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Análise: Darkest Dungeon: The Color of Madness (PC) — enfrentando criaturas de outra dimensão

A segunda expansão de conteúdo do RPG tem como foco o sistema de combate.


Estresse e tensão são palavras que descrevem a experiência de Darkest Dungeon, RPG e dungeon crawler que apresenta mecânicas focadas no estado mental dos heróis. O jogo é bem difícil, com várias situações complicadas capazes de tirar a paciência e a calma de alguns jogadores — e é justamente isso o que o torna tão divertido. The Color of Madness, a segunda expansão do título, oferece uma experiência diferenciada por se concentrar nos combates por turnos. A alteração na dinâmica traz possibilidades interessantes, sem deixar de lado os conceitos principais de Darkest Dungeon.

A fazenda infectada pela cor de outro mundo

Um cometa caiu em uma fazenda e aqueles que testemunharam o fato foram profundamente afetados: cristais de azul neon surgiram em seus corpos, e suas mentes foram tomadas pela loucura. Depois de relatos de vozes grotescas ecoando pela noite, o administrador da vila decide mandar um grupo de heróis para investigar o ocorrido. Chegando lá, os guerreiros descobrem que algo muito estranho está em ação, algo alienígena capaz de alterar o tempo e o espaço — mas há, também, vários artefatos valiosos. O objetivo, então, é explorar o estranho lugar em busca da origem do problema.

A principal novidade de The Color of Madness é uma região chamada de The Farmstead, que apresenta regras bem diferentes em relação aos outros locais do jogo. As missões nessa fazenda distorcida consistem em batalhas nas quais ondas de inimigos aparecem constantemente — não há exploração de calabouços lá. O local conta com novos monstros e chefes, mas as alterações no tempo e espaço introduzem elementos aleatórios, como criaturas de outras áreas do jogo e situações especiais que alteram características dos combates.

Existem três variedades de missões. Na mais básica, precisamos derrotar 20 inimigos. A versão intermediária exige derrotar um chefe. A missão mais avançada consiste em um modo Endless, ou seja, enfrentamos ondas infinitas de inimigos — quanto mais você sobrevive, melhores são as recompensas. O modo Endless registra quantos inimigos foram derrotados em uma partida, o que permite comparar o desempenho com outros jogadores.

Na vila, muitos estão interessados em pedaços do cometa, o que significa itens inéditos. O vendedor de equipamentos conta com uma nova seleção de objetos poderosos que só podem ser adquiridos por meio de Comet Shards (lascas do cometa). As lascas de outro mundo também podem ser utilizadas na construção de novos distritos, que provêm alguns bônus passivos permanentes muito interessantes. Por fim, heróis poderosos aparecem com o propósito de explorar a fazenda distorcida.

Uma série de combates imprevisíveis

The Color of Madness é uma expansão curiosa por oferecer uma experiência bem diferente do resto do jogo.

A região The Farmstead, por ser focada em combate, exige estratégias diferentes para ser explorada. Mais do que nunca, é extremamente importante montar uma composição de grupo sólida para sobreviver aos perigos por vários motivos. O primeiro deles é que não há descanso entre a maior parte das batalhas, ou seja, não é possível recuperar heróis feridos ou reorganizar a formação com facilidade. Não ficar atento a esses detalhes pode resultar em derrota.

Também devemos levar em conta os elementos aleatórios, pois eles forçam alterações de estratégia. Em uma incursão, por exemplo, acabei encontrando um grupo de inimigos com resistência a veneno, e os ataques dos meus heróis focavam justamente nisso — fui completamente destruído. Já em outro momento, fui surpreendido quando um chefe apareceu do nada. Para piorar, os inimigos da nova facção se transformam durante o combate e até mesmo inofensivos cadáveres podem ser fatais ao se tornarem cristais explosivos. Estratégia, preparação e adaptabilidade são mais importantes que nunca.


Um detalhe que apreciei bastante é a acessibilidade da região The Farmstead. Ao contrário de outras áreas do jogo, não há penalidade ao abandonar a missão. Outro detalhe interessante é que os personagens derrotados ali não morrem de fato: eles se perdem no “tempo e espaço” e retornam à vila depois de algumas semanas no tempo do jogo. Por causa dessas características, a nova área é perfeita para experimentar formações e classes sem muito medo — em Darkest Dungeon não tem nada pior do que perder um herói que você dedicou inúmeras horas para treinar. No entanto, a experiência ainda continua tensa por causa das inúmeras situações complicadas durante os combates e pela presença de inimigos implacáveis e poderosos.

Por fim, The Color of Madness, ao contrário da expansão anterior, The Crimson Court, altera pouco o jogo base: somente adiciona um chefe que aparece aleatoriamente nas outras regiões.


A beleza e a loucura vindas do espaço

Darkest Dungeon sempre chamou a atenção com seu visual sombrio e com suas ilustrações marcantes, e o mesmo se repete em The Color of Madness. Um azul vibrante foi a cor escolhida para representar algo de outro mundo, em um tom que não destoa da direção de arte geral do jogo. Os inimigos contam com estranhos pedaços de cristais brotando de seus corpos, iluminação macabra e muito azul — eles realmente parecem infectados por algo estranho. Já as ilustrações dos cenários apresentam estruturas flutuando ao acaso, sugerindo mudança de gravidade. O resultado de todas essas escolhas evoca algo bizarro e de fato alienígena, dando identidade única à área da expansão.
A ambientação de Darkest Dungeon tem como inspiração os trabalhos de H. P. Lovecraft, conhecido pela literatura de horror cósmico. The Color of Madness vai além e parece ser baseado em um conto específico, “A cor que caiu do espaço”, de 1927. Nessa história, uma vila próxima a Arkham experimenta o horror quando um meteoro cai em uma fazenda e traz consigo uma estranha aberração cromática que afeta a flora e a fauna da região, criando um descampado cinzento estéril. A expansão tem premissa bem parecida, sendo a principal diferença a mutação dos habitantes da região.
The Color of Madness tem mecânicas diferenciadas e ambientação impecável, porém um detalhe do jogo persiste: a presença de grind. A região The Farmstead é menos punitiva, porém as recompensas são bem caras: os novos itens custam uma grande quantidade de Comet Shards, e recebemos poucos deles ao completar as missões. Sendo assim, para conseguir os poderosos equipamentos ou construir os distritos inéditos, é necessário explorar inúmeras vezes a nova área. As missões têm elementos aleatórios, porém é difícil não sentir a repetição após algumas partidas.


Uma aposta acertada

Darkest Dungeon: The Color of Madness é uma expansão interessante por introduzir novas mecânicas ao título. Enfrentar inúmeras ondas de inimigos exige estratégia e adaptabilidade, afinal não há tempo nem para recuperar os aliados. O modo Endless, em especial, é muito divertido por trazer um aspecto competitivo. A ambientação também é acertada com uma região bizarra e inimigos grotescos — o azul neon reforça a sensação de algo do outro mundo. As recompensas por explorar a nova área são equipamentos poderosos, entretanto o alto custo deles exige grind. The Color of Madness explora certas características do jogo de forma diferenciada e é justamente isso que a faz ser  divertida.

Prós

  • Novo calabouço que apresenta mecânicas diferenciadas focadas no combate;
  • Conteúdo acessível que permite experimentação sem muitas penalidades;
  • Ótimos ambientação e visual, principalmente a interpretação de forças de outro mundo.

Contras

  • Conseguir os novos itens exige muito grind.
Darkest Dungeon: The Color of Madness — PC— Nota: 8.0
Revisão: Alberto Canen
Análise produzida com cópia digital cedida pela Red Hook Studios

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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