Jogamos

Análise: Mega Man X Legacy Collection (Multi) junta o melhor de toda a carreira do robozinho azul

Coletânea traz os quatro primeiros jogos que exploraram o que há de melhor na franquia.


Quando Mega Man Legacy Collection (Multi) foi anunciado, a primeira coisa que eu pensei foi em como a Capcom precisava fazer uma coletânea para Mega Man X também. A série clássica de Mega Man pode ter estabelecido as bases para toda a franquia e até carrega um apelo nostálgico maior, mas Mega Man X é o ápice em game design, narrativa e carisma que a franquia já alcançou.

Logo, quando Mega Man X Legacy Collection (Multi) foi confirmado, pode acreditar que minhas expectativas estavam lá no alto. Fico feliz em dizer que o jogo não me desapontou nem um pouco e a Capcom conseguiu se superar juntando os maiores games da franquia com um conteúdo extra de qualidade que é só a cereja do bolo.

Que comece a caçada

Essa primeira parte da coletânea junta em um só pacote Mega Man X (SNES), Mega Man X2 (SNES), Mega Man X3 (SNES) e Mega Man X4 (PS1/Sega Saturn). Os jogos permanecem em sua maior parte intocados, exatamente como eram há quase 25 anos atrás, mas a coletânea faz questão de trazer novas adições para agradar aos mais variados públicos.

Como a maioria esmagadora dos games de sua época, todos são consideravelmente difíceis e não tão amigáveis a jogadores que nunca tocaram num jogo retrô. Sabendo disso, a Capcom trouxe um novo modo chamado Rookie Hunter Mode. Essa opção pode ser ligada ou desligada a qualquer momento e reduz consideravelmente o dano de qualquer ataque recebido. Em Mega Man X4, cair num abismo também deixa de resultar em morte instantânea e ao começar uma nova campanha você iniciará com o máximo de vidas (9).



Mesmo que a adição tenha a melhor das intenções de deixar o jogo mais acessível a jogadores de todos os níveis de habilidade, este novo modo torna as coisas tão mais fáceis que chega a ser tedioso. A maioria dos golpes tira tão pouca vida que não faz nem cócegas a sua barra de energia. Mais opções de dificuldade para tornar o jogo menos desafiador, mas ainda divertido fazem falta. Acabamos recebendo na versão final uma simples escolha entre curtir a história ou os desafios do jogo.

Uma base sólida

Engraçado, porque se você parar para analisar a estrutura dos jogos originais, essa adição nem é assim tão necessária, principalmente quando falamos de Mega Man X. O salto de geração permitiu aos desenvolvedores trazerem conteúdo ao invés de dificuldade, diferente da série clássica.

Mega Man X, ou apenas X, tinha acesso a uma quantidade considerável de movimentos, ampliando as opções do jogador na hora da ação. Todas as fases, com exceção do clímax, estão abertas desde o começo para que o jogador escolha a ordem que preferir. Existe uma ordem que torna as coisas mais fácil, obtendo sempre uma habilidade que será útil contra o chefe da próxima fase, mas essencialmente você pode escolher a que mais lhe agrada. Há também melhorias escondidas em todas as fases do jogo, adicionando um elemento de progressão bem simples inspirado no sucesso dos RPGs da época.


Alguns chefes vão te dar mais trabalho do que outros, mas isso é normal. Se você tiver muita dificuldade, não precisa ficar insistindo pra sempre. Às vezes é melhor sair da fase e se preparar melhor para a batalha. Conseguindo pedaços de armadura em outras fases e alguns Heart Tanks ou Energy Tanks você fica preparado para qualquer desafio. Essa é uma das sensações favoritas em Mega Man X. Você perde de lavada para um boss fortão, sai para treinar e quando volta ele já não é mais tão difícil assim. É um dos jogos que me trazem uma das sensações de progressão mais gratificantes até hoje.

Qualidade e nostalgia 

Essa jogabilidade simples, mas refinada, é a base para todos os jogos da coletânea. É introduzida em Mega Man X e aperfeiçoada nas sequências. O primeiro jogo é o ponto de entrada perfeito para qualquer novato, pois ele te ensina o básico para se dar bem no game de maneira muito intuitiva sem quebrar a imersão. O design dos níveis, e do  mundo em si, também é um dos melhores da série até hoje. Derrotar uma fase pode impactar drasticamente em outra e tudo no jogo parece estar em constante evolução.

Mega Man X2 faz tudo que uma boa continuação deveria fazer e se mostra uma sólida adição a série. A história do jogo é uma consequência direta e natural dos eventos do primeiro game e ainda prepara as coisas para os games que estão por vir. A introdução de três novos vilões opcionais que te enfrentam entre as fases também ajuda a dinamizar o ritmo do jogo e da história. Os novos power-ups de X são interessantes e os mapas te levam a lugares pouco explorados em videogames. No geral, um ótimo título.

