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Análise: Figment (PC) é uma charmosa aventura nos confins da mente

Enfrente traumas e pesadelos nesse título que mistura puzzle e ação.


Uma terra colorida e repleta de elementos fantásticos é o cenário de Figment, um título de aventura e puzzle para PC (e futuramente consoles). O visual lembra um desenho animado, porém a temática é outra: no controle da representação da coragem da mente, precisamos lutar contra pesadelos e traumas. É uma aventura que explora aspectos psicológicos da psique humana de maneira divertida e leve.

Encarnando a coragem

Dusty é a personificação da coragem da mente, porém o rapaz (ou a criatura, se preferir) é despreocupado e só quer saber de relaxar. Tudo muda quando um monstro rouba o álbum de fotos de Dusty: o herói supera a apatia e sai em uma jornada para derrotar a criatura. Ele é acompanhado pela tagarela Piper, uma passarinha que faz contrapeso à personalidade resmungona de Dusty. A dupla descobre que o monstro é na verdade um Pesadelo, que está espalhando o caos pela mente. A aventura é permeada por diálogos divertidos entre os heróis e os outros personagens do mundo.

Na essência, Figment é uma mistura de aventura, ação e puzzle. Em sua jornada, Dusty tem que resolver inúmeros problemas para prosseguir. Em um momento, por exemplo, precisamos manipular moinhos para dispersar uma fumaça tóxica que impede o avanço. Em outra situação, utilizamos baterias para ativar dispositivos e elevadores na ordem correta. Já em outra área, o objetivo é conduzir um trem por trilhos repletos de obstáculos. Cada região do jogo tem puzzles distintos e eles funcionam bem no contexto de cada local, mesmo não sendo excepcionalmente criativos.


A dificuldade está na medida certa, com alguns puzzles bem simples e outros moderadamente complicados, mas nada extremamente difícil. Por conta disso, achei a aventura bem agradável e acredito ser perfeita para jogadores mais jovens. O porém fica por conta de momentos repetitivos: em algumas áreas eu fiquei cansado de ficar carregando baterias pra lá e pra cá o tempo todo, ou então dando voltas e voltas fazendo a mesma tarefa.

Além dos enigmas, o jogo conta também com batalhas. Dusty ataca com uma espada e pode rolar para escapar de ataques, em encontros simples. Até achei esses combates divertidos, porém eles carecem de profundidade — na maior parte das vezes foi muito fácil derrotar os monstros. Contudo, a presença de batalhas é uma excelente maneira para quebrar o ritmo de exploração e resolução de puzzles. Um dos meus momentos favoritos em Figment foram as lutas contra os chefes. Esses encontros combinam muito bem puzzles e combate, resultando em momentos bem interessantes. Além disso, os chefes cantam uma música durante o confronto, o que tornam esses embates bem memoráveis.


Entre medos e traumas

As mecânicas de jogo de Figment funcionam bem, porém o que eu mais gostei no jogo foram sua ambientação e temática.

A representação da mente humana em Figment é bem inusitada e repleta de ambientes únicos. Na área criativa, aparecem flores em formatos de violino, maçãs que na verdade são casas, e moinhos movidos a insetos estranhos. Na vila central da mente, sentimentos moram em casas e gostam de se expressar sobre a situação atual. Em outro lugar, a mente “desistiu de pensar”, fazendo engrenagens e mecanismos pararem, trazendo o caos. O legal é que a trilha sonora é completamente integrada com o visual: gotas de chuva adicionam outra camada de melodia em cima da música principal, obstáculos caem no ritmo das composições, elementos do cenário produzem sons ao interagir com eles.


Lá no fundo, é uma história sobre como a mente reage às pressões da vida. Durante a jornada, essas questões são exploradas de maneira sutil e é necessária muita atenção para entender todas as referências. Os Pesadelos, que são os vilões do jogo, representam os maiores medos da mente desse humano: a fobia a aranhas, o medo da perda, o pavor a odores.

Me surpreendi principalmente em como Figment representa partes da psique. Na parte criativa e inconsciente tudo é bonito, colorido e feliz, mesmo com os problemas. Conforme nos aproximamos da área consciente da mente, o cenário reflete as preocupações cotidianas, como as pilhas de contas para pagar e as cascatas de café (uma referência ao trabalho da vida adulta), tudo permeado por “ondas de desespero”. Boa parte das coisas precisam ser inferidas, por mais que algumas dicas podem ser obtidas por meio de memórias de diferentes momentos da vida do humano, que estão escondidas em puzzles opcionais — para mim, isso foi um ótimo incentivo para encontrar esses colecionáveis extras.


Um ótimo passeio pela mente

Figment é uma aventura simpática e divertida. O jogo conta com bons puzzles, intercalados com momentos de combate simples, resultando em uma experiência agradável. O maior destaque é a ambientação: exploramos uma mente humana com traumas e problemas, sendo que a representação tem várias nuances interessantes. Em alguns momentos, pode ficar um pouco cansativo por conta da repetição de temas de alguns puzzles e por conta do combate muito simples. Tudo isso faz com que Figment seja um título criativo e carismático.

Prós

  • Temática interessante;
  • Belo visual e áudio;
  • Puzzles agradáveis.

Contras

  • Combate simples demais;
  • Alguns puzzles repetitivos.
Figment — PC — Nota: 8.0
Revisão: Diogo Mendes

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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