Perfil

Segata Sanshiro: o ermitão solitário que dedicou sua vida ao caminho dos games

Joguem! Joguem até que seus dedos se quebrem!


Enquanto a Sega, no ocidente, caía de cabeça em uma estratégia de marketing pesada ao se promover através de sua disputa contra a Nintendo, o lançamento do Saturn no Japão acabou assumindo outros rumos. Surgia o personagem de Segata Sanshiro, o mestre lutador que punia aqueles que não seguiam o caminho gamer, a lenda que nos fazia entender que deveríamos jogar o Sega Saturn.

Jogue o Sega Saturn! 

Sanshiro é um mestre ermitão, aquele que, por definição, abdica sua vivência em sociedade, bem como os prazeres mundanos humanos. Seu treinamento baseia-se em exercícios diários temáticos do Sega Saturn, como treinar a agilidade de seus socos poderosos nos botões de um controle ou carregar montanha acima uma versão gigante do console Saturn em suas costas.


Os poderes de Sanshiro são praticamente ilimitados, com graduações em faixa preta de artes marciais como Judô, Karatê e Battōjutsu, uma especialidade da arte samurai do manejo de espadas, mas que se foca no desembainhar rápido da espada já no intuito de causar dano. Outras de suas habilidades incluem correr descalço em alta velocidade no gelo sem escorregar, jogar beisebol e futebol, criar cópias de si mesmo (técnica conhecida como A Força do Dragão) e primeiros-socorros, além de força e resistência física sobre-humanas.

Como constatado, Segata Sanshiro demonstra aptidão extrema nos esportes. Contudo, é notável que nosso herói os abomine. Reza a lenda que em uma ocasião ele abordou jovens que estavam se desviando do caminho correto da vida, isto é, jogar videogames, para ir jogar beisebol. Por sorte, ele os ensinou uma lição e os colocou novamente na linha. Outros relatos também incluem diversas aparições em clubes noturnos e, com seus golpes de judô, mostrou a seus frequentadores que há coisas mais importantes na vida, como jogar o Saturn, do que banalidades como o namoro e outros prazeres materiais. Há ainda aqueles que dizem que Segata Sanshiro e o Papai Noel são o mesmo indivíduo, mas tais boatos ainda têm pouco embasamento.



Apesar de parecer irredutível em sua jornada, Segata Sanshiro ainda conheceu o amor. Sakura Shinguji (de Sakura Wars) foi a única que conseguiu amolecer seu intransigente coração. No entanto, ele é um homem que ama a si mesmo, acredita em seus ideais e, portanto, supera sempre seus limites. É isso o que ele prega a todos com sua sabedoria ilimitada: dediquem sua vida aos games e joguem com paixão até seus dedos se quebrarem!

Todas as suas proezas, todavia, não se equiparam à maior delas, aquela que o fez transcender sua vida terrena, deixando sua existência física para se consolidar na história. Num belo dia, às vésperas do lançamento do Dreamcast, um míssil foi disparado contra a sede da Sega. Usando sua força descomunal, ele redirecionou o projétil para o espaço ao custo de sua própria vida, mas não antes de nos lembrar uma última vez o único caminho a ser seguido: “jogue o Sega Saturn”. Segata Sanshiro, desde então, passou a viver eternamente em nossos corações, jamais esquecido.


Por trás da Lenda

O personagem Segata Sanshiro foi uma jogada de marketing bem-bolada da divisão japonesa da Sega para promover o sucessor do Mega Drive, o recém-lançado Sega Saturn. O ator que dá vida ao personagem, Hiroshi Fujioka, ficou conhecido por assumir o manto do primeiro Kamen Rider, um Tokusatsu (como Jaspion ou Jiraya) bem popular no Japão e que hoje conta com uma série de sequências. Para o público gamer, ele também acaba sendo familiar por servir de voz original para Iwao Hazuki, pai de Ryo Hazuki, protagonista de Shenmue (Dreamcast).

Segata Sanshiro propriamente dito, por sua vez, acaba emprestando o nome de Sanshiro Sugata, o protagonista que dá nome ao próprio filme, cuja direção é do lendário cineasta japonês Akira Kurosawa. Além disso, o nome Segata Sanshiro também serve como um trocadilho para “Sega Saturn Shiro!”, que em português pode ser traduzido como “Jogue o Sega Saturn!”.

Não é incomum atribuir o sucesso do Saturn no Japão ao personagem em questão. Segundo uma reportagem do The New York Times na época, o Saturn vendeu cinco milhões de unidades em terras nipônicas, apenas, contra as duas milhões de unidades no mercado americano. Com o lançamento do Dreamcast, enquanto a Sega descontinuou o Saturn no ocidente, a sua divisão japonesa continuou oferecendo suporte por um tempo um pouco maior. A imagem do personagem também rendeu até mesmo um single com sua música tema, além de um videoclipe relacionado a ela.
A popular figura de Sanshiro também promoveu participações nos próprios games. Ele chegou a estrelar Segata Sanshirō Shinken Yūgi, uma coletânea de mini-games baseados nos comerciais que narraram seus feitos mencionados anteriormente, lançado, obviamente, para o Saturn. Além disso, ele fez uma participação especial no jogo Rent-a-Hero No. 1 (Xbox/Dreamcast), exclusivo para o Japão e remake do Rent-a-Hero original para Mega Drive. Sonic & All-Stars Racing Transformed (Multi), a segunda iteração do jogo de corrida protagonizado pela turma do Sonic e outros personagens da Sega, também conta com um cameo de Segata Sanshiro, em que ele aparece voando montado em um foguete, em referência à sua aparição final nos comerciais.

A mais recente da lista, no entanto, é sua participação em Project X Zone 2 (3DS), um RPG tático que serve de crossover entre Sega, Bandai Namco e Capcom. Essa foi sua primeira participação oficial em um jogo fora do Japão em que ele é um personagem jogável. Talvez, com a globalização, o personagem consiga ressurgir das cinzas e fazer novas participações ao ponto de se tornar conhecido dos jogadores ocidentais modernos. Project X Zone seguiu no caminho certo para que isso possa começar a acontecer. Seria bem interessante vê-lo em um Super Smash Bros, por exemplo.

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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