Crônica

O dia em que eu resolvi dar uma chance ao Dance Dance Revolution

Não passava de mais uma tarde de verão. Se me recordo bem, um professor tinha faltado e minha turma foi liberada mais cedo do que de ... (por Ok em 08/02/2014, via GameBlast)


Não passava de mais uma tarde de verão. Se me recordo bem, um professor tinha faltado e minha turma foi liberada mais cedo do que de costume na escola. Acabei decidindo aproveitar o tempo livre com um amigo que morava na mesma direção que eu e ir ao fliperama com ele. 

O lugar estava vazio, é verdade, pois ainda era horário de aula, mas a atendente não hesitou em nos vender algumas fichas. Enquanto eu pensava em qual jogo escolheria, meu amigo me apresentou a um game que, até então, eu não conhecia. Seu nome era Pump it Up, um simulador de dança.

Espere, este artigo não era sobre Dance Dance Revolution? É verdade mas, para mim, tudo começou no concorrente, fabricado pela Andamiro.


Um jogo de ritmo?

Onde tudo começou.
Na época, com meus quatorze anos, eu tinha acabo de entrar para as aulas de piano, e ainda engatinhava nos ensinos de teoria musical. Mas logo percebi que aquele não era um game como outro qualquer, onde tudo o que fosse necessário seria apertar botões com os dedos.

Para começar, os botões eram apertados com os pés e, seguindo o ritmo da música, deveriam ser acionados no tempo certo. Logo comecei a imaginar as semelhanças entre as setas que apareciam na tela e uma partitura musical e... bem, não encontrei nenhuma, para falar a verdade.

Ainda assim, o ritmo estava lá. Tudo o que eu tinha acabo de aprender com nomes complicados como "semínima", "mínima" ou "colcheia" eram aplicados no game simplesmente com a distância entre os comandos e uma barra que ficava no topo da tela.

Mais tarde haveria o boom dos jogos musicais, e o mundo seria apresentado a games como Guitar Hero, Rock Band e Just Dance, mas um que esteve sempre ali, batalhando lado a lado com a Pump foi a DDR, sigla de Dance Dance Revolution.

Matando baratas

No início era uma Premiere.
Hoje já temos uma NX.
Não demorou para que eu, incentivado por meu amigo, mergulhasse de cabeça no universo de Pump it Up. O game era incrivelmente divertido, bastando um pouco de coordenação motora e resistência física para ver sua pontuação subir e, o mais importante, ficava a poucos metros tanto da minha escola quanto do trabalho da minha mãe.

Foi só quando descobri que uma versão mais recente do mesmo game estava disponível no bairro central de minha cidade, que comecei a pegar novos ares e, em uma dessas idas ao fliperama de lá, acabei descobrindo, em um shopping a dois quarteirões, um simulador chamado Dance Dance Revolution.

Quando perguntei ao meu amigo se ele conhecia tal simulador, ele me respondeu que sim, mas que Pump era muito melhor, por ter quatro direções diagonais e um botão no centro, permitindo uma mobilidade maior ao jogador, enquanto que no DDR o gamer precisava apenas ficar no meio "matando baratas", para utilizar as palavras dele.

"O que é isso?", eu perguntei.

Estava formado, ali, um preconceito meu que duraria anos a fio, até que eu finalmente desse uma chance ao simulador da Konami, e descobrisse o quanto meu amigo estava errado.

No fliperama e em casa

Na época em que descobri Pump it Up meu vício foi tamanho que eu não conseguia parar de pensar naquilo. Vendia cartas e mais cartas de Pokémon TCG para arrecadar dinheiro para mais fichas, estava sempre por perto dos demais jogadores, incentivava meus amigos a começarem a jogar também e, claro, ficava maluco quando encontrava uma nova forma de jogar.

Foi assim que descobri os simuladores para PC, desenhados para se jogar no teclado utilizando os dedos. Uma volta às origens, alguns diriam, mas ainda assim algo muito divertido. Comecei a testar o Kick it Up e não demorei a descobrir outras opções, como a Pump PC e o tal Stepmania. Por muito tempo o meu favorito foi o KIU, mas as novas versões de Stepmania acabaram me encantando.

Todas as músicas do fliperama no PC.

Por mais que eu tentasse evitar, volta e meia eu me deparava com as famigeradas setas verticais e horizontais da DDR, fosse por entrar em um site errado ou simplesmente por, sem querer, configurar o simulador para o modo "dance", ao invés do "pump". Em todo esse tempo, no entanto, continuei seguindo minha jornada à procura da Pump perfeita.

Fliperama em casa

Perfeito, porém caro demais.
Foi quando eu descobri os pads caseiros, feitos unicamente para conectar no PC e ter a experiência do fliperama na sua casa. Oras, se na loja eu era obrigado a gastar dinheiro com fichas que me davam apenas alguns minutos de jogo, com um desses pads eu poderia jogar infinitamente. Este foi um sonho que nutri durante muito tempo.

Passei horas pesquisando maneiras de construir um pad caseiro, mais algumas buscando pessoas que vendessem o artigo pronto, e ainda outras tentando encontrar um tapete no formato que eu queria. Tudo em vão, pois a construção era difícil e exigia habilidades de carpintaria e eletrônica, os pads prontos eram caros demais, e os tapetes eu só achava no padrão DDR.

