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Análise: SPACEPLAN (Multi) prova a importância de uma boa narrativa

Use batatas para explorar a vastidão do espaço neste game que tem no enredo seu ponto mais forte.



Existem diversos atributos que contam para o sucesso de um game. Geralmente, aqueles mais bem avaliados pela crítica e público são os que conseguem mesclar bons gráficos, jogabilidade, enredo, trilha sonora, entre outros. No entanto, essa não é a regra geral e há variados casos em que a obra se destaca por trabalhar muito bem apenas uma dessas características. Ao experimentar SPACEPLAN, me deparei com o típico exemplo de título capaz de conquistar o jogador com apenas uma característica marcante e com potencial de impressionar.


Desenvolvido por Jake Hollands e distribuído pela Devolver Digital, o jogo está disponível para PC, via Steam, e nos dispositivos móveis com sistema operacional Android ou iOS. Minha experiência foi com aparelho mobile e, nesta plataforma, funciona bem o estilo clicker, em que basta ficar pressionando algum botão na tela para que o game realize sozinho boa parte da ação. Já nos computadores, em que não é tão interessante assim ficar usando o mouse em um único ponto, também vale a pena dedicar certo tempinho ao título para acompanhar a história que transcorre ao melhor estilo sci-fi.

Batatas espaciais

Tudo começa quando acordamos na órbita de um planeta desconhecido, sem nenhuma noção de localização ou tempo. O único companheiro presente é um computador, que também está sem muitas informações precisas sobre o que ocorre. A maneira mais adequada de explorar o mundo inóspito é através de sondas e satélites lançados para analisar o terreno, afinal, não há nenhum dado indicando que a atmosfera é segura e se existe forma de vida inteligente por perto.
No início, não há quase nada na órbita do planeta desconhecido


O problema é que não existe muita energia disponível para desenvolver os aparatos tecnológicos necessários para a missão. O único dispositivo que tem alguma utilidade no início é um painel que capta os raios solares. Assim, cabe ao jogador ficar pressionando a tela para reunir a quantidade de energia suficiente e criar equipamentos que sejam capazes de estudar o planeta vermelho.

Como a energia mais potente que existe nas proximidades é a solar, nada melhor do que plantar batatas e usá-las como matéria-prima para satélite, sondas e foguetes. Por mais estranha que essa afirmação possa parecer, é exatamente isso que acontece em SPACEPLAN. A tecnologia da jornada espacial é baseada em tubérculos. E quanto mais avançado for o equipamento criado a partir do vegetal, maior será a quantidade de energia gerada em troca. Ou seja, conforme se vai avançando no game, itens mais complexos vão sendo desbloqueados e informações mais precisas para resolver o mistério do planeta desconhecido são coletadas.

Volte mais tarde

Minha primeira impressão com o game não foi das mais positivas. Após passar cerca de cinco minutos apenas pressionando a tela para coletar energia, a sensação era de que se tratava de um clicker totalmente desinteressante. Tanto que depois de um tempinho, acabei deixando o celular de lado e esqueci o jogo por alguns dias. A verdade era que não entendi o conceito do título logo de cara e o julguei de maneira equivocada.
Com o passar do tempo, vai ficando bem mais "poluído"

O objetivo de SPACEPLAN passa bem longe de ação frenética ou criar quebra-cabeças super elaborados. O game simplesmente traz uma narrativa com começo, meio e fim. O jogador tem papel ativo dentro da história, afinal, é papel dele elaborar a melhor estratégia para usar a energia coletada, criando os equipamentos mais úteis para cada situação.

O título traz ainda mecânica que incentiva o jogador a experimentá-lo aos poucos, fazendo descobertas periódicas. Em determinado momento, a quantidade de energia necessária para novas invenções é absurda, porém, é possível deixar o game trabalhando por você quando o aplicativo é fechado. Assim, ao voltar no dia seguinte, os aparelhos mais avançados estarão disponíveis e os estudos prosseguem em uma curva ascendente. Esse sistema é interessante por fugir do estilo pay to win ao mesmo tempo que consegue aumentar bastante a vida útil do jogo. Além disso, as explorações espaciais acontecem desta maneira. Não foi do dia para a noite que o homem desenvolveu o foguete e o mandou para a Lua.

Sons das estrelas

Na verdade, chega a ser um pouco de desprezo dizer que o ponto alto de SPACEPLAN está somente em seu enredo. Tão boa quanto a história é a trilha sonora, que consegue criar todo o clima de um filme de ficção científica. Não foram raros os momentos em que me peguei cantarolando enquanto decidia escolher entre criar um satélite de batatas ou melhorar o nível dos equipamentos que captam a luz solar. Os sons são tão viciantes que até vale a pena deixar o jogo ligado e a música tocando enquanto os tanques são preenchidos de energia.
Esse planeta é das batatas!

Turbulência cósmica

O maior deslize do game é a falta de controles variados. Ficar apenas apertando o botão e coletando por longos períodos fica cansativo. Até para evitar essa fadiga que existe a possibilidade de continuar coletando energia mesmo com o jogo fechado. Assim, é possível abrir o aplicativo, gastar o que foi reunido com os equipamentos adequados e dar uma olhada no computador e conferir se foram feitas novas descobertas sobre o planeta. Depois de tudo isso, fecha-se o game e o ciclo se reinicia. Se houvessem mecânicas um pouco mais trabalhadas, o tempo de atividade dentro do título seria bem maior.

Também é um ponto negativo o fator replay. Depois que toda a história for encerrada, não existem grandes atrativos que façam o jogador voltar a explorar SPACEPLAN. Finalizada a jornada, descoberto qual o planeta misterioso e qual foi o destino da população, minha única opção foi desinstalar o aplicativo para liberar um pouco de espaço no meu celular.
É uma jornada que não vale a pena ser repetida

Explorador espacial

A maior diferencial do game é oferecer ao mercado mobile algo diferente do que normalmente vem sendo lançado. Em um cenário em que aparecem, cada vez mais, joguinhos de endless runner ou puzzles ao estilo de Candy Crush, é bom encontrar um título que foge do lugar comum. Mesmo deixando o fator jogabilidade de lado e sendo pobre em variedade de controles, SPACEPLAN se destaca por conseguir entreter através de seu enredo e trilha sonora.

Prós

  • Enredo envolvente;
  • Trilha sonora muito bem desenvolvida e que combina perfeitamente com o game;
  • Novidade dentro de um mercado abarrotado de endless runner e puzzles.

Contras

  • Pouca variedade de comandos;
  • Depois de finalizado, não traz atrativos para uma nova jornada.
SPACEPLAN — PC / Android / iOS — Nota: 6.5
Plataforma utilizada para análise: Android
Revisão: Ana Krishna Peixoto

É jornalista e obcecado por games (não necessariamente nessa ordem). Seu vício começou com uma primeira dose de Super Mario World e, desde então, não consegue mais ficar muito tempo sem se aventurar em um bom jogo. Diretor de Redação do Nintendo Blast.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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