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Análise: Caveman Warriors (Multi) resgata o “pré-histórico” multiplayer local

Junte até três amigos para relembrar como as jogatinas locais também são bastante divertidas.



No final de década de 1990, era bastante comum minha turma de amigos sair do colégio no final da manhã e passar a tarde inteira brincando com o videogame na casa de um dos integrantes do grupo. Na época, os jogos “de dois” (aqueles que ofereciam modo multiplayer) eram os mais populares. Foram incontáveis horas se divertindo em Streets of Rage 2 ou Teenage Mutant Ninja Turtles IV: Turtles in Time.


Porém, o tempo foi passando e hoje basta ter uma conexão com a internet para dividir sua jogatina com pessoas de qualquer lugar do planeta. Se por um lado há a vantagem da praticidade, do outro existe o inconveniente de acabar com as experiências como essas de minha infância. Indo exatamente contra a tendência de apostar somente em conteúdo online, o estúdio JanduSoft lançou Caveman Warriors para PC, PlayStation 4, Xbox One e Switch.

Oferecendo multiplayer para até quatro jogadores, o título foi completamente desenvolvido de maneira a favorecer a aventura em grupo. Trazendo o mundo pré-histórico como cenário principal, a jornada lembra bastante Joe & Mac: Caveman Ninja, inclusive recriando alguns elementos que marcaram o clássico de 16-bits.
Convoque os amigos pré-históricos

Neandertais vs. Aliens

A história de Caveman Warriors começa quando alguns extraterrestres chegam a Terra e abduzem algumas crianças. Para evitar que os alienígenas realizem experimentos macabros com os pequenos, um grupo de homens e mulheres das cavernas parte para o resgate. A história não é nem um pouco original ou empolgante, servindo somente como motivação para os personagens iniciarem a jornada.

O game até tenta explorar seu enredo através de histórias em quadrinhos que aparecem entre as fases, porém em nenhum momento a trama surpreende ou se mostra relevante. O enredo não funciona nem para explorar melhor as personalidades dos quatro protagonistas, assim o que os diferencia, além do visual, são suas habilidades únicas.
Não toquem nas crianças!


Jack é o mais forte do time, conseguindo quebrar pedras no caminho e atirar sua machadinha. Já Liliana é capaz de atirar lanças que se fixam a algumas paredes e criam plataformas. Moe tem o pior ataque corpo a corpo, mas compensa usando um macaco que distrai os inimigos. Por fim, Brienne tem a capacidade de conjurar escudos.

O level design foi elaborado de maneira que determinados obstáculos só podem ser superados usando a ferramenta correta. Por exemplo, o grupo só consegue passar por paredes mais altas se Liliana usar sua lança, ou então, entrar em corredores cheios de lasers se forem protegidos por Brienne. Além de conseguir aproveitar bem as habilidades de cada protagonista, o desenho dos cenários torna a experiência cooperativa ainda mais profunda, afinal, você sempre vai depender de seu amigo para superar determinadas barreiras.

Se as habilidades especiais diferenciam os personagens, existem movimentos que são comuns a todos eles. O ataque corpo a corpo, um pulo médio e outro alto podem ser executados por qualquer um. No primeiro momento, achei meio inútil a presença de dois botões diferentes de saltos. Porém, com a jogatina se desenrolando, percebi que essa mecânica é extremamente útil, pois com o pulo médio é mais fácil de acertar inimigos que estão na plataforma acima, já o alto é ideal para pular sobre algum buraco.
Obrigado pelo escudo, Brienne!

Quero seguir sozinho

Apesar de o game ser quase que exclusivamente voltado ao multiplayer, também é possível se divertir sozinho. O jogo permite trocar de personagem a qualquer momento e sem precisar morrer — como é bastante comum em outros títulos que seguem o mesmo estilo. Porém, é um tanto quanto cansativo ter que ficar alternando entre os protagonistas de maneira seguida. Outro problema desta mecânica é que demora mais para o jogador dominar completamente as mecânicas e movimentos dos neandertais.