Até que, finalmente, encontrei aquilo que por tanto tempo procurei: um tapete de Pump it Up lançado como um bundle para PlayStation 2, junto com a versão Exceed SE do simulador. Simples, acessível e, com a ajuda de um conversor USB, funcional. Ou era o que eu pensava pois, por mais que o tapete funcionasse perfeitamente no console da Sony, alguma coisa o impedia de funcionar com um adaptador, e olhe que eu tentei com vários diferentes.

Sonho realizado? Quase.
Isso aconteceu em uma época em que o Wii U estava prestes a ser lançado, e comprar um PS2 só para poder jogar com o tapete da Pump não era realmente a minha pretensão. Acabei desistindo do tapete, mas aquilo não saiu da minha cabeça com tanta facilidade, e continuei procurando. Afinal, a Exceed SE também havia sido lançada para PC. Mas por que tudo o que eu encontrava eram tapetes de DDR?

Seria aquilo algum sinal? Estaria eu, depois de todo esse tempo, pronto para dar uma chance ao Dance Dance Revolution?

Sim, nós podemos

Meu novo companheiro.
Comprei um tapete USB no formato da DDR. Oras, se era possível configurar o Stepmania para rodar as músicas da Pump com o padrão das quatro setas, eu não perderia muito, certo? Afinal, eu ainda estaria jogando os clássicos com os quais cresci, apenas de uma maneira diferente.

Assim que pluguei o tapete em meu notebook e o mesmo na TV, vi que, no final, as diferenças poderiam valer a pena. Minha então companheira não se empolgou tanto, mas eu descobri que o DDR poderia, sim, ser tão divertido ou ainda mais do que Pump, se eu desse uma chance ao jogo.

Sem o incentivo da minha player 2, no entanto, acabei deixando o tapete de lado, e o guardei de volta na caixa, para nunca mais sair. E ali ele ficou por um bom tempo mas, caro leitor, nossa história ainda não acabou.

A volta dos que não foram

"Ei! Lembra de mim?"
De lá para cá muita coisa aconteceu: separei-me de minha companheira, voltei para a casa de minha mãe, fui buscar as minhas coisas em uma tarde de dezembro, e qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma caixa de papelão na qual se podia ler "Dance mat". Eu já não me lembrava mais do tapete, mas ali estava ele, ansiosamente aguardando para sair da caixa.

Alguns dias se passaram e ele estava só olhando para mim. Até que, sozinho em casa, decidi que era hora de dar uma chance ao pobrezinho. 

Uma vez fora da caixa, tive, primeiro, que tentar desamassá-lo. Depois, foi só conectá-lo ao PC e torcer para que tudo estivesse ok. 

Sim, estava tudo certo, e eu tinha o Painel de Controle para me comprovar isso. Após uma breve configuração, lancei o Stepmania e comecei a dar os primeiros passos. 

Diferenças

Uma hora depois, eu ainda estava jogando, e me divertindo tanto que mal vi a hora passar. Logo de cara já percebi as primeiras diferenças entre Pump e DDR.

Além do óbvio, as setas que aparecem na tela não são coloridas uniformemente de acordo com o pad, mas recebem uma coloração específica de acordo com o tempo em que serão executadas (vermelhas para setas no tempo, azuis para setas no contratempo, entre outras), dando uma cara mais musical ao game. Também percebi que, diferentemente do que eu havia crido por todo aquele tempo, o jogo não permitia que o gamer ficasse o tempo todo no centro, mas exigia uma mobilidade, algumas vezes, ainda maior do que a exigida pelo concorrente.

Para finalizar, algo que eu não pude deixar de reparar é que, por mais que o Stepmania permita utilizar as músicas de Pump no padrão DDR, os passos parecem melhor construídos quando utilizados na forma original. É bem verdade que os passos de muitas músicas originais de Pump não são lá muito "dançáveis", mas a conversão, algumas vezes, chega a atrapalhar.

A partir desse dia eu nunca mais parei de jogar, e continuo, a cada dia, descobrindo novas e divertidas maneiras de fazê-lo. Com um repertório sempre crescente de músicas, cada uma com diversas dificuldades a serem exploradas, meu rumo é aproveitar as horas vagas para balançar o esqueleto da frente do PC. No final, o Dance Dance Revolution realmente mereceu sua chance. Agora, essa foi a minha experiência. E você, leitor? Qual é a sua experiência com jogos rítmicos? Não deixe de comentar e ajude a complementar este artigo.

Agradecimentos

  • Ao amigo "barata", que me apresentou ao mundo dos jogos musicais;
  • Ao cara que me vendeu o tapete, muito embora eu nem ao menos saiba o seu nome;
  • À vizinha de baixo, que atura, sem reclamar, as pisadas e pulos constantes sobre sua cabeça;
  • À minha mãe, que, pacientemente, faz qualquer coisa que não observar enquanto eu estou jogando;
  • Ao menino de Dracena, pela consultoria;
  • A você, que leu tudo isso e ainda vai comentar.
Revisão: Jaime Ninice
Capa: Vitor Nascimento

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


  1. Excelente materia, Thiago!
    Estou à procura do "tapete" perfeito, pois os que usei até agora foram todos de qualidade medíocre. Poderia indicar onde comprou o seu ou algum lugar digno? rs
    Sucesso!

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