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Análise: The Swords of Ditto (PC/PS4) traz uma cativante aventura com ares de desenho animado

Crianças exploram uma ilha recheada de desafios nesse indie visualmente atraente e com mecânicas de RPG e roguelike.


The Swords of Ditto parece ter saído diretamente de um canal de desenhos animados com seu convidativo visual colorido e personagens graciosos. O jogo nos coloca no papel de crianças encarregadas de enfrentar uma feiticeira a fim de proteger uma ilha da escuridão em uma aventura com muita exploração, combates em tempo real e puzzles. Com pitadas de roguelike e ótimo uso de mecânicas consagradas, o título conquista com aventuras divertidas, multiplayer cooperativo e mundo carismático.

Enfrentando repetidamente um mal ancestral

Por conta de uma maldição, uma feiticeira maligna Mormo assola a ilha de Ditto a cada 100 anos. Para enfrentá-la, uma das crianças do local se transforma em “A Espada de Ditto”, um guerreiro lendário com a tarefa de impedir Mormo. Sendo assim, o herói, que pode ser um humano, lobo, robô ou outra criatura, tem quatro dias para explorar a ilha a fim de encontrar equipamentos e destruir cristais que fortalecem a feiticeira. O mais curioso é que a história da ilha de Ditto continua e após 100 anos Mormo aparece novamente — ter sido vitorioso traz prosperidade à ilha, mas ao ser derrotado a ruína aparece e monstros correm soltos.

É impossível não lembrar da série The Legend of Zelda ao jogar The Swords of Ditto. A câmera aérea e a estrutura básica é muito similar: os heróis exploram um vasto mundo repleto de segredos e calabouços, com direito a equipamentos que permitem acessar certas áreas. Para derrotar os inimigos, os personagens atacam principalmente com a espada da lenda em sequências de golpes rápidos, com um movimento de rolar como esquiva. Adesivos especiais melhoram características dos heróis e liberam novas técnicas, como um ataque giratório. A aventura também pode ser aproveitada com a ajuda de um amigo no multiplayer local para dois jogadores.


Uma das minhas características preferidas do título é sua temática e ambientação. The Swords of Ditto tem um visual com traço que lembra bastante um desenho animado, resultando em um mundo agradável e carismático. Gostei bastante do foco nos mais jovens: crianças são os heróis, logo todas as características do jogo revolvem em torno disso. Um exemplo são os equipamentos que, basicamente, são brinquedos curiosos — um disco de vinil que funciona como frisbee, um capacete de super herói japonês capaz de tornar o herói imenso por alguns segundos, um gigantesco pé que ataca das alturas, uma bola de boliche cujo dano aumenta de acordo com o número de inimigos acertados. A customização de atributos é feita por adesivos e me lembrei da época em que eu colava figurinhas nas minhas coisas para deixá-las únicas.

O mundo é convidativo com a abundância de cores e personagens divertidos. Ditto é lar de criaturas exóticas, como um polvo louco por figurinhas, um pinguim com tapa-olho, e até mesmo uma pessoa fanática pela feiticeira (adorei o fato dele sempre terminar sua fala com “Que Mormo escureça o seu dia!”). Além disso, o título conta com ótima localização para o Português Brasileiro. Esses detalhes fizeram com que a jornada pela ilha fosse bem prazerosa e capaz de agradar pessoas de diferentes faixas etárias.


Legado e aventuras diferentes

Mecanicamente, The Swords of Ditto conta com várias características que o diferenciam, sendo uma delas o limite de tempo: temos somente quatro dias no tempo da ilha para fortalecer o herói e enfrentar Mormo. Sendo assim, é imprescindível planejar os movimentos e utilizar bem o tempo disponível. Durante minhas partidas, tive alguns dilemas: explorar aquela área remota em busca de armas poderosas ou correr para os calabouços para tentar enfraquecer Mormo? Ajudar um habitante ou juntar dinheiro para comprar itens? Há um recurso que permite estender um pouco o prazo, permitindo um pouco mais de flexibilidade. Cada aventura pode durar entre duas e cinco horas de acordo com a experiência do jogador e com a vontade de explorar.

E recomendo bastante explorar todos os cantos, pois The Swords of Ditto pode ser bem difícil. No começo pode parecer bem simples, afinal enfrentamos um ou outro inimigo isoladamente. Porém, rapidamente, as coisas ficam bem complicadas, principalmente quando monstros atacam em grupo. O motivo disso é que cada oponente exige uma estratégia distinta para ser derrotado, sendo imprescindível estratégia ao enfrentar vários tipos diferentes. Por causa disso, morri bastante antes de finalmente conseguir derrotar Mormo pela primeira vez. De qualquer maneira, há a possibilidade de jogar cooperativamente com um amigo ou até mesmo diminuir (ou aumentar) a dificuldade.