O melhor e o pior

Um assunto mais delicado é Mega Man X3. Antes de mais nada quero ressaltar que de maneira nenhuma este é um jogo ruim. Ele aplica a fórmula do primeiro Mega Man X de maneira muito eficiente e isso por si só já ajuda. O problema é o que ele traz de novo para a franquia.

Este jogo te promete tudo o que você sempre pediu e até te entrega, mas não do jeito que você queria. Temos finalmente Zero jogável, mas como uma sombra de X e temos mais mechas, liberados plenamente na última fase. Temos também coisas boas, apesar dos demais problemas: Mega Man X3 tem os melhores power-ups da franquia. Temos aqui ioiôs cortantes, mísseis de gelo e um triângulo elétrico destruidor. Ainda assim, nem o level design nesse jogo presta. As fases tem pouquíssimos inimigos únicos, reutilizando a maioria deles. Infelizmente, este é apenas um Mega Man X medíocre com bastante potencial desperdiçado.



Por outro lado, Mega Man X4 se impõe como o melhor título de toda série, com sua comovente história e gameplay evoluído. Dessa vez finalmente temos o Zero que a gente sempre quis, com sua jogabilidade própria toda baseada em seu sabre. Derrotar inimigos não libera uma nova arma selecionável, mas sim uma habilidade que pode ser utilizada a qualquer momento.

Jogar com Zero traz uma liberdade imensa ao jogador, mesmo tornando o jogo mais difícil. Essa liberdade reflete diretamente na movimentação entre as fases que estão maiores que nunca. Você pode estar andando tranquilamente em um vulcão com seu mecha, quando de repente se depara com o chefe da fase. É imprevisível e torna a experiência ainda mais eletrizante.

Também dá para jogar com o X nesse jogo, mas francamente até na história o Zero é infinitamente melhor. Os Reploids, uma força paramilitar composta apenas de robôs, foram incriminados pelo Sigma, vilão principal da série, e agora são caçados por Zero e sua equipe. Ao longo do jogo você derrota chefes que, em sua maioria, são apenas robôs como você que estão sendo perseguidos por um crime que não cometeram. Alguns são inclusive amigos de Zero, o que leva a alguns momentos tocantes. Mega Man X4 mostra os perigos de seguir ordens cegamente. Quando você começa a fazer as perguntas certas, pode ser tarde demais.

Serviço pros fãs

Claro que a coletânea não estaria completa sem aquele fan service especial. Para complementar os jogos, a Capcom separou uma galeria repleta de artes promocionais da série, além de todas as músicas, medalhas e mais. Tem uma quantidade considerável de conteúdo para agradar os fãs mais hardcore.

Quem se interessou pela história do jogo pode também conferir o curta The Day of Sigma, que conta os eventos que levaram ao primeiro Mega Man X. A animação é ótima, mesmo que contradizendo alguns eventos de jogos posteriores, mas mostra todo o potencial não explorado da série no ramo de animações. Um anime de Mega Man X é o que o povo precisa para celebrar os 30 anos de Mega Man feliz.


Enquanto o anime não chega, dá para comemorar toda a história da franquia com o X Challenge. O modo inédito é um grande boss rush com diversas duplas de chefe misturando vilões de quase todos os jogos da série. Já pensou que cansativo enfrentar Vile Mk-2 de Mega Man X3 e High Max de Mega Man X6? Agora você pode. São 36 fases juntando os chefes mais icônicos e as combinações escolhidas se complementam para criar o desafio perfeito. Realmente um jeito incrível de celebrar o que há de melhor nesses 25 anos de Mega Man X.

Prós

  • Mega Man X4;
  • Coletânea junta os melhores jogos da franquia;
  • Gráficos pixelados envelheceram muito bem;
  • Conquistas ajudam a explorar tudo que há de melhor em cada jogo;
  • X Challenge é divertido e os chefes formam pares complementares;
  • Artes, músicas e todo conteúdo extra é muito bem curado e traz um presente incrível para os fãs mais hardcore.

Contras

  • Jogos praticamente intactos, com direito a queda de frame rate e outros problemas dos jogos originais;
  • Ausência de opções mais variadas de dificuldade faz falta;
  • Grande parte das combinações do X Challenge se repete entre as coletâneas.

Mega Man X Legacy Collection — Switch/PS4/XBO/PC — Nota: 8.5

Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Link Beoulve
Análise produzida com cópia digital cedida pela Capcom


Gabriel Mattos estuda Ciência da Computação e procura sempre estar em equilíbrio com a Força. Pode ser encontrado por aí especulando sobre os próximos lançamentos da Nintendo e da Playstation na GameBlast e no Twitter.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


Disqus
Facebook
Google