O nível de dificuldade do jogo também se eleva bastante quando a aventura é solitária. Além de ser menos complicado lidar com os vários inimigos na tela quando se está em grupo, o número de vidas disponíveis acaba sendo reduzido.
Sozinho contra o He-Man?

Outra característica que aumenta bastante o nível de desafio no single player é o retorno aos checkpoints. Quando a jogatina acontece em grupo, se um integrante morre, uma das vidas é descontada e ele volta imediatamente para o mesmo local onde está o restante do time. Porém, quando se está sozinho qualquer morte significa ser enviado para o último ponto de salvamento e ter que refazer o mesmo trecho da fase.

Além disso, ao perder as três vidas e receber o game over, ao invés de voltar ao checkpoint é preciso ter que passar toda a fase de novo. Isso se torna bastante desafiador no combate contra os chefões no final de cada nível. Perdi as contas de quantas vezes perdi para o boss e tive que passar a mesma fase mais de uma vez.

Uma “pré-história” em poucos capítulos

Caveman Warriors segue estilo arcade e, assim como Joe & Mac e Streets of Rage, pode facilmente ser finalizado em um único dia. A campanha curta pode ser ponto positivo caso o jogador divida a experiência com amigos que não têm muito tempo para estarem juntos. No entanto, caso a jornada pré-histórica aconteça na companhia de um irmão ou outro alguém que more na mesma casa, o jogo acaba deixando sabor de que poderia ser mais longo.
Poderiam ter mais fases como esta

As fases até apresentam alguns colecionáveis que precisam ser encontrados para liberarem níveis secretos. Porém, acabam não funcionando como elementos que justifiquem um fator replay — mesmo porque grande parte deles ficam atrás de paredes falsas no cenário e acaba sendo bem entediante ficar dando esbarrões em todos os muros para encontrar aqueles que guardam os colecionáveis.

Machados, lanças e... aviões?

Em quase que 100% das fases, a aventura se desenrola misturando o gênero plataforma com beat 'em up. Na maioria dos níveis, a arma de seu personagem será sua melhor amiga contra outros homens da caverna, dinossauros e robôs alienígenas. Para variar um pouco a jogatina, existem algumas fases que se baseiam em outras mecânicas, sendo que em uma delas é preciso controlar um carrinho controlado por um triceratops e em outra é necessário voar pelos céus a bordo de aviões. É uma pena que existam somente dois níveis que exploram dinâmicas diferentes.
Voa aviãozinho

Um mundo em movimento

Visualmente, Caveman Warriors parece bonito em uma primeira olhada, mas com o passar do tempo não é difícil notar alguns problemas. O tamanho dos sprites dos personagens e inimigos acaba ficando pequeno demais em alguns momentos em que a câmera se afasta da ação, além disso, os movimentos de todos na tela são um tanto quanto duros e mecânicos, indicando para certa deficiência na animação.

Em contrapartida, os cenários são todos bem trabalhados e com detalhes interessantes. Nas fases que se passam dentro das naves extraterrestres, por exemplo, é interessante observar as celas ao fundo e ver quem foram os outros terráqueos abduzidos pelos alienígenas. É até meio estranho comparar o capricho dos cenários com os pequenos problemas que afetam os protagonistas e inimigos.

Por mais multiplayers assim

Tendo sido planejado para oferecer a mesma experiência que tínhamos na época dos 16-bits, o game consegue cumprir com louvor o seu papel. Apesar de pequenas escorregadas no visual, os problemas existentes não conseguem arranhar a diversão e risadas que uma jogatina ao lado de amigos pode proporcionar. Para quem sente saudades do multiplayer local, Caveman Warriors é opção que merece destaque na lista de desejos.


Prós

  • Excelente experiência multiplayer local;
  • As habilidades únicas dos personagens são bem exploradas pelo level design;
  • Duração na medida certa para reunir os amigos e fechar a aventura em uma tarde.

Contras

  • Problemas na animação dos personagens e inimigos;
  • Enredo bastante raso;
  • Quem procura um jogo longo pode ficar desapontado com a quantidade de fases.
Caveman Warriors — PC / PS4 / XBO / Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: Switch

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
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