael Jackson (only for Mega Drive).

A Magia do Rei do Pop nos Videogames

Reinventando a música, os videoclipes e os shows ao vivo, Michael Jackson reinou no cenário do entretenimento durante toda a década de 1980, vindo a se tornar um dos mais completos artistas do mundo, dominando o mercado musical com seus álbuns Thriller e Bad. Foi nos anos finais da década de 1980 que Michael Jackson adentraria no mundo do cinema, com seu primeiro filme/musical, Moonwalker, de 1988.

O filme tornava-se um sucesso imediato, levando milhares ao cinema e quebrando recordes de vendas de VHS. Foi então, em 1990, com um acordo milionário com a Sega, que o filme ganharia uma versão exclusiva para as suas plataformas. Michael Jackson's Moonwalker foi produzido para Arcades, Game Gear, Master System e Mega Drive. Todavia, foi no saudoso Mega que o game ganharia de vez um lugar nas prateleiras dos jogadores.

O lançamento do título fazia parte de uma estratégia ambiciosa da Sega em dominar o mercado de games. Propagandas em revistas e na TV passaram a ser frequentes durante o início da década de 1990, principalmente as que faziam pouco da Nintendo por não possuir certos games, e claro, o jogo do Michael Jackson. O astro pop, por sinal, foi um dos trunfos da Sega para combater a popularidade do Mario, e seu primeiro game fazia parte de um contrato polêmico, que ainda conta com uma das maiores lendas da história dos videogames, a participação de Michael Jackson na trilha de Sonic 3.


Lançado no auge da jacksonmania, não é de se estranhar o enorme sucesso do game na época. A imagem do ex-membro dos Jackson Five estava a níveis astronômicos, sendo considerado por algumas revistas especializadas da época como mais famoso do que o próprio Mickey. O álbum Thriller já era o disco mais vendido da história da música e a popularidade do cantor ainda não havia sofrido com as acusações de abuso sexual infantil, que só viriam a ocorrer três anos após o lançamento do game, por isso, controlar Michael Jackson num jogo baseado no seu único filme era algo estrondoso no inicio daquela geração.

Da telona para a telinha

Assim como o filme, Moonwalker é baseado numa história simples, onde o temível Mr. Big sequestra um grupo de crianças. No clássico estilo plataforma 2D, o rei do pop irá em busca de resgatar esses jovens das garras do vilão. Na versão para Arcade, existem três diferentes tipos de crianças, enquanto a versão para Mega Drive coloca apenas a loirinha Katie em apuros, ou melhor, várias delas, que encontram-se escondidas atrás de portas, moitas, pedras e outros esconderijos ao longo das fases. Alguma vezes, pensando resgatar as crianças, deparamo-nos com armadilhas e inimigos, prontos para detonar a majestade do pop.

É preciso resgatar as inúmeras crianças do cenário para poder seguir adiante.
Após salvar todas as crianças da fase, seu macaco de estimação, Bubbles, surge magicamente em seu ombro, apontando a direção do chefe daquele nível. Esses chefes vão de pequenos grupos de inimigos até outros mais resistentes e inteligentes. Com o inimigo final de cada fase derrotado, a última Katie do estágio é salva e passamos para um novo cenário.

Além de serem importantes para o desenrolar da trama, o resgate das crianças traz também um beneficio imediato, restaurando uma pequena parte da energia do cantor, que é por vezes abalada pelos inúmeros inimigos espalhados pelo cenário. O nível de energia do personagem também influencia diretamente em sua performance no palco, ou melhor, no cenário. Michael Jackson conta com vários tipos de ataque, baseados, claro, em suas habilidades como dançarino. Com direito aos principais movimentos e detalhes de figurino (Smooth Criminal), o Michael 16 bits executa toda a sua dança com a perfeição possível do sistema.

Depois do videoclipe de Thriller, não é difícil imaginar zumbis curtindo uma dança entre uma mordida e outra.
Uma das façanhas do Michael do Mega Drive é que quando utilizamos o golpe especial, todos os inimigos entram na dança, enfileirados, requebrando até não aquentar mais. Outra forma de vencê-los é descer as escadas com um movimento deslizante no corrimão, bem semelhante ao que ele faz no videoclipe de Smooth Criminal. O chute no ar e seu chapéu também são fortes armas contra o mal, mas nada se compara a sua magia, saída diretamente de sua luva reluzente, o rei do pop pode, num estalar de dedos, produzir um ataque mágico e, enquanto gira, sacudir seu chapéu, à la Kung Lao.

O rei e sua dança mágica e mortal.
Michael Jackson está lá, com praticamente todas as suas características marcantes. gritos, chutes, deslizamentos, paradinha na ponta do pé, chapéu e luva.

Mesmo com as limitações do sistema, a sua essência permaneceu.

Deslizando pelos bits do Mega Drive

Graficamente o jogo é simples, com cenários bem detalhados e personagens bem animados, mas nada que destaque o game de todos os outros lançados na mesma época, ficando, inclusive, abaixo do que foi produzido anos mais tarde pelo próprio Mega Drive. Contudo, é no movimento dos personagens, principalmente Jackson, que o jogo se destaca. Enquanto os protagonistas de games de plataforma possuem poucos movimentos, Michael Jackson em Moonwalker parece ter saído direto dos seus próprios clipes e shows. O seu balanço e gingado característico estão lá, as coreografias estão incrivelmente fiéis, trazendo o sentimento do filme para dentro do videogame.