Um detalhe que afeta a dificuldade é a presença de elementos gerados proceduralmente. O objetivo é sempre o mesmo, mas os detalhes e calabouços mudam a cada aventura. Em uma partida, por exemplo, consegui um taco de golfe capaz de atordoar inimigos; em outra a dificuldade foi navegar por barreiras espalhadas pelo mundo; uma terceira aventura tinha calabouços repletos de restrições. É um conceito muito utilizado em roguelikes com a promessa de variedade e funciona até certo ponto aqui. O motivo disso vem do fato de que os mapas, em sua essência, são muito parecidos e o andamento muda muito pouco entre as partidas. Há, também, pequena variedade de puzzles e mapas, tornando a experiência um pouco repetitiva depois de algumas horas. Seria legal, por exemplo, ter objetivos alternativos mais significativos ou mapas drasticamente diferentes entre as partidas.

Histórias interligadas e legado dos heróis são promessas de The Sword of Ditto. É um conceito ambicioso que o jogo implementa de maneira muito tímida. A ideia é que as ações de uma partida influenciam aventuras posteriores — de fato isso acontece, mas os impactos são pequenos e, em sua maioria, somente visuais. Ao vencer Mormo, o herói é eternizado na forma de uma estátua e o mundo da próxima aventura é mais verde e próspero. Já ao morrer, a ilha recebe uma aura sombria, monstros aparecem com mais frequência e a cidade está quase em ruínas. Pouca coisa é transmitida para as partidas futuras: o nível da espada, o dinheiro (em algumas situações) e pequenas ações feitas pelo mundo. Há sim sensação de progressão entre as partidas, mas ela é pequena.


Exploração cativante

Me diverti bastante com The Swords of Ditto, mesmo com seus problemas. Me incomodou o fato de que o núcleo das mecânicas seja um pouco sem identidade, porém a experiência proporcionada pela combinação das características, no geral, é bem agradável.

Explorar a ilha em busca de adesivos e outros itens a fim de derrotar Mormo é bem prazeroso, e há uma leve sensação de novidade ao começar uma nova aventura. Gostei bastante de explorar as possibilidades ao montar meus personagens por meio dos adesivos especiais. Um dos meus heróis mais fortes tinha um io-io flamejante, um taco capaz de cristalizar inimigos e deixava uma gosma tóxica ao rolar — Mormo não teve chance contra um herói tão versátil. Fiquei obcecado em explorar todas as cavernas possíveis em busca de melhorias para o meu personagem (e cada aventura sempre tem um bocado delas para visitar).


Os puzzles são um pouco simples, contudo apresentam ideias interessantes. Em um calabouço futurista, por exemplo, um cristal mudava o estado de barreiras e objetos, sendo necessário manipulá-lo com cuidado para avançar. Já uma das minhas situações favoritas envolvia levar uma bola de golfe por salas repletas de obstáculos e perigos. Senti que é o tipo de desafio capaz de agradar jogadores de variadas idades, inclusive os mais jovens.

Derrotar Mormo é só o primeiro passo, pois há mais o que fazer no jogo. Conforme fui experimentando novos heróis, percebi que existem vários segredos que afetam a aventura permanentemente — alguns deles eu só descobri com várias horas de jogo e muitas partidas. Detalhes da história (que é mais complexa do que aparenta) e um verdadeiro final só podem ser obtidos ao executar certos passos por várias aventuras. Não é nada muito drástico, mas é um bom incentivo para continuar jogando.


É divertido brincar de herói

The Swords of Ditto me conquistou com seu universo com atmosfera de desenho animado. Gostei muito de explorar a ilha em uma aventura recheada de puzzles, segredos, lugares para visitar e habitantes carismáticos. A combinação de características me trouxe a sensação de estar jogando um Zelda miniatura ágil e com desafio razoável, com direito a multiplayer local para dois jogadores. Os aspectos de roguelike ajudam a diferenciar as partidas, porém é inevitável sentir um pouco de repetição após algumas jornadas, afinal a variedade de mapas não é das maiores. The Swords of Ditto pode não trazer nada de completamente novo, mas não deixa de ser uma experiência divertida e sólida.

Prós

  • Boa interpretação de aventuras e mecânicas consagradas;
  • Conceitos de roguelikes trazem partidas levemente diferentes;
  • Mundo que se altera de acordo com as ações anteriores;
  • Ambientação cartoon divertida e agradável.

Contras

  • Pouca variedade de situações entre as partidas;
  • Mecânicas principais de jogo sem muita identidade.
The Swords of Ditto — PC/PS4 — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela Devolver Digital

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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