Quando se pensa em Michael Jackson, logo nos vem à mente seus famosos passos, mas, suas músicas são tão eternas quanto seus movimentos. E é justamente aí que Moonwalker se destaca. A trilha sonora do jogo é composta pelos maiores sucessos do rei até então. “Smooth Criminal”, “Beat It”, “Another Part of Me”, “Billie Jean” e “Bad” embalam a aventura do início ao fim. Mesmo sem os vocais, o instrumental em midi empolga durante toda a jogatina, até os gritinhos do cantor estão presentes do jogo.

Nem toda a limitação sonora da geração foi capaz de diminuir a qualidade da sua obra musical.
A jogabilidade é boa, dentro dos padrões da época. Os controles eram fáceis e intuitivos, não comprometendo a ação do game, que for sinal, não é dos mais fáceis. Mesmo possuindo a opção de escolha de dificuldade, o jogo tem uma crescente de desafio bastante acentuada. Começando com poucas crianças a serem resgatas e inimigos fáceis de derrotar, até fases mais longas, cheias de crianças a serem salvas e completamente tomadas por inimigos e armadilhas difíceis de serem superadas sem dano. As fases finais do jogo podem trazer uma maior dificuldade para os menos experientes.

Os Cenários (Clipes) de Moonwalker

Club 30: À meia luz, em meio a um silêncio absoluto, a porta se abre com violência e um sujeito de terno branco surge inesperadamente, jogando uma moeda numa MusicBox, fazendo soar os acordes de uma frenezi canção. Esta é a cena inicial do game, tirada fielmente do filme, estamos dentro do Club 30, aquele mesmo que se passa o clipe de Smooth Criminal, com direito a enfrentar os gangsters e tudo mais. E é com o figurino do clássico videoclipe e ao som de umas das melhores canções do astro que iniciamos nossa aventura em Moonwalker.
Street: Saindo do Club 30, vamos para as ruas enfrentar os bandidos bailarinos do clipe de Beat it entre ruelas, esgotos, prédios e elevadores. E é justamente o melhor riff de guitarra do vasto repertório do rei do pop que embalam o combate contra traficantes e cachorros na fase da rua. Sim, você não leu errado, cachorros passam o tempo todo saltando, correndo e tentando arrancar um pedacinho do MJ, porém, quando o Michael dança, eles não resistem e caem no ritmo mortal do herói.
Floresta: Concluída nossa aventura pelas ruas sujas da fase anterior, somos mandados para uma floresta/cemitério repleta de lápides e zumbis. O homem do terno branco se move ao som da dançante Another part of me, trilha do filme 3D, Captain EO, produzido pela Disney no final da década de 1980. A tarefa de resgatar Katie começa a complicar neste mundo. Alguns zumbis surgem do chão aos montes e levam mais tempo para serem derrotados. O melhor destas fases é poder derrotar a horda de inimigos ao som de Thriller, ou seja, reproduziremos as coreografias do Michael Jackson com os zumbis em plena noite de terror.
Caverna: Zumbis, aranhas, soldados armados, armadilhas e várias entradas alternativas trazem o clima alucinante das fases na caverna. Aqui, somos brindados simplesmente com a maior de todas as músicas do rei do pop, Billie Jean. Ao som da batida pop dos anos de 1980, o jogador é testado numa espécie de labirinto, cheio de entradas e puzzles, sem falar nos malditos zumbis que não param de surgir. O jogo vai ficando complicado, principalmente se o jogador não tiver sucumbido à tentação de iniciar o game no easy. É com os passos de Bad que concluímos esse desafio na caverna e damos início à base inimiga.
Base inimiga: Chegando ao quartel general do Mr. Big, o jogador terá que enfrentar seus capangas armados com pistolas de laser, atirando para todos os lados. Por sorte, a canção Bad ecoa pelas paredes frias da base, confortando aqueles que terão suas habilidades postas em cheque neste mundo. Caso consiga vencer todos os soldados e resgatar Katie, entre lasers, teletransportes e raios de energia, o Michael magicamente se transforma em sua forma robô para enfrentar o chefe final.
Fase final: Sobe o controle do Michael robô, a batalha final contra Mr. Big é uma caçada estelar em primeira pessoa. Entre tiros e investidas de naves, é preciso acertar o chefão. Pode parecer simples, mas não é. Cada encostada de uma nave inimiga leva uma boa quantidade de energia, e o pior é que não temos mais a ajuda da Katie para renovar as esperanças. Contudo, com algumas tentativas é possível dominar o esquema de aparição dos inimigos e pegar o jeito da mira para acertar com mais eficiência o maldito vilão e, enfim, trazer paz para o mundo e para as crianças.
O jogo foi bem recebido pela crítica, oscilando boas notas, com críticas aos gráficos, mas, de forma geral, o game foi um tremendo sucesso. 

Um pequeno cintilar de magia

Por fim, Moonwalker é um pequeno, mais intenso vestígio da magia, da música e da dança do mais talentoso, famoso e polêmico artista que já colocou os pés neste planeta  A genialidade das suas canções é representada com fervor, seus movimentos e trejeitos estão fielmente presentes, como também a energia, brilhando e reluzindo num mundo onde sonhar é completamente possível. O jogo, mesmo com todas as limitações da geração 16 bits, é um marco na carreira do cantor e representa o período áureo entre os principais trabalhos da discografia do rei do pop.

Revisão: Alberto Canen
Capa: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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